Polêmica dos carros

BYD já emprestou 30 veículos ao governo: Oportunidade ou interesse?

A fabricante chinesa de veículos BYD empresta carros ao Governo, gerando debate sobre legalidade e ética dos contratos.

Seal - BYD
Seal - BYD
  • A montadora chinesa BYD firmou contratos de comodato com o governo brasileiro, emprestando carros elétricos para a Presidência, o STJ, o TCU e a Câmara, sem custos para os órgãos
  • Especialistas levantam questões sobre a ética desses empréstimos, apontando que podem criar uma sensação de favorecimento à empresa chinesa, o que geraria possíveis conflitos de interesse
  • O valor total dos carros emprestados ultrapassa R$ 9 milhões, com modelos de luxo como o BYD Seal e BYD Tan, cedidos ao governo por períodos de 1 a 2 anos

A montadora chinesa BYD, que avança na construção de sua primeira fábrica no Brasil, tem se tornado cada vez mais presente no cenário político e governamental brasileiro.

A empresa, reconhecida mundialmente por seus modelos de veículos elétricos, firmou contratos de comodato com diversos órgãos públicos, incluindo a Presidência da República, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Câmara dos Deputados.

Por meio desses contratos, a BYD cedeu veículos elétricos para o uso dos representantes desses órgãos. Dessa forma, com o objetivo de promover e testar a nova tecnologia no país.

Como funciona o empréstimo?

Os contratos firmados com o governo federal e os tribunais superiores seguem o modelo de comodato, ou seja, o empréstimo gratuito dos veículos sem custos para as entidades públicas.

A BYD emprestou um total de 31 carros elétricos, sendo 20 para o STJ, 9 para o TCU, 1 para a Presidência e 1 para a Câmara dos Deputados. O modelo de carro emprestado é o BYD Seal, avaliado em aproximadamente R$ 299.800 cada. Exceto para o modelo cedido à Presidência, o BYD Tan, que tem um valor de mercado superior a R$ 529.000.

Esses contratos têm prazos que variam entre 1 e 2 anos, sendo o uso dos veículos uma forma de teste. E, ainda, de integração de tecnologias mais sustentáveis no setor público. A presidência da República e outros órgãos receberão os carros em regime de comodato sem nenhuma obrigação financeira envolvida.

Polêmica e questões legais

No entanto, a crescente presença da BYD nos contratos com os Três Poderes gerou preocupações sobre a legalidade e ética desses acordos. O advogado André Marsiglia, em sua análise, alerta que a prática de emprestar carros de alto valor pode configurar um favorecimento indireto. Dessa forma, criando uma “atmosfera de que os órgãos devem um favor à empresa chinesa”.

A Lei 12.813/2013 e o Código de Ética da Magistratura proíbem agentes públicos de receber presentes ou favores que possam comprometer sua imparcialidade. Especialmente, em decisões judiciais.

Marsiglia acredita que, apesar dos chamamentos públicos, a concessão de carros de luxo pela BYD pode exercer uma influência indevida sobre o processo decisório no Brasil.

O impacto nos órgãos públicos

Os veículos fornecidos à Presidência, ao STJ e ao TCU têm um valor significativo, somando cerca de R$ 9,5 milhões em carros emprestados. O TCU, por exemplo, recebeu 9 carros do modelo Seal, totalizando R$ 2,7 milhões. Enquanto, o STJ recebeu 20 carros, com valor estimado de R$ 6 milhões.

Esses contratos geram preocupações sobre o impacto de grandes montadoras, como a BYD, na imparcialidade das decisões dos órgãos públicos.

No STJ, os carros emprestados ainda não foram entregues, mas a previsão é que isso ocorra em fevereiro de 2025. No caso do TCU, os carros já foram recebidos e estão à disposição dos ministros. Assim, sendo que o contrato tem validade de 2,5 anos.

Para o Poder Executivo, o modelo Tan ficou disponível por um ano para o uso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa Janja, que já utilizaram o carro em diversos compromissos oficiais.

O que esperar dos próximos passos?

Embora os contratos de comodato com a BYD sigam a legislação, a crescente presença da montadora no cenário político levanta dúvidas sobre o futuro dessas parcerias.

A crítica de que os veículos possam ser vistos como “presentes disfarçados” destaca a necessidade de um debate mais profundo sobre a transparência e a ética desses acordos.

Com o avanço da presença de montadoras de veículos elétricos no Brasil, surgem também reflexões sobre o papel do governo. Em adotar, portanto, tecnologias sustentáveis sem comprometer a imparcialidade de suas decisões.

Enquanto a BYD se fortalece no mercado brasileiro e contribui para a transição energética, será essencial garantir que tais parcerias sejam conduzidas de forma transparente. E, dessa forma, sem gerar conflitos de interesse.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz
Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativ