
- Juros sobem para o maior nível desde 2006
- Inflação elevada pressiona decisão do BC
- Especialistas projetam mais aumentos em 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve anunciar nesta quarta-feira (19) um novo aumento na taxa Selic, elevando-a em 1 ponto percentual.
Com isso, a taxa básica de juros da economia brasileira passará de 13,25% para 14,25% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006. Essa é a quinta alta consecutiva desde setembro do ano passado e a segunda decisão sob a presidência de Gabriel Galípolo, que assumiu o cargo no início de 2024.
Conter a inflação
A principal função da Selic é controlar a inflação. O aumento dos juros encarece o crédito, reduz o consumo e desacelera a produção, contribuindo para frear o avanço dos preços.
A decisão ocorre em meio a um cenário inflacionário preocupante: em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 1,31%, o maior percentual para o mês desde 2003.
Apesar da recente valorização do real frente ao dólar, que fechou em R$ 5,74 na última sexta-feira (14), especialistas apontam que a pressão inflacionária ainda exige medidas rigorosas por parte do Banco Central.
“O câmbio mais baixo ajuda a aliviar os preços, mas o BC deve continuar o ciclo de alta dos juros para atingir a meta de inflação de 3%”, avalia Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Perspectivas para os próximos meses
A equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, prevê novas elevações da Selic ao longo do ano.
“Acreditamos que o Banco Central fará mais duas altas além da prevista para esta semana, levando a taxa para 15% até o meio do ano. Esse patamar deve se manter até o fim de 2026”, afirma Salles.
Outros analistas divergem sobre a necessidade de um ciclo prolongado de aumentos. Economistas da XP Investimentos consideram que, caso a desaceleração econômica se intensifique, o Copom pode interromper a alta dos juros antes do esperado.
“Nossa projeção é que a Selic alcance 15,50% após aumentos graduais nas próximas reuniões”, destaca a instituição em relatório.
Impacto na economia
Embora a política monetária mais rígida ajude a conter a inflação, seus efeitos colaterais preocupam setores da economia. Juros elevados tornam o crédito mais caro para empresas e consumidores, desestimulando investimentos e o consumo. Isso pode resultar em um crescimento econômico mais lento, um dos fatores que o Banco Central precisa monitorar com atenção.
O Bradesco e o Sicredi acompanham essa análise e estimam que a Selic se manterá em 14,25% por um período prolongado.
“A valorização do câmbio e a queda nos preços das commodities devem contribuir para previsões menores de inflação no médio prazo, mas o BC deve seguir ajustando sua política conforme os dados econômicos forem divulgados”, destaca o Bradesco em nota.
Decisão afeta investimentos e mercado financeiro
Com os juros em alta, aplicações de renda fixa, como o Tesouro Direto e CDBs, se tornam mais atrativas, enquanto a bolsa de valores pode sofrer com a fuga de investidores para opções mais seguras. Para o mercado de crédito, a tendência é de restrição, tornando o financiamento de projetos e o consumo de bens duráveis mais desafiadores.
O resultado da reunião do Copom será fundamental para definir os próximos passos da política econômica brasileira. Com um cenário ainda incerto, investidores e analistas aguardam as próximas decisões do Banco Central para avaliar os rumos da economia em 2024.