
- O presidente afirmou que Janja “não nasceu para ser dona de casa” durante visita ao Vietnã, buscando valorizar seu papel público, mas gerou mal-estar
- A fala causou desconforto no filho caçula do casal, Luís Cláudio, mostrando os efeitos inesperados das declarações
- O comentário, que pretendia defender a atuação da primeira-dama, acabou virando tema de debate público e críticas
A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que sua esposa, Rosângela da Silva, a Janja, “não nasceu para ser dona de casa” gerou uma repercussão inesperada.
A frase, dita durante sua visita ao Vietnã, visava defender a atuação pública da primeira-dama. Mas acabou causando, portanto, desconforto para seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva.
Segundo apurações, Luís Cláudio interpretou a declaração como uma afronta à memória de sua mãe, Marisa Letícia, que dedicou boa parte da vida ao lar e ao apoio a Lula, especialmente durante seus primeiros mandatos.
Ele não respondeu aos contatos da reportagem, mas após a publicação negou a interlocutores que estivesse aborrecido com a fala do pai.
Comparações entre Marisa e Janja
A declaração de Lula surge em um contexto de frequentes comparações entre Marisa Letícia e Janja. Diferente de Marisa, que evitava holofotes e viagens oficiais, Janja tem um papel mais ativo na política e na diplomacia.
A oposição frequentemente a critica por sua participação em eventos internacionais. Ainda, como a Cúpula Nutrição para o Crescimento, em Paris.
Integrantes do PT afirmam que a declaração de Lula foi uma tentativa de defender a esposa das críticas, demonstrando orgulho por sua atuação.
Um ex-parlamentar petista destacou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia sempre foi uma figura discreta, focada na vida doméstica e no apoio à família.
Camilo Vannuchi, jornalista e autor de uma biografia sobre Marisa, afirmou que ela sempre teve uma postura de conselheira de Lula, sem nunca ser subserviente.
“A frase do presidente soa desrespeitosa, porque Marisa Letícia foi mulher dele durante muito tempo e foi dona de casa”, afirma o jornalista Camilo Vannuchi, autor de “Marisa Letícia Lula da Silva””, uma biografia sobre a antiga primeira-dama”.
Ele considera, portanto, que a fala do presidente pode ter soado desrespeitosa para quem guarda boas lembranças de sua dedicação à família.
Repercussão política
O advogado Marco Aurélio de Carvalho, líder do grupo Prerrogativas e defensor de Janja, rebateu as críticas. E, assim, afirmou que há “má vontade” em relação às declarações de Lula. Ele destacou que foi durante os mandatos do presidente que foram criadas legislações de proteção e valorizacão das donas de casa.
“Ele não quis diminuir o papel da dona de casa. Todo o arcabouço jurídico de proteção às donas de casa foi criado por ele”, afirmou.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou o papel ativo de Janja na política e atribuiu as críticas à misoginia. Para ela, a primeira-dama tem um papel fundamental nos debates e na formulação de políticas públicas, e nunca se restringiria a um papel passivo.
A cientista política Larissa Peixoto, pesquisadora da Universidade de Edimburgo, afirmou que Janja será criticada independentemente de sua postura.
“Se ela não fizesse nada, diriam que estaria vivendo às custas do governo. A oposição sempre encontrará algo para reclamar”, pontuou.
O episódio, no entanto, expõe não apenas a polêmica em torno da atuação da primeira-dama, mas também tensões internas na família Lula. Apesar da tentativa de minimizar a situação, a frase continua sendo motivo de discussão dentro e fora do governo.