Expansão cripto

Fintechs criptos brasileiras conquistam Argentina e Portugal

Elas estão levando infraestrutura de criptoativos, soluções com stablecoins para pagamentos e proteção cambial, e aproveitando mudanças regulatórias para ajudar outras empresas a entrarem no mundo cripto.

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Fintechs criptos brasileiras  conquistam Argentina e Portugal

O cenário de tecnologia financeira no Brasil está fervilhando, e algumas empresas já começam a olhar para além das nossas fronteiras, levando sua expertise em blockchain e criptomoedas para novos mercados. Duas dessas companhias, a Parfin e a BRLA, estão ganhando destaque por suas recentes movimentações estratégicas na Argentina e em Portugal, mostrando como a tecnologia cripto pode ser uma ferramenta poderosa para negócios internacionais.

A Parfin, por exemplo, acaba de dar um passo importante ao obter as licenças operacionais necessárias para atuar como Prestadora de Serviços de Ativos Virtuais (PSAV) – o nome técnico para empresas que lidam com cripto – tanto em Portugal quanto na Argentina. Mas o que isso significa na prática? Significa que a Parfin agora tem sinal verde regulatório para oferecer sua plataforma tecnológica para outras empresas nesses países. O foco deles não é vender cripto diretamente para o consumidor final, mas sim fornecer a infraestrutura completa – pense em sistemas de compra e venda, custódia (a guarda segura dos ativos digitais) e liquidação (a finalização das transações) – para companhias locais que desejam começar a oferecer serviços de criptomoedas aos seus próprios clientes.

Marcos Viriato, o CEO da Parfin, explica que a estratégia varia conforme o mercado. Na Argentina, um país com um histórico de instabilidade econômica e alta inflação, o foco principal tem sido a infraestrutura para pagamentos internacionais utilizando stablecoins. Stablecoins são criptomoedas projetadas para manter um valor estável, geralmente atrelado a uma moeda forte como o dólar americano. “O uso de stablecoins para se proteger do câmbio na Argentina ainda é muito forte, é uma economia muito dolarizada”, afirma Viriato. Em um lugar onde a moeda local perde valor rapidamente, ter uma alternativa digital pareada ao dólar se torna extremamente atraente para empresas e pessoas.

Viriato também está otimista com o ambiente regulatório argentino sob a nova gestão do presidente Javier Milei, conhecido por suas visões mais liberais em relação à economia e, potencialmente, às criptomoedas. Há uma expectativa de que instituições financeiras tradicionais, como os bancos, possam finalmente começar a oferecer produtos e serviços com ativos digitais aos seus clientes. Isso seria uma mudança significativa em relação ao governo anterior, de Alberto Fernández, quando o banco central argentino chegou a proibir explicitamente que bancos oferecessem serviços de criptoativos, uma medida que veio logo após o Banco Galicia, um dos maiores do país, ter anunciado planos nesse sentido. A Parfin se posiciona para ser a parceira tecnológica dessas instituições caso a abertura se confirme.

Já na Europa, especificamente em Portugal, o cenário e o interesse são diferentes. Segundo Viriato, o apetite por stablecoins como ferramenta de proteção cambial é bem menor. “Stablecoin é algo que tem muito mais apetite em países em desenvolvimento para proteção da moeda. O euro é o euro”, comenta o CEO, destacando a estabilidade da moeda europeia. Lá, a licença de PSAV da Parfin servirá principalmente para habilitar outras empresas, incluindo instituições financeiras, a oferecerem negociação de moedas digitais como Bitcoin e Ether para seus clientes, aproveitando o crescente interesse global nesses ativos.

Enquanto a Parfin foca na infraestrutura B2B (business-to-business), a BRLA também está trilhando seu caminho internacional com soluções práticas baseadas em blockchain. Uma de suas operações atuais envolve facilitar pagamentos entre Brasil e Argentina usando o Pix. Isso permite que brasileiros comprem na Argentina ou argentinos comprem no Brasil de forma mais simples e potencialmente mais barata, usando a rede de pagamentos instantâneos brasileira como “trilho”.

Além disso, a BRLA encontrou um nicho interessante no comércio exterior, especificamente na exportação e importação de máquinas agrícolas. A empresa fornece a infraestrutura baseada em stablecoins para realizar os pagamentos dessas transações internacionais. Leandro Noel, co-CEO da BRLA, explica a vantagem: “Os clientes usam stablecoins por ter menos burocracia e custo reduzido. Cada máquina sai na casa de US$ 150 mil, então se conseguir ter uma economia, mesmo que de 1% a 2%, já é muito relevante”. Em transações de alto valor, pequenas porcentagens economizadas em taxas de câmbio, transferências internacionais e tempo podem fazer uma grande diferença no resultado final.

A BRLA também está de olho em outras oportunidades. A empresa possui entidades legais na Argentina e também nos Estados Unidos, um movimento estratégico que a posiciona para observar e, quem sabe, aproveitar a postura mais pró-cripto sinalizada por figuras como Donald Trump, caso ele retorne à presidência. Noel também destaca um crescimento no uso de cripto para gestão de tesouraria entre empresas multinacionais (“intercompany”). “Temos visto muito crescimento de fluxo entre subsidiária e matriz. São casos de gestão de tesouraria: de repatriação [trazer dinheiro de volta para a matriz] ou financiamento da operação local [enviar dinheiro para a subsidiária]”, prevê Noel. Usar criptoativos para essas transferências internas pode ser mais rápido e eficiente do que os métodos bancários tradicionais.

A visão geral, compartilhada por Noel, é otimista. Ele acredita que a tecnologia cripto tem um papel fundamental a desempenhar na globalização da economia. “A mensagem mais otimista é que vai ficar mais fácil globalizar a economia e fazer os outros aderirem ao ambiente global de maneira mais eficiente. As criptomoedas são ativos globais por natureza“, conclui.

Fernando Américo
Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol