Vazamento Interno

Facebook cederia informações valiosas a Partido Comunista da China, revela ex-funcionária em livro

Livro de Sarah Wynn-Williams revela bastidores do Facebook e critica cultura de poder e silêncio na Meta. Obra incomoda executivos e repercute globalmente.

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Crédito: Depositphotos
  • Autora denuncia ambiente onde alertas internos eram ignorados e valores éticos, deixados de lado.
  • Executivos não comentaram publicamente, mas fontes relatam desconforto com a publicação.
  • Narrativa alimenta propostas de responsabilização e exige maior transparência algorítmica.

O livro “Careless People: A Cautionary Tale of Power, Greed, and Lost Idealism”, escrito por Sarah Wynn-Williams, ex-executiva sênior do Facebook, provocou forte reação dentro da Meta e reacendeu o debate sobre a cultura corporativa das gigantes de tecnologia. Publicada neste mês de março, a obra expõe com detalhes os bastidores de poder, influência política e silêncio organizacional que marcaram os anos em que a autora trabalhou ao lado de Mark Zuckerberg.

Livro revela cultura de poder centralizado e perdas éticas

Sarah Wynn-Williams trabalhou durante mais de uma década na Meta, incluindo passagens como diretora global de políticas públicas. Em seu relato, ela mostra como a cultura corporativa da companhia desestimulava o dissenso, promovia obediência incondicional à liderança e desconsiderava as consequências sociais das decisões internas.

Segundo o livro, os executivos da empresa alimentavam uma visão idealista da tecnologia como força de transformação social, mas agiam com descuido frente a riscos evidentes. Ela destaca que o discurso público da Meta nem sempre se alinhava às suas práticas internas, principalmente no que diz respeito à desinformação, à moderação de conteúdo e ao uso político da plataforma.

Além disso, a autora denuncia a falta de diversidade de pensamento no topo da hierarquia e relata episódios em que alertas internos foram ignorados ou abafados.

Meta teria tentado desestimular a publicação

Wynn-Williams também acusa o Facebook de ter considerado, entre 2014 e 2017, ceder dados de usuários ao governo chinês para entrar no mercado local. Embora as negociações não tenham avançado, ela vê nisso um sinal da disposição da empresa em comprometer a privacidade. A autora afirma ainda que Mark Zuckerberg colaborou com autoridades chinesas no desenvolvimento de ferramentas de censura e IA, ocultando isso do Congresso dos EUA. A Meta nega as alegações, classificando-as como imprecisas e atribui a saída da executiva a desempenho insatisfatório.

Conforme revelou o Brazil Journal, fontes próximas à empresa afirmam que executivos da Meta fizeram esforços para conter a circulação do livro nos bastidores. A companhia teria tentado desincentivar sua promoção ativa, especialmente nos ambientes legislativos e acadêmicos.

Apesar disso, a publicação rapidamente ganhou visibilidade, alcançando as listas de mais vendidos nos Estados Unidos e sendo citada em audiências públicas no Congresso americano. Nos bastidores, o incômodo na Meta é evidente, ainda que a empresa não tenha se pronunciado oficialmente até o momento.

Portanto, o impacto do livro já transcende o Vale do Silício e começa a influenciar o debate sobre regulação das plataformas digitais.

Obra reforça necessidade de responsabilização das big techs

Com um tom equilibrado, mas incisivo, “Careless People” não busca revanche pessoal, mas sim refletir sobre o modelo de governança que se consolidou nas últimas duas décadas nas grandes empresas de tecnologia. A escritora argumenta que, mesmo entre profissionais bem-intencionados, o sistema recompensa o conformismo e desencoraja questionamentos éticos.

A autora também critica o ambiente de idealismo perdido, sugerindo que a visão libertária das origens da internet foi engolida por estruturas corporativas voltadas para lucro, influência e blindagem institucional. Ela defende que uma nova era digital exige mais transparência e mecanismos de responsabilização efetiva, tanto para executivos quanto para as decisões algorítmicas.

Além disso, a obra se soma a outras críticas recentes à Meta, que já enfrenta processos e investigações em diferentes países. A força do testemunho de alguém que esteve no alto escalão fortalece a pressão por mudanças estruturais.

Repercussão deve alimentar debate regulatório

A publicação ocorre em um momento sensível, quando governos nos Estados Unidos e na Europa discutem novas legislações para regular o poder das plataformas digitais. O livro de Sarah Wynn-Williams passa a ocupar lugar de destaque nesse debate, sendo usado como exemplo em propostas que tratam da transparência de algoritmos, da responsabilidade de moderação e do uso político de dados.

Além disso, a narrativa da autora está encontrando eco entre ex-colaboradores da Meta, que validam muitos dos apontamentos, embora sob anonimato. Acadêmicos, reguladores e jornalistas têm utilizado trechos do livro para contextualizar denúncias e iniciativas legislativas em andamento.

Portanto, “Careless People” já se consolidou como uma das obras mais relevantes do ano no campo da ética em tecnologia e da governança corporativa digital.

Luiz Fernando
Estudante de Jornalismo, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.