
- O TCU identificou que as regras e alterações beneficiaram Bram e Starnav em todas as etapas.
- A Bram venceu na nova rodada após ser eliminada na primeira, com ajuda de ajustes no sistema.
- Petrobras respondeu aos questionamentos, mas o caso segue em análise e pode ter desdobramentos.
O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou indícios de direcionamento em quatro licitações da Petrobras para contratação de embarcações voltadas à contenção de vazamentos de óleo no mar. Os contratos, que envolvem 12 navios OSRV, totalizam R$ 16,5 bilhões e terão duração de 12 anos.
Técnicos apontam possível vantagem a duas empresas líderes
A denúncia, feita pela Associação Brasileira dos Usuários dos Portos, de Transporte e Logística (Logística Brasil), motivou o início da apuração. A entidade acusou as empresas Bram Offshore e Starnav Serviços Marítimos de receberem tratamento preferencial durante os certames. As duas companhias controlam cerca de 55% da frota da Petrobras nesse segmento.
O relatório técnico da unidade AudContratações, finalizado em janeiro, indicou que a Bram teria sido favorecida nas duas primeiras licitações. Além disso, os técnicos encontraram indícios de que as empresas também se beneficiaram nas licitações seguintes. O processo está sob responsabilidade do ministro Walton Alencar e corre em sigilo.
Portanto, os auditores sugeriram que o tribunal avalie se houve prejuízo ao erário e restrição à concorrência.
Petrobras reabriu disputa após excluir empresa desclassificada
Em abril de 2024, a Petrobras lançou a primeira licitação para contratar até cinco navios. O edital dividiu a concorrência em dois lotes. Participaram 26 empresas, mas a estatal desclassificou dez, incluindo a Bram Offshore, que apresentou planilhas com valores desatualizados.
No mesmo dia da exclusão da empresa, a Petrobras cancelou a análise do segundo lote — exatamente o que contava com a Bram. O edital, no entanto, previa essa suspensão apenas se o primeiro lote fosse totalmente preenchido, o que não ocorreu.
Dezesseis dias depois, a Petrobras lançou novo edital, com as mesmas datas de entrega e especificações técnicas semelhantes às anteriores. A Bram reapareceu na disputa e venceu dois lotes. Na ocasião, a Petrobras emitiu um alerta no sistema Petronect, informando que atualizou a planilha de cotação. O TCU destacou que esse aviso ajudou a empresa a evitar o erro que provocou sua desclassificação inicial.
Além disso, os técnicos consideraram que a nova licitação, apesar de pública, espelhou o segundo lote da anterior, o que teria dado à Bram uma segunda chance sob condições especialmente adaptadas.
Petrobras flexibilizou regras e ampliou limites para os mesmos vencedores
As mudanças continuaram. A terceira licitação, realizada meses depois, trouxe novas regras. A Petrobras permitiu que uma mesma empresa vencesse múltiplos lotes e aumentou de quatro para seis o número de embarcações por contratada.
Como consequência, a Bram e a Starnav venceram novamente. Em setembro, a estatal lançou a quarta licitação com os mesmos moldes da anterior. As duas empresas também venceram esse certame.
Segundo o relatório, essas mudanças permitiram que Bram e Starnav aproveitassem o ganho de escala. Com isso, elas puderam oferecer preços mais competitivos, o que afastou outras concorrentes. Ao final, cada empresa garantiu seis embarcações.
Portanto, os quatro processos licitatórios resultaram na concentração dos contratos em apenas dois grupos. Ainda em 2024, a Petrobras abriu duas novas licitações, com previsão de contratar até 16 embarcações adicionais, somando modelos OSRV e PSV.
TCU pode suspender os contratos se confirmar ilegalidades
O TCU considera aplicar medidas cautelares, caso as investigações confirmem irregularidades ou risco de prejuízo à administração pública. A Petrobras enviou respostas formais aos questionamentos. No entanto, os documentos seguem em sigilo. A movimentação mais recente do processo ocorreu no último dia 21.
Segundo nota enviada ao G1, a Petrobras garantiu que respondeu dentro do prazo e reafirmou o compromisso com a legalidade. A empresa também afirmou que mantém padrões rigorosos de compliance e governança nas contratações.
Além disso, a companhia declarou que todos os editais seguiram critérios previamente definidos e respeitaram a isonomia entre os participantes. Mesmo assim, o TCU continua analisando se as mudanças sucessivas nos certames favoreceram indevidamente apenas alguns concorrentes.
As empresas Bram Offshore e Starnav Serviços Marítimos não enviaram posicionamento até a conclusão desta matéria. O espaço permanece aberto.