Pior resultado

Brasil tem pior saída de dólares desde 1982, superando pandemia

Com fuga líquida de US$ 8,3 bilhões, Brasil enfrenta pior resultado cambial para março desde o início da série histórica.

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  • Saída recorde: Brasil tem pior março da história, com fuga líquida de US$ 8,3 bilhões
  • Fuga financeira: Saída pela via financeira supera entrada comercial e agrava saldo
  • Pressão no câmbio: Acúmulo de saídas em 2025 pressiona real e afasta investidores

O Brasil registrou, em março de 2025, uma saída líquida de US$ 8,297 bilhões, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira (9).

O resultado marca o pior desempenho cambial para o mês de março desde o início da série histórica, em 1982, superando até mesmo os números negativos de março de 2020, quando o país enfrentava os impactos iniciais da pandemia de Covid-19 e registrou uma fuga líquida de US$ 6,6 bilhões.

O resultado de março é fruto, principalmente, do desequilíbrio no fluxo financeiro. Pela via financeira, houve uma saída de US$ 12,799 bilhões, enquanto o canal comercial (relacionado a exportações e importações) registrou uma entrada de US$ 4,512 bilhões.

Essa discrepância escancara a predominância do capital especulativo e de investimentos em ativos financeiros na atual dinâmica cambial do país, altamente sensível ao ambiente externo.

As incertezas no cenário internacional também desempenharam papel decisivo no agravamento do saldo cambial. Em março, o mercado operou sob a tensão crescente gerada pela expectativa de medidas protecionistas do governo dos Estados Unidos.

O então presidente Donald Trump havia prometido a aplicação de “tarifas recíprocas” para o início de abril. Dessa forma, o que alimentou o receio de uma nova rodada de guerras comerciais, afastando investidores estrangeiros de mercados emergentes, como o brasileiro.

Acúmulo de saídas em 2025 pressiona real

No acumulado de 2025 até o final de março, o fluxo cambial líquido também é negativo e atinge US$ 15,835 bilhões. Desse total, US$ 23,127 bilhões saíram pela via financeira, enquanto a via comercial compensou parcialmente com uma entrada de US$ 7,293 bilhões. A contínua retirada de capitais reforça um ambiente de cautela entre investidores estrangeiros e acende o sinal de alerta no mercado doméstico.

O fluxo financeiro inclui, entre outros, investimentos em portfólio, aplicações em renda fixa e variável. Além de remessas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras estabelecidas no Brasil para suas matrizes.

A forte saída registrada até março sinaliza uma possível deterioração da confiança externa no ambiente econômico brasileiro, que enfrenta incertezas fiscais e ruídos políticos.

Esse quadro tende a pressionar ainda mais a taxa de câmbio. Com menos dólares disponíveis no mercado doméstico, o real fica mais vulnerável a movimentos de desvalorização, o que pode impactar diretamente a inflação e os custos de financiamento internacional.

Economistas alertam que, mantida essa tendência, o Banco Central poderá ser forçado a atuar no mercado cambial com maior frequência, por meio da venda de reservas internacionais ou leilões de swap cambial.

Incertezas externas e desafios internos

O mês de março foi particularmente volátil nos mercados globais, com diversos fatores contribuindo para a fuga de capitais dos países emergentes. Além da ameaça de novas tarifas comerciais dos Estados Unidos, outros elementos como a indefinição sobre os juros norte-americanos, os conflitos geopolíticos no Oriente Médio e a instabilidade nos preços das commodities afetaram diretamente a percepção de risco internacional.

Internamente, o Brasil também não tem oferecido uma contranarrativa robusta. O governo ainda enfrenta desafios para aprovar medidas fiscais no Congresso e estabilizar as contas públicas, o que prejudica a previsibilidade do ambiente econômico.

Ao mesmo tempo, o crescimento econômico segue abaixo das expectativas, o que limita a atratividade do país como destino de investimentos produtivos.

Economistas reforçam que, diante de um cenário internacional mais instável, países com fundamentos fiscais frágeis e baixa confiança institucional se tornam os primeiros alvos de fuga de capitais.

Para reverter esse quadro, o Brasil precisaria demonstrar capacidade de articulação política e compromisso com reformas estruturantes. Além de apresentar uma estratégia de longo prazo para recuperação do crescimento e da estabilidade macroeconômica.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz
Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativ