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Imagens Ghibli viralizam e memecoins disparam

Imagens no estilo do famoso Studio Ghibli, criadas por Inteligência Artificial após uma atualização do ChatGPT, inspiraram a criação relâmpago de memecoins.

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Imagens Ghibli viralizam e memecoins disparam

A internet é um lugar de tendências passageiras, e a mais recente delas mistura a nostalgia da animação japonesa com a tecnologia de ponta da Inteligência Artificial (IA). Tudo começou com uma atualização na popular ferramenta ChatGPT, focada em aprimorar sua capacidade de gerar imagens. Rapidamente, usuários descobriram que podiam pedir à IA para recriar fotos ou criar cenas novas com a estética inconfundível do Studio Ghibli, o lendário estúdio por trás de clássicos como “A Viagem de Chihiro” e “Meu Amigo Totoro”.

O processo é relativamente simples: uma pessoa envia uma imagem qualquer para a ferramenta de IA e dá o comando para “ghiblificar” a imagem, ou seja, transformá-la para que pareça uma pintura feita à mão, com as cores suaves, personagens de olhos expressivos e paisagens sonhadoras típicas do estúdio. O resultado? Uma explosão de conteúdo visualmente encantador que inundou redes sociais como Twitter, Instagram e TikTok.

Mas a criatividade (e a oportunidade) não pararam por aí. O universo das criptomoedas, sempre atento às últimas modas da internet, não demorou a surfar nessa nova onda. Em questão de horas após a popularização das imagens “ghiblificadas”, o mercado viu o nascimento de diversas “memecoins” – criptomoedas criadas em torno de um meme, piada ou tendência da internet, geralmente sem um propósito tecnológico ou fundamental claro por trás.

A principal estrela dessa nova safra foi batizada de Ghiblification (GHIBLI). Criada no blockchain Solana – conhecido pela rapidez e baixo custo na criação de novos tokens – essa memecoin surgiu no calor do momento, enquanto as imagens estilo Ghibli se espalhavam como fogo na palha. A proposta era simples: capitalizar sobre o hype instantâneo gerado pela tendência artística da IA.

E o resultado foi impressionante, pelo menos inicialmente. Partindo literalmente do zero, a Ghiblification viu seu valor disparar. Em menos de 24 horas, atingiu uma capitalização de mercado de aproximadamente US$ 28,3 milhões. Capitalização de mercado, para quem não está familiarizado, é basicamente o valor total de todas as moedas daquele tipo em circulação, multiplicado pelo preço atual de cada uma. Chegar a quase 30 milhões de dólares tão rápido mostra o poder que uma tendência viral pode ter no volátil mercado cripto.

Contudo, como é comum no mundo das memecoins, a euforia não durou para sempre. Após o pico, o preço da GHIBLI começou a cair, devolvendo uma parte significativa dos ganhos. Ainda assim, no momento da apuração, sua capitalização de mercado permanecia considerável, na casa dos US$ 18 milhões, um valor ainda expressivo para um ativo digital nascido de um meme de IA.

A Ghiblification não foi a única a tentar a sorte

Outros desenvolvedores anônimos correram para lançar suas próprias versões. Um caso notório foi a GhibliCZ, criada na BNB Chain (a blockchain associada à gigante exchange Binance). O símbolo dessa moeda? Uma imagem do fundador da Binance, Changpeng Zhao (conhecido como CZ), recriada no estilo Ghibli pela IA. Essa memecoin também teve seu momento de glória, alcançando uma capitalização de mercado de US$ 14,6 milhões em poucas horas. No entanto, sua queda foi ainda mais acentuada, e seu valor de mercado atual gira em torno de US$ 4,3 milhões, uma perda expressiva em relação ao pico.

A criatividade (ou oportunismo) não parou por aí. Tentando combinar a nova tendência com memes já estabelecidos no mercado cripto, surgiram tokens como a Shibli Inu (uma mistura de Ghibli com Shiba Inu, outra memecoin famosa) e a Ghibli Doge (referenciando a Dogecoin). No entanto, essas tentativas tiveram um sucesso muito mais limitado, lutando para superar a marca de US$ 1 milhão em capitalização de mercado por um período sustentado.

Não gostaram nada da novidade

No entanto, o que para muitos era apenas uma diversão tecnológica, para outros soou como um alarme. Fãs ardorosos do Studio Ghibli e, principalmente, artistas e ilustradores, não gostaram nada da novidade. A crítica principal é a de que ferramentas de IA como essa são treinadas com uma quantidade massiva de imagens existentes na internet, muitas delas protegidas por direitos autorais. Para esses críticos, usar a IA para replicar um estilo tão único e fruto de décadas de trabalho humano é, essencialmente, uma forma de “roubo” artístico e desvalorização do trabalho criativo original.

Como é comum em debates online nos dias de hoje, a discussão rapidamente descambou para a polêmica, com trocas de farpas, acusações e um mar de opiniões divididas. De um lado, a defesa da democratização da criação e da diversão proporcionada pela tecnologia. Do outro, a defesa da propriedade intelectual, da originalidade e do esforço humano na arte.

Em meio a todo esse barulho, uma voz fundamental permaneceu em silêncio: a do próprio Studio Ghibli. O estúdio japonês, conhecido mundialmente pela qualidade artesanal e pelo cuidado extremo em suas animações, não emitiu nenhum comunicado oficial sobre a ferramenta do ChatGPT que imita seu estilo visual. Questionada diretamente pela agência de notícias Associated Press (AP), a companhia se recusou a comentar o assunto, deixando no ar qual seria sua posição oficial sobre ter seu estilo icônico possivelmente usado para treinar uma IA.

Mas se o estúdio cala, seu mestre falou – ou melhor, já havia falado. Comentários feitos em 2016 por Hayao Miyazaki, cofundador do Ghibli e diretor aclamado por trás de suas maiores obras, oferecem uma pista clara (e forte) sobre o que ele provavelmente pensa disso tudo. Na ocasião, Miyazaki assistiu, visivelmente contrariado, a uma apresentação da empresa de tecnologia DWANGO. A empresa demonstrava uma IA que havia aprendido a criar movimentos para personagens 3D, focando em “movimentos grotescos que os humanos não podem imaginar”.

A reação de Miyazaki foi dura e direta. Ele não apenas achou a demonstração desinteressante, como a conectou a uma experiência pessoal dolorosa. “Isso me lembra um amigo meu que é deficiente físico”, disse ele na época. “É difícil para ele até mesmo fazer um ‘high five’. […] Eu não consigo assistir a essa coisa e achá-la interessante. Quem cria essas coisas não tem ideia do que significa a dor. Eu estou completamente enojado.”

Ele continuou, deixando sua posição sobre esse tipo de tecnologia inequívoca: “Se você realmente quer fazer coisas assustadoras, pode ir em frente e fazer. Eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia no meu trabalho. Eu sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida“.

É verdade que a declaração de Miyazaki tem alguns anos e se referia a um uso bem específico da IA (geração de movimentos bizarros, não de estilos visuais). Mesmo assim, considerando sua filosofia de trabalho, que sempre priorizou a mão humana, a criatividade orgânica e a exploração das complexas relações entre humanidade e tecnologia (muitas vezes mostrando os perigos do abuso tecnológico em seus filmes), é difícil imaginar que ele veja com bons olhos a atual capacidade do ChatGPT de replicar o estilo Ghibli.

Para alívio dos críticos (e talvez frustração dos entusiastas), a experiência da “ghiblificação” via ChatGPT durou pouco. A OpenAI, empresa responsável, retirou o recurso do ar rapidamente. O motivo alegado oficialmente foi uma sobrecarga nos seus processadores gráficos (GPUs), causada pela alta demanda. No entanto, a remoção também coincidiu com relatos de usuários utilizando a ferramenta para transformar imagens chocantes e inadequadas, como cenas dos ataques de 11 de setembro, no estilo Ghibli, o que gerou ainda mais controvérsia. Atualmente, não há previsão para o retorno da funcionalidade.

Fernando Américo
Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol