Governo Milei

Com reformas, Milei se torna queridinho dos bancos americanos

Bancos gringos, como o J.P. Morgan, estão de olho e elogiando as reformas de Javier Milei na Argentina. A promessa é atrair grana, mas a desconfiança dos investidores e o fantasma do peronismo ainda pairam no ar.

javier milei
javier milei

Parece que o presidente argentino Javier Milei está conquistando corações (e talvez carteiras) em Wall Street. O gigante bancário J.P. Morgan soltou uma análise elogiando bastante as recentes medidas anunciadas pelo governo Milei, dizendo que elas foram até além do esperado e representam um avanço estrutural importante para a economia argentina. O banco curtiu principalmente a profundidade das mudanças nas áreas fiscal (impostos e gastos do governo) e cambial (regras para o dólar), acreditando que isso pode favorecer o investimento, o crescimento e ajudar a baixar a inflação no médio e longo prazo.

Mas, calma lá. Apesar do otimismo, o próprio J.P. Morgan avisa: a fragilidade financeira do país ainda existe. Para a coisa dar certo mesmo, será crucial que as reformas continuem firmes e que haja estabilidade política.

Enquanto tenta arrumar a economia, Milei também aposta em gestos simbólicos fortes. Ele está numa missão clara de apagar marcas do peronismo (movimento político tradicional e muito influente na Argentina) para sinalizar uma nova era e atrair investimentos. Imagens de Eva Perón foram retiradas de prédios públicos, estátuas de Néstor Kirchner (ex-presidente e marido de Cristina Kirchner) sumiram do Senado e da previdência social, e até o nome “Kirchner” foi arrancado da fachada de um prédio histórico em Buenos Aires.

Contudo, arrancar símbolos parece ser mais fácil do que desmontar a complexa teia de burocracia herdada. Apesar das promessas de dolarizar a economia e fechar o banco central, um complicado sistema de controle de câmbio e de capitais (o famoso “cepo”) continua afastando muitos investidores. A expectativa é que isso comece a mudar.

Os números ainda não empolgam: no primeiro ano completo de Milei, a Argentina atraiu menos de US$ 1 bilhão em investimentos estrangeiros diretos. É um valor parecido com o do governo anterior (peronista) durante a pandemia e bem menos que os US$ 3 bilhões que Mauricio Macri (outro presidente que tentou reformas pró-mercado) conseguiu inicialmente.

Os investidores internacionais estão de olho, mas, como disse Mariana Gallo, gerente da PepsiCo na Argentina, “continuam na posição de esperar para ver”. Se o governo conseguir mostrar, na prática, que as regras e os impostos melhoraram, “os investimentos virão”, acredita ela.

Um dos grandes nós é justamente o “cepo”, criado durante o governo de Cristina Kirchner, que impedia empresas de mandar lucros para suas matrizes fora do país. O governo Milei anunciou que as empresas poderão voltar a enviar pagamentos ao exterior a partir deste ano, mas os lucros acumulados de anos anteriores ainda ficam presos pelas regras antigas. O banco Morgan Stanley estima que, sem essas travas, a Argentina poderia atrair US$ 2,5 bilhões só em 2025. O risco, porém, é que a liberação total cause uma corrida para tirar o dinheiro retido do país, o que poderia bagunçar o câmbio e atrapalhar o controle da inflação.

O grande teste para a confiança dos investidores será a eleição de meio de mandato, em outubro. Ela vai mostrar se a população apoia a agenda de austeridade de Milei ou se prefere voltar às políticas peronistas. Uma vitória de Milei poderia dar mais força para aprovar reformas mais profundas.

A história recente assombra: Macri também tentou reformas em 2015, mas acabou voltando atrás com controles cambiais. Cristina Kirchner voltou ao poder como vice em 2019, endurecendo ainda mais as regras. “Com Milei existe esperança, mas ninguém está disposto a investir na produção hoje“, afirma Pablo Tamburo, CEO da exportadora Argensun, que viu um cliente espanhol desistir de um investimento de US$ 5 milhões. A dúvida que fica é: “Será que outro governo virá e fará um giro de 180 graus no país mais uma vez?”

Enquanto isso, Cristina Kirchner continua sendo uma figura poderosa e sua popularidade até subiu recentemente. Analistas alertam para não dar o peronismo como morto. “Se eu tivesse de apostar alguma coisa em relação ao futuro da Argentina, apostaria em outra rodada de instabilidade“, diz Steven Levitsky, professor de Harvard.

É verdade que o governo Milei recebeu sinalizações de US$ 12 bilhões em investimentos (principalmente em petróleo, gás e lítio) através de um programa especial com benefícios. Mas, por enquanto, a maioria das empresas interessadas é argentina. Ao mesmo tempo, gigantes como HSBC, Procter & Gamble e Exxon Mobil venderam suas operações ou deixaram o país em 2024. A pergunta que fica, como diz o investidor Diego Ferro, é: com tanta mudança fácil, “quão certos estamos de que a mudança é definitiva?”

Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol
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