
- O banco reduziu suas projeções de crescimento do PIB para 1,9% em 2025 e 1,2% em 2026, apontando os riscos de uma recessão global
- O JPMorgan espera que o ciclo de alta da Selic termine em maio de 2025, com cortes começando em novembro
- Apesar da queda nas commodities e déficit em conta corrente, o setor agrícola brasileiro pode se beneficiar com a substituição de produtos americanos
O JPMorgan revisou suas projeções para a economia brasileira diante de um cenário global mais turbulento. A instituição financeira agora prevê uma recessão leve no Brasil no segundo semestre de 2025, consequência direta dos efeitos negativos de uma possível recessão global. Além das tensões comerciais e incertezas no mercado internacional.
As novas estimativas indicam crescimento do PIB de 1,9% em 2025 e 1,2% em 2026, abaixo das projeções anteriores de 2,2% e 1,5%, respectivamente.
A economista Cassiana Fernandez e sua equipe afirmam que a desaceleração dos EUA e as tensões comerciais globais forçam o Brasil a adotar uma postura mais cautelosa, mesmo com sua menor exposição às tarifas americanas.
No entanto, os impactos indiretos, como a retração no comércio global e queda nos preços das commodities, devem influenciar negativamente a atividade econômica brasileira.
Política monetária deve mudar rumo diante da desaceleração
Diante desse cenário, o JPMorgan prevê que o Banco Central do Brasil interromperá seu atual ciclo de aperto monetário em maio de 2025, com uma última elevação de 0,5 ponto percentual na taxa Selic.
A partir de novembro, a autoridade monetária deve iniciar cortes graduais nos juros, com expectativa de que a Selic atinja 9,75% até o final de 2026. A flexibilização da política monetária busca conter o impacto do choque externo e estimular a economia interna. Contudo, que pode sofrer os efeitos da recessão global projetada pelo banco com 60% de probabilidade.
Apesar da expectativa de desaceleração, o JPMorgan aponta que o espaço para estímulos fiscais permanece limitado, especialmente devido às metas fiscais e ao controle do déficit primário.
Ainda assim, o governo pode recorrer a medidas pontuais para sustentar a atividade econômica, embora com menos intensidade do que em ciclos anteriores de crise.
A desvalorização cambial prevista para os próximos trimestres pode gerar efeitos ambíguos: por um lado, pressiona os preços e limita a atuação do Banco Central; por outro, pode beneficiar o setor exportador, principalmente o agronegócio, ao tornar os produtos brasileiros mais competitivos no exterior.
Choque comercial pode favorecer exportações agrícolas?
Embora o impacto direto das tarifas dos EUA sobre o Brasil seja estimado em apenas 0,3% do PIB, os efeitos colaterais de uma guerra comercial mais ampla podem ser significativos.
A reconfiguração do comércio global pode abrir espaço para o Brasil ocupar mercados tradicionalmente dominados por exportadores americanos, sobretudo no setor agrícola. Isso poderia gerar ganhos em exportações, mesmo com uma queda no superávit comercial em função da baixa nos preços das commodities.
Por outro lado, o JPMorgan alerta que as contas externas devem piorar. O déficit em conta corrente deve aumentar e o governo pode enfrentar dificuldades adicionais para cumprir as metas fiscais.
A projeção de déficit primário para 2025 foi elevada para -0,8% do PIB, refletindo a menor arrecadação e a necessidade de eventuais medidas compensatórias.
Apesar dos desafios, a equipe do JPMorgan vê a economia brasileira como relativamente resiliente, desde que consiga ajustar sua política econômica de forma coordenada. A resposta à desaceleração global exigirá equilíbrio entre austeridade fiscal e estímulos pontuais, além de cautela na condução da política monetária.
O Brasil, segundo o banco, entrará em um ciclo de menor crescimento, mas pode evitar uma crise mais profunda caso adote as medidas corretas a tempo.