
- A montadora chinesa apresentou três pedidos ao governo para cortar de 35% para 10% a tarifa de importação de kits de montagem (CKD e SKD) de veículos elétricos e híbridos
- Os pedidos abrangem veículos semidesmontados com foco em eficiência energética e autonomia, incluindo a picape Shark, recém-lançada no Brasil
- A Anfavea se posicionou contra os pedidos, temendo prejuízos à indústria nacional
A BYD, gigante chinesa dos veículos eletrificados, movimenta os bastidores do setor automotivo brasileiro ao solicitar a redução das tarifas de importação para veículos parcialmente desmontados.
Os pedidos, encaminhados ao governo federal entre fevereiro e março deste ano, reacenderam a disputa entre montadoras estrangeiras e nacionais sobre os rumos da política industrial brasileira para veículos híbridos e elétricos.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a BYD quer que a tarifa de importação caia dos atuais 35% para 10% em três casos distintos. As propostas estão em consulta pública e ainda passarão por análise técnica da Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Pedidos da BYD incluem automóveis híbridos
A primeira solicitação da BYD, registrada em 25 de fevereiro, envolve a importação de automóveis semidesmontados com consumo energético inferior a 0,66 megajoule por quilômetro. Trata-se, portanto, de veículos extremamente eficientes do ponto de vista energético. Assim, como carros 100% elétricos ou híbridos de alto desempenho.
No mesmo dia, a empresa também solicitou a redução de imposto para outro tipo de automóvel parcialmente desmontado. Desta vez com autonomia mínima de 250 quilômetros, enquadrando-se no perfil dos híbridos do tipo plug-in (PBEV). Esses dois pedidos estão abertos para consulta pública até o próximo dia 11 de abril.
Já o terceiro pleito, apresentado em 17 de março, envolve uma picape híbrida plug-in, também semidesmontada. Com cabine dupla e capacidade de carga inferior a cinco toneladas.
Essa solicitação permanece em consulta até 1º de maio. O modelo em questão pode ser a Shark, lançada pela BYD no final de 2024 no Brasil, reforçando a estratégia da marca de ampliar sua presença com veículos adaptados ao gosto e à demanda do consumidor brasileiro.
Anfavea reage e pede cautela ao governo
As movimentações da BYD não passaram despercebidas pela Anfavea, associação que representa as montadoras com fábricas instaladas no Brasil. Na terça-feira (8), a entidade se posicionou contra a aprovação dos pedidos de redução de imposto para CKDs e SKDs feitos por grupos chineses. Mesmo que sem citar nomes.
A entidade argumenta que a concessão do benefício tributário pode comprometer a competitividade da indústria automotiva instalada no país. Contudo, que realiza operações completas de montagem, com maior agregação de valor e geração de empregos diretos.
Segundo a Anfavea, o incentivo às montagens parciais poderia enfraquecer a cadeia produtiva nacional e desestimular novos investimentos em fábricas completas.
Em resposta à Reuters, o MDIC confirmou que os três pedidos da BYD estão sendo conduzidos com transparência, por meio das consultas públicas previstas em lei. O governo deve aguardar a manifestação da sociedade civil, do setor produtivo e de outros órgãos técnicos antes de tomar qualquer decisão final.
Governo avalia impacto e futuro da eletromobilidade
Os pedidos da BYD se inserem em um momento estratégico, no qual o Brasil busca equilibrar o avanço da eletromobilidade com a preservação da indústria local.
A empresa já anunciou um plano ambicioso de expansão no país, incluindo a construção de um complexo industrial na Bahia. Ainda, com produção local de veículos e baterias.
A eventual aprovação da redução tarifária pode impulsionar ainda mais a presença da montadora chinesa no Brasil. Assim, ao permitir preços mais competitivos e acelerar a transição para veículos com menor emissão de poluentes.
Por outro lado, o governo enfrenta o desafio de evitar distorções no mercado que possam prejudicar fabricantes que já operam com produção completa no território nacional.
Se aprovada, a redução de imposto pode representar um divisor de águas na forma como o Brasil trata os veículos eletrificados montados parcialmente fora do país.
Para a Camex, que analisará os pedidos após o encerramento das consultas públicas, a decisão exigirá um equilíbrio entre atratividade para novos players e proteção à indústria nacional. A disputa promete esquentar nos próximos meses.