- ICEI recua para 51,4 pontos, indicando perda de otimismo mesmo com índice ainda acima da linha de confiança.
- Empresários citam incertezas com a política econômica e custos elevados como barreiras ao crescimento.
- Percepção negativa sobre o presente e o futuro compromete decisões de produção e contratação no setor.
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu para 51,4 pontos em março, marcando o menor nível desde novembro de 2023. Embora ainda permaneça acima da linha de 50 pontos — limite que separa otimismo de pessimismo — o resultado acende um sinal de alerta. A redução indica uma deterioração nas expectativas do setor produtivo e levanta preocupações sobre o ritmo da recuperação econômica brasileira.
A retração vem em meio a um cenário de incertezas fiscais, alta nos juros reais e desafios na implementação de políticas públicas. Empresários demonstram cautela em relação ao ambiente macroeconômico, enquanto o setor produtivo avalia que os sinais de recuperação seguem frágeis.
CNI alerta sobre piora no cenário futuro
Segundo análise da CNI, o que mais pesou na queda do índice foi a piora das expectativas dos empresários em relação aos próximos seis meses. O subíndice que mede essa percepção caiu para 53,5 pontos, evidenciando uma perda de confiança no curto prazo. Mesmo entre aqueles que ainda acreditam em um cenário positivo, o entusiasmo diminuiu.
Além disso, o indicador que avalia as condições atuais da economia recuou para 45,2 pontos — abaixo da linha dos 50 — o que reflete uma percepção negativa sobre o momento atual. Para a entidade, a combinação entre juros elevados, baixo investimento e incertezas fiscais vem limitando a capacidade de reação da indústria.
Portanto, o ICEI sinaliza que o setor produtivo está mais prudente e menos propenso a investir ou contratar, ao menos no curto prazo. Essa postura pode retardar a retomada econômica e impactar diretamente a geração de empregos.
Segmentos da indústria apresentam leituras distintas
Apesar do recuo geral, alguns segmentos apresentaram respostas distintas. Indústrias de bens de capital e de consumo durável mostraram uma queda mais intensa na confiança, enquanto setores ligados à exportação demonstraram maior resiliência.
A CNI destaca que essa diferenciação se deve, em parte, às expectativas sobre o mercado externo e à cotação do dólar. Empresas com maior exposição internacional tendem a se proteger melhor das incertezas domésticas, o que explica a resistência em alguns setores.
Mesmo assim, o pessimismo prevalece na maior parte dos segmentos analisados. Os empresários citam a morosidade do governo em esclarecer os rumos da política fiscal, além de um ambiente regulatório considerado instável.
Cenário fiscal e juros minam o otimismo empresarial
Economistas afirmam que a principal fonte de incerteza para o empresariado segue sendo a política fiscal. A proposta de nova âncora fiscal ainda não surtiu o efeito esperado, e a revisão da meta de déficit para 2025 aumentou a percepção de risco. O mercado aguarda sinais mais claros do governo sobre contenção de gastos e estabilidade nas contas públicas.
Outro fator de peso é o nível elevado dos juros reais. Apesar de o Banco Central ter iniciado um ciclo de cortes na taxa Selic, o ritmo tem sido considerado lento. Empresários avaliam que os custos de financiamento seguem altos e, portanto, desestimulam investimentos mais ousados.
Além disso, o cenário político contribui para a instabilidade. A falta de consenso no Congresso em temas estruturantes e as disputas internas dentro do próprio governo ampliam a cautela entre os tomadores de decisão.
Confiança do setor impacta diretamente o PIB
A confiança dos empresários é um indicador relevante porque antecipa tendências da economia real. Quando os industriais perdem otimismo, eles tendem a postergar decisões de investimento, reduzir contratações e cortar produção. Com isso, o efeito se espalha por toda a cadeia produtiva
Segundo analistas consultados pela CNI, o recuo da confiança pode frear o crescimento do PIB nos próximos trimestres. A indústria, por ser um dos setores mais sensíveis ao crédito e à estabilidade macroeconômica, costuma responder rapidamente a mudanças no cenário.
Portanto, o índice de março deve ser interpretado como um sinal de alerta, especialmente para as autoridades econômicas. Caso o ambiente não se torne mais favorável, o setor produtivo poderá seguir em ritmo lento por mais tempo do que o esperado.