- A Cielo (CIEL3) se despede da B3 após 15 anos, encerrando sua trajetória na Bolsa em meio a uma nova queda em sua participação de mercado
- Essa saída, contudo, intensifica o desafio enfrentado pelos bancos controladores da empresa
- Estes, Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3), que terão de lidar com a reestruturação da Cielo fora do ambiente de listagem
- A expectativa é que, fora da B3, a Cielo ganhe flexibilidade para ajustar sua estratégia e reverter a perda de mercado
A Cielo (CIEL3) se despede da B3 após 15 anos, encerrando sua trajetória na Bolsa em meio a uma nova queda em sua participação de mercado. Essa saída intensifica o desafio enfrentado pelos bancos controladores da empresa. Estes, Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3), que terão de lidar com a reestruturação da Cielo fora do ambiente de listagem. A expectativa é que, fora da B3, a Cielo ganhe flexibilidade para ajustar sua estratégia e reverter a perda de mercado. Isto, além de impulsionar os esforços dos bancos para atrair pequenas e médias empresas (PMEs).
No dia 14 de agosto, Bradesco e Banco do Brasil realizaram o leilão da oferta pública de aquisição (OPA) para a deslistagem da Cielo na B3. Com a compra de 736,9 milhões de ações, a operação, no entanto, movimentou R$ 4,3 bilhões. E, assim, superou o quórum necessário para solicitar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a conversão do registro.
Dessa forma, viabilizando o fechamento de capital da companhia. A medida visa permitir que a Cielo ajuste sua abordagem em um mercado onde a oferta integrada. Esta, que inclui contas bancárias dentro das maquininhas, tornou-se mais competitiva do que apenas preços baixos.
Movimento
Esse movimento, no entanto, segue o exemplo de empresas como Stone e PagBank, que expandiram suas ofertas bancárias após consolidarem sua presença no segmento de maquininhas, e da Rede, que deixou a Bolsa em 2012 e tomou a liderança de mercado da Cielo no ano passado ao integrar suas operações com pequenas e médias empresas do Itaú Unibanco.
No segundo trimestre deste ano, a participação de mercado da Cielo caiu para 19,9%, uma redução em relação aos 22,3% registrados no mesmo período do ano passado. A rival Rede, por sua vez, manteve a liderança com 22,8%, apesar de enfrentar competição crescente de rivais como Getnet e Stone. O PagBank ainda não divulgou seus números para o segundo trimestre.
“Não é segredo que a Cielo tem sofrido para proteger sua fatia de mercado no segmento de pequenas e médias empresas, que é o mais rentável”, afirmou o analista Eduardo Rosman, do BTG Pactual.
“Apesar de ter expandido sua força de trabalho, o desempenho da companhia tem sido abaixo do esperado.”
Espaço no mercado
Quando a Cielo chegou à Bolsa em 2009, dividia o mercado com a Rede (então Redecard), com cada uma processando apenas cartões de sua bandeira específica. A partir de 2010, o Banco Central quebrou o duopólio, permitindo o processamento de múltiplas bandeiras. Com a entrada de novos concorrentes como PagSeguro (hoje PagBank), Getnet e Stone, a participação de mercado das líderes começou a cair.
Para manter sua posição, Cielo e Rede reduziram preços. Mas, a Cielo foi uma das primeiras a desistir dessa estratégia após a pandemia de covid-19 em 2021. Isto, quando a alta dos juros tornou a guerra de preços insustentável. Como resultado, a margem Ebitda da Cielo caiu de 67,6% em 2009 para 29,3% no segundo trimestre deste ano.
Apesar de uma recuperação em 2022 e alta nas cotações da Bolsa, a Cielo perdeu terreno com o avanço das ofertas integradas de maquininha e banco pelos concorrentes. Isto, como a Rede, que assumiu a liderança de mercado. Analistas, no entanto, apontam que a Cielo listada não conseguiria se integrar bem aos bancos controladores. A mudança na presidência do Bradesco no início do ano, com Marcelo Noronha assumindo o cargo e alinhando-se com Tarciana Medeiros, do Banco do Brasil, resultou na decisão de tirar a empresa da B3 e manter a sociedade.
Foco
O foco da Cielo está agora nas pequenas e médias empresas, um segmento estratégico para o futuro da companhia. A empresa reforçou sua equipe comercial para atender a esse mercado, que é crucial tanto para a gestão do caixa quanto para o crédito das pequenas empresas. Assim, representando uma oportunidade rentável para os bancos controladores.
“Nós esperamos entrar em dinâmica melhor para Cielo e para os dois bancos”, disse Noronha na semana passada. No Bradesco, a retomada do crédito para as PMEs tem acontecido gradualmente, e a Cielo é vista como uma ferramenta importante.
“Com o leilão da Cielo, nós teremos uma oferta de maior valor para as micro, pequenas e médias empresas”, afirmou o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB, Geovanne Tobias.
O leilão da oferta pública de aquisição da Cielo resultou na compra de 736.857.044 ações ordinárias, representando 27,1% do capital social da empresa, ao preço de R$ 5,82 por ação, totalizando R$ 4,29 bilhões. A liquidação ocorrerá em 16 de agosto, e as ofertantes passarão a controlar 93,4% do capital social da Cielo. Desde 15 de agosto, as ações da Cielo foram transferidas do Novo Mercado para o segmento “Básico” da B3. Os acionistas que não venderam suas ações durante o leilão ainda poderão negociá-las na B3 até 14 de novembro de 2024.