- 59% dos brasileiros apontam a economia como maior preocupação.
- Quase metade da população considera o governo “perdido”.
- Comunicação falha e lentidão política agravam desgaste institucional.
Pesquisa revela que cresce a desconfiança da população em relação ao governo e que a principal preocupação dos brasileiros, disparada, é com a economia. Entre os eleitores, há percepção de desgoverno e incapacidade de enfrentar os desafios econômicos.
Percepção de desgoverno agrava clima de insegurança
O governo enfrenta um cenário cada vez mais difícil no campo da comunicação e da credibilidade pública. Segundo levantamento do instituto Ideia, publicado pelo Estadão, a maioria da população acredita que o governo Lula está “perdido”. Essa avaliação se intensificou nos últimos meses, acompanhada de um crescimento expressivo na preocupação com os rumos da economia. Ainda que o governo adote medidas pontuais para conter a inflação e estimular o crescimento, a desconfiança persiste.
De acordo com os dados, 47% dos entrevistados dizem que a atual gestão “não sabe para onde vai”, enquanto 35% acreditam que o governo “sabe para onde vai, mas é ineficiente”. Apenas 13% veem o governo como capaz e eficiente, número inferior ao observado em gestões anteriores no mesmo período. Tal percepção negativa amplia o senso de insegurança econômica, agravado por uma comunicação institucional considerada falha e pouco transparente.
Além disso, o desalinhamento entre promessas de campanha e as ações implementadas até agora gera frustração. Muitos eleitores esperavam avanços mais rápidos na geração de empregos, no controle da inflação e na melhoria do poder de compra. Contudo, os resultados não acompanham as expectativas, e isso tem reflexo direto no aumento da insatisfação popular.
O clima de desgoverno alimenta incertezas no mercado, influenciando a confiança dos investidores e a disposição do setor privado em ampliar investimentos. A falta de clareza em políticas estruturais, especialmente na área fiscal, também contribui para o sentimento de que o governo atua de forma reativa, em vez de estratégica.
Economia é a principal preocupação dos brasileiros
A pesquisa revelou que 59% dos brasileiros apontam a economia como sua maior preocupação atual. Esse número representa um salto em relação aos 45% registrados em novembro do ano passado. Trata-se do patamar mais alto desde o início da atual gestão. A insegurança com o custo de vida, a inflação nos alimentos e a estagnação dos salários lideram as queixas.
Embora o IPCA tenha registrado variações menores em alguns meses, os brasileiros continuam sentindo a pressão nos supermercados e nas contas do dia a dia. Isso porque produtos essenciais, como arroz, feijão, leite e carne, seguem com preços elevados. Além disso, o alto custo dos combustíveis e dos serviços influencia negativamente o orçamento familiar.
Outro fator que acentua a apreensão é a percepção de que não há um plano econômico claro e consistente. A comunicação do governo sobre medidas econômicas é vista como confusa ou insuficiente. Isso dificulta a compreensão pública e aumenta o temor de que os problemas se agravem nos próximos meses, especialmente com a expectativa de baixo crescimento em 2025.
A estagnação econômica também afeta a confiança dos empresários e o desempenho de diversos setores produtivos. Com a atividade econômica desacelerada e a incerteza fiscal em alta, a geração de empregos perde força, gerando efeitos em cadeia no consumo e na arrecadação tributária.
Estratégia política e desgaste institucional
Além da economia, o governo enfrenta dificuldades crescentes no campo político. A relação com o Congresso segue marcada por tensão, troca de acusações e lentidão na aprovação de projetos prioritários. A dificuldade em construir uma base sólida compromete iniciativas que exigem articulação mais ampla, como a reforma tributária.
A percepção de desarticulação política, somada ao fraco desempenho econômico, mina a confiança tanto da população quanto dos agentes econômicos. Para analistas, esse cenário contribui para o aumento da polarização e enfraquece a governabilidade. O governo Lula, portanto, enfrenta o desafio de reestruturar sua comunicação, alinhar prioridades e apresentar resultados concretos.
A aprovação do governo também se deteriora entre os eleitores de centro e centro-direita. A pesquisa aponta que a reprovação é maior entre os mais escolarizados e nos estratos de renda média. Esse movimento sinaliza uma erosão de apoio fora dos núcleos mais alinhados ideologicamente, o que exige mudança de postura e adoção de uma política mais pragmática.
Além disso, há um esgotamento na paciência da população com promessas não cumpridas. A expectativa de uma gestão eficiente esbarra na lentidão administrativa e nos conflitos internos. Sem ações coordenadas, a imagem de um governo improvisado se consolida, elevando o risco de instabilidade política.
Comunicação ineficaz e necessidade de ação concreta
Outro ponto sensível é a forma como o governo comunica suas ações. A falta de clareza nas mensagens institucionais prejudica a percepção pública dos avanços — ainda que existam iniciativas positivas em determinadas áreas. Especialistas apontam que é fundamental reverter essa tendência com uma comunicação mais técnica, propositiva e transparente.
A ausência de uma narrativa coesa gera ruídos que desgastam ainda mais a imagem do governo. Além disso, o tom defensivo em entrevistas e pronunciamentos contribui para acirrar críticas e dar espaço à oposição. Por isso, líderes políticos e econômicos sugerem uma reformulação na estratégia de comunicação.
Assim, o governo precisa adotar medidas com impacto real e perceptível na vida dos brasileiros. Deve fortalecer programas sociais, políticas de geração de emprego e ações de controle de preços. Também precisa retomar o foco na agenda econômica com seriedade, para evitar o agravamento da crise de credibilidade.
Desse modo, se o governo quiser reconquistar a confiança da sociedade e do mercado, precisa alinhar discurso e prática. A população quer respostas, não apenas declarações.