
- A ONU alerta que tarifas entre EUA e China podem afetar severamente as economias mais pobres, superando até os impactos do corte de ajuda externa
- O ITC projeta queda de até 7% no comércio mundial e redução de 0,7% no PIB global caso a escalada tarifária continue
- Bangladesh pode perder até US$ 3,3 bilhões por ano em exportações para os EUA, enquanto outros países buscam alternativas
A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China provocou um novo alerta da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta sexta-feira, a diretora-executiva do Centro de Comércio Internacional (ITC), Pamela Coke-Hamilton, afirmou que a escalada tarifária impulsionada pelo presidente Donald Trump pode gerar efeitos “catastróficos”, principalmente para os países em desenvolvimento.
Segundo o ITC, o comércio global pode encolher entre 3% e 7%, com impacto direto de até 0,7% sobre o Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Tarifas ameaçam comércio global e países mais vulneráveis
As medidas protecionistas adotadas por Washington e as contrarrespostas de Pequim têm agravado a instabilidade nos mercados internacionais. Trump anunciou nesta semana uma pausa de 90 dias para tarifas aplicadas a dezenas de países, mas elevou drasticamente as tarifas sobre produtos chineses, atingindo uma taxa efetiva de 145%.
Em resposta, a China subiu suas tarifas sobre produtos norte-americanos para 125%, alimentando a tensão em uma disputa que compromete cadeias de suprimento e redes de comércio internacionais.
Para a diretora do ITC, os países mais pobres enfrentam o maior risco, especialmente porque dependem das exportações para manter seus frágeis níveis de crescimento.
“Se essa escalada continuar, poderá haver uma redução de até 80% no comércio entre EUA e China, e o efeito cascata disso sobre os países em desenvolvimento pode ser devastador”, afirmou Coke-Hamilton em entrevista à Reuters.
Perdas podem superar corte de ajuda externa
O impacto das tarifas, segundo a ONU, pode ser mais prejudicial do que a retirada de ajuda internacional. Isso porque as restrições comerciais afetam diretamente a capacidade de exportação e a entrada de divisas em nações já vulneráveis.
Países como Lesoto, Camboja, Laos, Madagascar e Mianmar devem buscar ampliar os acordos regionais para mitigar as perdas de mercado nos Estados Unidos, principal destino de muitas de suas exportações.
Bangladesh, por exemplo, segundo maior exportador de vestuário do mundo, poderá perder até US$ 3,3 bilhões por ano em exportações para os EUA até 2029, caso a tarifa de 37% permaneça após a pausa anunciada por Trump. Diante desse cenário, o ITC sugere que o país reforce suas relações comerciais com a Europa, onde ainda existe margem para crescimento.
Preocupações crescem com impacto nas cadeias globais
Os efeitos da disputa tarifária ultrapassam os limites de China e Estados Unidos. A interconexão das cadeias globais de produção significa que tarifas em produtos-chave afetam não apenas os países envolvidos, mas também fornecedores. Além de parceiros comerciais e nações que atuam como intermediárias nos processos de manufatura.
Com a desaceleração no fluxo de comércio, os países em desenvolvimento enfrentam dificuldades para manter empregos, atrair investimentos e expandir suas indústrias.
“Estamos diante de uma conjuntura em que decisões unilaterais podem comprometer conquistas econômicas duramente obtidas”, disse Coke-Hamilton.
As projeções do ITC têm como base dados colhidos antes da trégua de 90 dias e dos aumentos tarifários recentes. A expectativa, no entanto, é de que os próximos meses tragam ainda mais incertezas para o comércio global, a depender do desenrolar das negociações entre as duas maiores economias do planeta.