Economia da Argentina

Com empréstimo de US$ 20 bi do FMI, Argentina removerá controle cambial

O dinheiro, que precisa ser aprovada em votação relâmpago nesta sexta, pode ser a carta na manga de Milei pra driblar a crise e botar a economia nos trilhos.

Com empréstimo de US$ 20 bi do FMI, Argentina removerá controle cambial

A Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram a um acordo crucial, marcando um passo importante para a liberação de um novo empréstimo bilionário para o país. O anúncio foi feito pelo próprio FMI na terça-feira (8), pegando muitos de surpresa e gerando expectativa nos mercados.

Apesar do FMI não ter divulgado muitos detalhes de imediato, como o valor exato que a Argentina receberá de entrada ou como o presidente Javier Milei pretende lidar com os controles cambiais, já se sabe que o pacote é robusto: US$ 20 bilhões! Esse será o terceiro programa da Argentina com o FMI desde 2018, numa saga que parece não ter fim.

A votação final sobre o acordo está marcada para esta sexta-feira, e será realizada pelos membros do conselho executivo do FMI, lá em Washington. A expectativa é alta, já que a aprovação desse acordo pode injetar um respiro financeiro importantíssimo para a Argentina.

Se o sinal verde for dado, o acordo de 48 meses deve fornecer ao governo argentino dinheiro fresco para fortalecer o peso e começar a relaxar os controles de moeda e capital. Essa grana inicial pode dar um fôlego para Milei colocar em prática suas medidas econômicas, incluindo a promessa de eliminar os controles cambiais até o final do ano – um prazo ambicioso, mas que ele mesmo estabeleceu.

O plano oficial do governo argentino é usar o dinheiro do FMI para quitar dívidas que o Tesouro Nacional tem com o Banco Central. Parte da grana também será usada para pagar as parcelas do empréstimo anterior com o FMI, aquele de 2022, que se estende pelos próximos quatro anos.

Fontes ligadas às negociações de Milei indicam que o governo quer receber pelo menos 40% do programa adiantado, o que daria cerca de US$ 8 bilhões já no primeiro momento. Esse primeiro desembolso é visto como crucial pelos investidores, que estão de olho em cada movimento.

O conselho do FMI já realizou reuniões informais para discutir os detalhes do empréstimo, inclusive o valor dessa primeira parcela. O chamado “Extended Fund Facility” (algo como “Linha de Crédito Estendida”, em português) é visto como um passo fundamental para reintegrar a Argentina aos mercados de capitais internacionais, depois do calote histórico de 2020, quando a pandemia piorou ainda mais a crise econômica que o país já enfrentava.

Além disso, fechar esse acordo com o FMI pode ser visto como uma vitória política para Milei, já que valida sua estratégia de se alinhar com os Estados Unidos, o maior acionista do Fundo. Essa aproximação com os EUA, inclusive com figuras como Donald Trump, tem sido uma marca do governo Milei.

Nem tudo são flores

Esse novo acordo marca o 23º programa do FMI para a Argentina, em uma relação histórica bem turbulenta. Os dois programas anteriores não conseguiram estabilizar o país, e a Argentina já passou por diversas crises, incluindo o colapso econômico de 2001, quando o FMI cortou o apoio financeiro em meio a uma grave crise, o que gerou protestos violentos e pânico generalizado.

Mesmo com o FMI elogiando os cortes de gastos promovidos pelo governo Milei, que ajudaram a conter os déficits crônicos, as negociações para esse novo acordo foram tensas. O próprio Milei chegou a criticar publicamente um diretor do FMI, Rodrigo Valdes, que se afastou das negociações no ano passado.

Um dos pontos de discórdia nas negociações foi a questão dos controles monetários na Argentina. O governo Milei tem mantido a taxa de câmbio controlada, uma medida que ajuda a reduzir a inflação e manter a popularidade do presidente em alta. No entanto, essa política também está consumindo as reservas internacionais do país, que já não são lá essas coisas.

O FMI tem pressionado o governo argentino a flexibilizar esses controles o quanto antes. Investidores também alertam que manter os controles cambiais por muito tempo pode levar a uma desvalorização abrupta da moeda, já que o mercado considera o peso argentino “artificialmente forte”.

Apesar das críticas, Milei e seu ministro da Economia, Luis Caputo, que liderou as negociações com o FMI, rejeitam a ideia de que o peso esteja sobrevalorizado. Em meio às negociações, Milei chegou a reforçar sua aproximação com Trump, viajando para os EUA na esperança de se encontrar com o ex-presidente, mas voltou de mãos vazias.

Enquanto isso, um enviado especial de Trump para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, pressionou publicamente Milei a abandonar a linha de swap cambial de US$ 18 bilhões que a Argentina tem com a China, sua principal fonte de reservas internacionais. O governo chinês, por sua vez, rebateu as acusações, acusando os EUA de tentar criar um muro entre Pequim e a América Latina.

A novela Argentina-FMI ainda deve ter próximos capítulos, mas, por enquanto, o acordo bilionário representa um alívio para o governo Milei e uma esperança de que o país consiga, finalmente, virar a página da crise.

Fernando Américo
Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol