Crise Fiscal

Faltam compradores para os títulos do Tesouro Direto: entenda

O governo brasileiro enfrenta dificuldades para vender títulos públicos devido à alta das taxas de juros e desconfiança dos investidores, com o déficit fiscal atingindo R$ 1,1 trilhão

Arte/Reprodução Tesouro Nacional
Arte/Reprodução Tesouro Nacional

Em um cenário marcado pela elevação recorde das taxas de juros, o governo federal tem enfrentado dificuldades crescentes para vender seus títulos da dívida pública. A desconfiança dos investidores e a pressão por medidas efetivas de controle de despesas são apontadas como as principais razões para a queda na demanda, conforme análises de especialistas financeiros.

De acordo com dados do Tesouro Nacional, a taxa de sucesso na venda de papéis atrelados à inflação, como os títulos Tesouro IPCA (NTN-B), despencou de 77% em janeiro de 2024 para 52% em dezembro do mesmo ano. O Tesouro IPCA com vencimento em 2027, que iniciou o ano passado com uma taxa real de 5,33% ao ano, terminou com um rendimento de 8,24%, o maior valor desde dezembro de 2008.

Em função da alta volatilidade do mercado, o Tesouro precisou suspender vários leilões em dezembro, o que gerou preocupação nos investidores. Segundo os analistas, os investidores estão exigindo rendimentos mais elevados para alocar recursos no Brasil, como evidenciado pelos títulos vendidos no primeiro leilão de 2025, que tiveram uma taxa média de 7,72% para papéis com vencimento em cinco anos. Essa taxa é substancialmente mais alta do que os 5,38% observados no ano anterior, e se aproxima dos 7,75% pagos pelo governo Dilma em 2015.

O aumento das taxas de juros reflete a pressão sobre o governo, que, diante de um déficit fiscal crescente, tem se visto forçado a vender mais títulos para financiar suas operações. O déficit nominal das contas públicas, que inclui as despesas e os juros da dívida, atingiu R$1,1 trilhão até novembro de 2024.

Esse aumento nas taxas de juros tem gerado um aumento no custo da dívida pública. Títulos como o Tesouro Prefixado (NTN-F), com vencimento em 2031, que pagavam 10,48% ao ano, terminaram o ano com uma taxa de 14,05%, com uma queda na taxa de sucesso nos leilões de 83% para 40%. Em 2025, esses títulos já estão sendo precificados acima de 15% ao ano.

Em resposta, o governo tem optado por vender títulos com prazos mais curtos e taxas flutuantes, como os Tesouro Selic (LFT), que exigem pagamento em um prazo mais curto. Em novembro de 2024, esses papéis representaram 61% das emissões, levando o estoque da dívida relacionada a esses títulos a 46%. Contudo, o aumento da taxa Selic tem ampliado ainda mais o custo dessa dívida.

Nos primeiros cinco meses de 2025, o governo precisará pagar R$ 740 bilhões de títulos públicos, além de lidar com o déficit fiscal. Especialistas, como o economista Samuel Kawall, alertam que o governo precisa adotar medidas mais robustas para equilibrar as contas públicas, com ajustes fiscais mais concretos.

O Tesouro Nacional, no entanto, nega que haja uma crise de confiança. De acordo com o órgão, as emissões realizadas em 2024 e os leilões de janeiro de 2025 mostram uma demanda consistente pelos títulos oferecidos, compatível com as condições do mercado. A equipe econômica do governo segue enfatizando esforços em reforçar a consolidação fiscal e a sustentabilidade da dívida pública, com foco em reformas tributária e microeconômica.

A gestão da dívida pública é um tema central, e a reserva financeira, conhecida como colchão da dívida, encerrou novembro de 2024 com R$ 856 bilhões, apresentando uma leve queda em relação aos R$ 982 bilhões de dezembro de 2023. O Banco Central ainda pode transferir recursos para o Tesouro, ajudando na gestão do endividamento público.

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