
- Variação cambial e despesas com o Chapter 11 explicam grande parte das perdas.
- Empresa aumentou receitas, transportou mais passageiros e manteve alta ocupação nos voos.
- Gol projeta melhora com renegociação de dívidas, renovação de frota e alta da demanda.
A companhia aérea Gol (GOLL4) encerrou o quarto trimestre de 2024 com um prejuízo líquido de R$ 5,1 bilhões, conforme balanço divulgado nesta semana. O resultado representa um agravamento significativo das perdas, impulsionado principalmente por efeitos contábeis e cambiais. Apesar do impacto negativo, a empresa reafirmou projeções positivas para 2025 e aposta na reestruturação judicial em andamento para recuperar competitividade.
O prejuízo do período decorre, em grande parte, da variação cambial sobre passivos operacionais e dívidas denominadas em dólar. Apenas esse efeito respondeu por R$ 3,6 bilhões do resultado negativo. Além disso, a companhia registrou despesas extraordinárias relacionadas ao processo de Chapter 11 nos Estados Unidos.
Dívidas e reestruturação pressionam desempenho
Além da pressão do câmbio, a Gol enfrenta o desafio de reorganizar sua estrutura de capital. A empresa acumula um endividamento elevado, que se intensificou com a alta dos juros e a valorização do dólar em relação ao real. Com grande parte das obrigações em moeda estrangeira, o custo da dívida subiu consideravelmente no ano passado.
No entanto, em janeiro de 2024, a companhia entrou com um pedido de recuperação judicial nos EUA, através do mecanismo conhecido como Chapter 11, o mesmo usado anteriormente por empresas como Latam e Oi. O processo tem como objetivo renegociar dívidas com credores e preservar as operações da companhia durante o período de ajuste.
Segundo a administração, o plano de reestruturação avança conforme o cronograma estabelecido. A empresa já renegociou contratos com fornecedores e está em diálogo com financiadores para rever prazos e condições. O foco agora é garantir estabilidade operacional e reequilibrar as finanças nos próximos trimestres.
Receita cresce e operação se mantém sólida
Apesar do prejuízo contábil, a Gol apresentou crescimento em receitas. A receita líquida no quarto trimestre somou R$ 4,9 bilhões, alta de 6,5% na comparação anual. O número de passageiros transportados também subiu, sinalizando a continuidade da recuperação da demanda no setor aéreo.
O aumento da receita ocorreu principalmente por ajustes de tarifa média e ampliação da malha aérea. Além disso, a companhia registrou crescimento nas vendas de passagens corporativas e nos pacotes de turismo. A ocupação média dos voos permaneceu elevada, com load factor acima de 80%, demonstrando eficiência operacional.
Portanto, embora o lucro tenha sido fortemente impactado por fatores financeiros, os indicadores operacionais mostram desempenho estável. A empresa também manteve investimentos em frota e tecnologia, com foco em eficiência de combustível e melhoria na experiência do passageiro.
Otimismo com recuperação a partir de 2025
Mesmo diante das dificuldades, a Gol projeta uma reversão no cenário a partir de 2025. A administração acredita que o avanço da reestruturação e a possível estabilização cambial podem reduzir as pressões financeiras. Além disso, o crescimento contínuo da demanda por viagens no Brasil e na América do Sul deve favorecer a retomada da lucratividade.
Segundo os executivos da empresa, os custos extraordinários registrados no trimestre são pontuais e não se repetirão nos próximos períodos. Eles também reforçaram que a companhia segue operando normalmente e mantém a confiança dos parceiros comerciais e fornecedores.
Além disso, a Gol aposta na renovação de frota com aeronaves mais econômicas, o que deve gerar redução de custos com combustível e manutenção. A companhia também quer explorar novas rotas e consolidar sua presença em mercados estratégicos da América Latina.
Ainda que o cenário de curto prazo permaneça desafiador, analistas de mercado enxergam sinais de que a empresa pode recuperar valor nos próximos trimestres, especialmente se concluir com êxito o processo de reestruturação.