Dólar recorde

Dólar atinge R$ 6,28, pressionado por incertezas fiscais e cenário externo adverso

O dólar atinge R$ 6,20, pressões por incertezas fiscais e moedas externas, com uma desvalorização acumulada de 21,52% em 2024

Arte: GDI
Arte: GDI | Arte: GDI

O dólar seguiu sua trajetória de valorização nesta terça-feira (17), tocando a marca histórica de R$6,25, embora tenha recuado para fechar acima de R$6,09. Apesar da leve recuperação no final do pregão, o valor do real frente ao dólar ainda é o mais baixo dos últimos 24 anos, com uma desvalorização acumulada de 21,52% em 2024, conforme o índice Ptax, taxa de referência para contratos denominados em real.

Esse desempenho marca o quinto pior patamar cambial desde 2000 e se aproxima da queda observada durante o pico da pandemia de Covid-19, conforme apontado pelo analista Einar Rivero, da Elos Ayta a reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico. Segundo Rivero, a diferença de apenas 0,92 ponto percentual em relação à crise de 2020 é um reflexo direto das dificuldades econômicas e da pressão cambial persistente que o Brasil enfrenta.

A desconfiança do mercado em relação à trajetória fiscal do governo tem sido um dos principais fatores que impulsionam a cotação do dólar para patamares elevados.

“O pacote fiscal do governo, anunciado no final de 2023, não conseguiu convencer os investidores”.

comenta Rivero, destacando que a falta de medidas mais robustas gerou incerteza sobre as contas públicas.

Além disso, o analista também aponta o impacto da política monetária dos Estados Unidos. “O Federal Reserve manteve os juros elevados ao longo de 2024, o que atraiu capitais para os títulos do Tesouro americano, gerando uma pressão adicional sobre moedas emergentes, como o real”, explica Rivero.

O cenário internacional tem sido desfavorável para economias como a brasileira, com taxas de juros elevadas nos Estados Unidos e um ambiente global menos favorável ao risco. A combinação desses fatores resultou em um enfraquecimento do real, que tem enfrentado dificuldades para se recuperar.

Volatilidade histórica do real

A moeda brasileira tem mostrado um padrão de volatilidade crônica nos últimos 25 anos. Rivero aponta que o real se desvalorizou em 15 anos durante esse período, com valorizações ocorrendo em apenas 10. Os anos de maior desvalorização coincidem com crises políticas internas, recessões e crises globais, incluindo o choque econômico da pandemia. “Nos momentos mais críticos, a pressão externa e interna frequentemente contribuem para a fragilidade cambial”, afirma o analista.

Apesar dos desafios, Rivero mantém uma visão moderadamente otimista. Ele destaca que a moeda brasileira tem potencial de recuperação significativa, especialmente em momentos de ajuste econômico ou após períodos de melhoria no cenário global. “A recuperação do real pode ser expressiva quando houver estabilidade política e uma melhora nas condições econômicas globais”, afirma.

Expectativas para o futuro

Para o ano de 2025, o especialista prevê que a evolução do câmbio dependerá de uma política fiscal mais forte, menos restrições externas e um crescimento econômico mais robusto no Brasil. “A resiliência cambial do Brasil depende de ajustes estruturais internos e de uma gestão econômica mais previsível e eficiente”, conclui Rivero.

Com as incertezas fiscais e o panorama internacional desafiador, a trajetória do real continuará sendo marcada por flutuações, exigindo um planejamento cuidadoso e políticas econômicas sólidas para minimizar a volatilidade cambial nos próximos anos.