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Honda vai ampliar produção nos EUA e transferir fábricas do México e Canadá

Honda realinha produção para os EUA em resposta às tarifas de Trump, sinalizando mudanças nas cadeias globais de suprimento automotivo.

Crédito: Depositphotos
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  • A Honda planeja transferir parte da produção do México e Canadá para os EUA, visando produzir 90% dos veículos vendidos no país localmente.
  • A decisão é uma resposta às tarifas de 25% impostas pelo governo Trump sobre veículos importados.
  • A mudança pode impactar as relações comerciais entre os países do USMCA e influenciar outras empresas a reconsiderarem suas operações na região.​

A Honda planeja transferir parte da produção do México e Canadá para os Estados Unidos, visando produzir 90% dos veículos vendidos no país localmente. A decisão é uma resposta às tarifas de 25% impostas pelo governo Trump sobre veículos importados.

Reavaliação global preocupa setor automotivo brasileiro

A montadora japonesa Honda avalia transferir parte de sua produção no Brasil para os Estados Unidos. A informação foi divulgada pelo jornal japonês Asahi Shimbun e repercutida por veículos internacionais e nacionais. A mudança seria uma resposta à escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim, especialmente após os novos pacotes tarifários impostos pelo governo norte-americano sobre importações chinesas. A estratégia visa evitar riscos em sua cadeia de suprimentos e ampliar a presença em solo americano, considerado um mercado estratégico.

A possível realocação representa uma movimentação relevante no tabuleiro global da indústria automotiva. O Brasil, embora mantenha um parque industrial consolidado e seja o maior mercado da América do Sul, enfrenta desafios de competitividade frente a outros países, como México e Estados Unidos. A Honda, por sua vez, já produz em território norte-americano, mas considera ampliar suas operações diante dos incentivos fiscais oferecidos após a aprovação da Lei de Redução da Inflação (IRA), sancionada em 2022.

Além disso, fontes do setor indicam que a alta no custo logístico entre Ásia e América Latina, bem como o risco cambial no Brasil, pesam na decisão. A Honda ainda não confirmou oficialmente a transferência, mas analistas já discutem os possíveis impactos caso a mudança se concretize nos próximos anos.

Decisão pode gerar efeitos econômicos no Brasil

A saída parcial da Honda afetaria diretamente a planta de Itirapina (SP), inaugurada em 2019 após o encerramento das operações em Sumaré. A unidade atual emprega cerca de 1.500 trabalhadores e concentra a produção de modelos populares, como o City e o HR-V. Caso a realocação ocorra, o impacto sobre o emprego, fornecedores e arrecadação local seria significativo.

O Brasil já enfrenta um cenário delicado no setor industrial, com retração nos investimentos estrangeiros desde a pandemia e instabilidade macroeconômica. Com isso, a eventual migração de uma montadora de peso como a Honda acende um sinal de alerta sobre a capacidade do país de reter indústrias estratégicas. Para especialistas, o país precisa repensar seus incentivos, melhorar a infraestrutura logística e garantir segurança jurídica para atrair e manter empresas multinacionais.

Por outro lado, o governo brasileiro ainda não se posicionou oficialmente sobre a possível saída da montadora. Fontes próximas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços indicaram que o tema será tratado com cautela. Apesar disso, há preocupação com o aumento da desindustrialização e a perda de competitividade regional.

EUA se consolidam como polo industrial estratégico

Nos Estados Unidos, o movimento da Honda coincide com uma série de anúncios similares de outras montadoras. Empresas como Toyota, Hyundai e Volkswagen também reforçaram investimentos em território norte-americano, aproveitando estímulos fiscais e a busca por cadeias de suprimento mais curtas e seguras. A decisão da Honda, portanto, se encaixa em uma tendência mais ampla de reshoring — a volta da produção ao país de consumo.

Com o endurecimento da política comercial do governo Trump, o ambiente global de produção se tornou mais imprevisível. As montadoras, que operam com margens apertadas, buscam alternativas para reduzir riscos. Dessa forma, a proximidade com os consumidores finais e a previsibilidade regulatória oferecida pelos EUA tornam-se elementos centrais na tomada de decisão.

Adicionalmente, o fator geopolítico pesa. A crescente tensão entre China e Estados Unidos coloca empresas de origem asiática em posição delicada. Para evitar conflitos comerciais e possíveis barreiras futuras, a Honda e outras marcas japonesas têm preferido ampliar sua base em países aliados de Washington. Isso inclui não apenas os EUA, mas também México e Canadá, que fazem parte do tratado USMCA.

Diplomacia industrial em xeque para o Brasil

A possível mudança da Honda expõe desafios diplomáticos e estratégicos para o Brasil. A aproximação entre o governo brasileiro e a China, embora garanta acesso ao maior parceiro comercial do país, pode gerar ruídos na relação com empresas que priorizam a previsibilidade regulatória dos EUA. Nesse contexto, decisões como a da Honda revelam o impacto que o reposicionamento geopolítico tem sobre o fluxo de investimentos.

Para manter sua relevância no cenário industrial global, o Brasil precisa equilibrar sua inserção internacional com políticas industriais modernas e atraentes. O risco de perder a Honda é mais um lembrete da necessidade de agir de forma rápida e coordenada entre os setores público e privado.

Portanto, diplomacia econômica, segurança jurídica e reformas estruturais devem compor a pauta nacional, caso o país deseje atrair investimentos produtivos e gerar empregos qualificados.

Luiz Fernando
Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.