Alta nas simulações

Consignado CLT "de Lula" tem juros maiores que empréstimo comum

Embora governo anuncie taxas de 2,5% ao mês, simulações apontam custo efetivo de até 6% no novo programa voltado ao setor privado.

creditos fiscais
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  • Simulações no app mostram taxas de até 6% ao mês, acima dos 2,5% anunciados pelo governo
  • Governo atribui juros altos à fase inicial e à baixa concorrência entre bancos
  • Com mais adesão bancária, crédito deve se aproximar da média de 2,91% ao mês

O novo programa Crédito do Trabalhador, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrenta uma onda de críticas nas redes sociais após usuários realizarem simulações no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital e se depararem com taxas bem acima das prometidas.

Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha afirmado que bancos públicos oferecem crédito com juros de 2,5% ao mês, usuários relatam que o custo efetivo total pode se aproximar de 6% mensais, bem acima da média registrada pelo Banco Central para crédito consignado no setor privado.

Segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira (9), a taxa média de juros cobrada nas operações de crédito consignado para trabalhadores do setor privado foi de 2,91% ao mês em fevereiro de 2025.

Essa taxa não supera os 3% mensais desde novembro de 2022. Ou seja, os valores simulados no programa federal ficaram acima da média praticada no mercado para essa categoria, mesmo com o discurso de que o novo programa traria condições mais vantajosas.

O aplicativo oficial do governo, onde o trabalhador realiza a simulação, apresenta uma taxa de referência, mas não corresponde à oferta real dos bancos. Após preencher o valor desejado e o número de parcelas, o usuário precisa aguardar até 24 horas para receber propostas efetivas e só pode fazer uma solicitação por vez, o que gera frustração e alimenta as críticas.

Governo defende fase de testes

O governo admite que os juros ainda estão elevados em relação ao esperado. Mas, atribui a distorção à fase inicial de testes e à baixa adesão de instituições financeiras ao programa.

A equipe econômica acredita que, com o tempo, a consolidação do Crédito do Trabalhador trará mais competitividade entre os bancos e forçará a redução das taxas. Segundo o Ministério da Fazenda, quanto mais trabalhadores solicitarem crédito por meio do sistema, mais atraente o programa se tornará para o mercado financeiro.

Outro ponto importante, na visão do governo, é que o novo modelo permite uma avaliação de risco mais sofisticada. Os bancos podem analisar não apenas o histórico do trabalhador, mas também a situação da empresa contratante.

Dessa forma, verificando aspectos como a regularidade com obrigações sociais e a rotatividade dos funcionários. Isso cria um ambiente mais seguro para o crédito e tende a atrair mais instituições no futuro.

Além disso, há uma discussão sobre qual seria a melhor comparação para analisar as taxas praticadas. Enquanto o consignado tradicional para servidores públicos e aposentados do INSS opera com juros médios de 1,82% e 1,75% ao mês, respectivamente, o crédito pessoal não consignado tem taxa média de 5,93% ao mês.

Assim, segundo analistas do governo, comparar o Crédito do Trabalhador com essa última categoria pode ser mais adequado, pelo nível de risco envolvido.

Expansão do programa depende de adesão bancária

A principal aposta do governo é que, com o tempo, o Crédito do Trabalhador se aproxime das taxas já praticadas no consignado privado tradicional. Para isso, será fundamental a entrada de mais bancos no programa e o aumento no número de operações realizadas, o que ajudará a diluir riscos e reduzir custos.

A presença de bancos privados de médio e grande porte deve impulsionar a concorrência. E, assim, beneficiar o tomador final com juros mais acessíveis.

O sucesso do programa também depende da confiança do trabalhador. A insatisfação com as simulações iniciais pode desestimular o uso da plataforma. Dessa forma, comprometendo o objetivo de ampliar o acesso ao crédito com taxas mais justas para quem trabalha no setor privado.

Hoje, a oferta de crédito consignado ainda é restrita a empresas com folhas de pagamento bem estruturadas e com menor risco de inadimplência.

A expectativa da equipe econômica é que, com o avanço da tecnologia e a integração de mais dados no sistema, o programa ofereça uma alternativa real de crédito barato e seguro. Assim, complementando o já consolidado consignado para aposentados e servidores.

Por enquanto, no entanto, o cenário indica que o Crédito do Trabalhador ainda precisa de ajustes para cumprir a promessa de democratizar o acesso ao crédito com juros baixos.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz
Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativ