
O cenário financeiro global amanheceu tenso nesta segunda-feira (31). O Bitcoin (BTC), principal termômetro do mercado de criptomoedas, está sendo negociado na importante marca dos US$ 82 mil, mas não se engane: o clima é de pura cautela e expectativa entre os investidores de ativos de risco – uma categoria que inclui tanto ações quanto criptomoedas, conhecidos por seu potencial de retorno mais alto, mas também por maior volatilidade e sensibilidade a notícias econômicas.
Essa apreensão é visível nos mercados tradicionais. As bolsas asiáticas fecharam em queda significativa, o mercado europeu opera no vermelho e os futuros de Wall Street (que indicam como o mercado americano deve abrir) também apontam para baixas fortes nesta manhã. É um sinal claro de que os investidores estão pisando no freio, aguardando definições importantes que podem impactar a economia global.
Dentro do universo cripto, um dado chama a atenção: a dominância do Bitcoin atingiu a marca expressiva de 58%. Mas o que isso significa? Basicamente, mais da metade de todo o dinheiro investido no vasto mercado de criptomoedas está concentrado apenas no Bitcoin. Esse aumento na dominância sugere um movimento interessante: investidores parecem continuar apostando no potencial das criptomoedas, mas estão buscando a relativa “segurança” do ativo mais estabelecido e conhecido, o Bitcoin, muitas vezes chamado de “ouro digital” por sua percepção como reserva de valor dentro desse novo ecossistema financeiro.
Contudo, essa concentração de capital no Bitcoin tem um efeito colateral. Se, por um lado, mostra a força e a confiança (ou menor desconfiança) no BTC em tempos de incerteza, por outro, essa “drenagem” de recursos de outras criptomoedas tende a atrasar as perspectivas de uma “altseason”. Esse termo, popular entre os entusiastas de cripto, descreve o período em que as moedas alternativas ao Bitcoin (altcoins) começam a se valorizar de forma mais expressiva que o próprio BTC. Com o dinheiro fluindo preferencialmente para o Bitcoin, as altcoins perdem fôlego para iniciar esse rali.
Mas qual o grande motivo para tanta cautela nos mercados hoje? O principal fator de tensão é a proximidade da data de implementação de novas tarifas sobre importações propostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A expectativa é que essas tarifas entrem em vigor já na próxima quarta-feira (2), que se tornou o dia mais aguardado – e temido – pelos investidores nesta semana. Embora sempre exista uma pequena chance de um recuo de última hora ou negociação, o sentimento majoritário no mercado é negativo.
A preocupação central é que essas taxas extras sobre produtos importados acabem pressionando a inflação global para cima. Empresas que importam bens terão custos maiores e provavelmente repassarão parte disso aos consumidores. Preços mais altos podem diminuir o poder de compra, esfriar a economia e, no pior cenário, jogar a economia mundial em uma recessão, um período de retração econômica. Esse medo é o que está levando muitos investidores a reduzir sua exposição a ativos considerados mais arriscados.
Além da questão geopolítica e econômica das tarifas, outro fator técnico adiciona pressão e volatilidade aos mercados nesta virada de mês: o fim de março marca também o fim do primeiro trimestre do ano. Nestes períodos, é comum que grandes investidores, fundos de investimento e gestoras de patrimônio realizem ajustes em suas carteiras. Isso pode envolver vender ativos que se valorizaram para realizar lucros, vender ativos que caíram para limitar perdas, ou simplesmente rebalancear as posições para começar o novo trimestre. Essa movimentação concentrada de compra e venda tende a injetar ainda mais volatilidade nos preços, tanto para cima quanto para baixo.
Vale lembrar que, apesar de se manter em um patamar elevado, o próprio Bitcoin caminha para fechar o primeiro trimestre de 2024 com uma queda acumulada da ordem de 12%. Olhando apenas para o mês de março, o Bitcoin também deve registrar um recuo de cerca de 2%, refletindo a dificuldade recente do mercado em sustentar novas altas expressivas diante das incertezas macroeconômicas.
Para dar uma visão mais ampla do mercado cripto neste momento de tensão, veja abaixo o desempenho das dez maiores criptomoedas do mundo nas últimas 24 horas e em outros períodos (dados referentes ao momento da apuração original):
# | Nome (Símbolo) | Preço (USD) | Variação 24h (%) | Variação 7d (%) | Variação YTD (%) |
---|---|---|---|---|---|
1 | Bitcoin (BTC) | US$ 82.190,75 | -1,01% | -6,05% | -12,00% |
2 | Ethereum (ETH) | US$ 1.814,40 | -0,91% | -13,13% | -45,53% |
3 | Tether (USDT) | US$ 0,9998 | 0,01% | -0,03% | 0,19% |
4 | XRP (XRP) | US$ 2,08 | -3,59% | -15,19% | 0,25% |
5 | BNB (BNB) | US$ 596,10 | -1,49% | -5,49% | -14,96% |
6 | Solana (SOL) | US$ 124,28 | -0,63% | -13,30% | -34,32% |
7 | USDC (USDC) | US$ 1,00 | 0,00% | -0,01% | 0,00% |
8 | Dogecoin (DOGE) | US$ 0,1625 | -4,21% | -7,84% | -48,50% |
9 | Cardano (ADA) | US$ 0,6378 | -5,80% | -12,48% | -24,40% |
10 | TRON (TRX) | US$ 0,2330 | 1,12% | 1,87% | -8,31% |
Observando a tabela, percebe-se que a maioria das principais criptomoedas opera em queda nas últimas 24 horas e, de forma ainda mais acentuada, nos últimos 7 dias, refletindo o sentimento negativo geral. Ethereum (ETH), XRP, Dogecoin (DOGE) e Cardano (ADA) mostram perdas diárias mais significativas que o Bitcoin, enquanto TRON (TRX) se destaca como uma exceção com leve alta. As stablecoins Tether (USDT) e USDC (USDC), projetadas para manter paridade com o dólar americano, mostram estabilidade, como esperado.