Pesando no Bolso

Inflação tem maior alta mensal desde 2003

Mesmo com desaceleração em março, o peso dos alimentos no IPCA mantém pressão sobre a inflação e exige reação do governo e do Banco Central.

Inflação
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  • O IPCA registrou alta de 0,56% em março, acumulando 5,48% em 12 meses.
  • Alimentos como tomate, café e ovos foram os principais responsáveis pela inflação do mês.
  • O governo e o Banco Central adotam medidas para conter a inflação, incluindo aumento da taxa Selic.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,56% em março de 2025, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da desaceleração em relação a fevereiro, os preços dos alimentos continuam a pressionar a inflação, com destaque para o aumento expressivo no custo de itens como tomate, ovos e café.

Inflação desacelera, mas alimentos pesam no bolso

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação no Brasil, subiu 0,56% em março, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representa uma desaceleração em relação a fevereiro, quando o índice havia avançado 0,83%. No entanto, apesar da desaceleração global, os alimentos continuaram exercendo forte pressão sobre o indicador.

O grupo “Alimentação e bebidas” teve alta de 1,17% e foi o que mais impactou o IPCA do mês, com contribuição de 0,25 ponto percentual. O aumento se deve principalmente ao encarecimento de itens essenciais na mesa dos brasileiros, como o tomate, que subiu impressionantes 22,55%, e os ovos, que tiveram alta de 13,13%. Esse comportamento dos preços reflete tanto a entressafra quanto os efeitos climáticos nas regiões produtoras.

Além disso, o café moído registrou inflação acumulada de 77,78% nos últimos 12 meses, influenciado por problemas nas safras do Vietnã, segundo maior produtor global, e pela instabilidade climática em regiões produtoras no Brasil. Esse conjunto de fatores mostra como o comportamento dos alimentos continua sendo o principal fator de instabilidade para o consumidor.

Outros grupos também apresentaram alta

Embora os alimentos tenham liderado, outros grupos também influenciaram o IPCA de março. O setor de Transportes registrou variação positiva de 0,46%, impulsionado pela alta de 6,91% nas passagens aéreas. Esse aumento ocorreu após uma retração de mais de 20% no mês anterior, evidenciando a volatilidade desse segmento. Ainda dentro de Transportes, a gasolina subiu 0,51%, mas desacelerou em relação aos 2,78% observados em fevereiro.

Os combustíveis em geral — incluindo etanol, diesel e gás veicular — também tiveram leve alta, mas com ritmo mais moderado. Já o grupo Habitação avançou 0,24%, com destaque para reajustes em tarifas de energia e gás encanado em algumas capitais. Por sua vez, os Artigos de residência subiram 0,13%, reforçando a tendência de alta generalizada, mesmo que em menor intensidade.

Com variações positivas em todos os nove grupos pesquisados, o IPCA acumula, até março, alta de 2,04% no ano. Já no acumulado de 12 meses, o índice atingiu 5,48%, ficando acima dos 5,06% registrados até fevereiro. Isso mostra que, apesar da desaceleração mensal, a inflação segue pressionada no panorama anual.

Reações do governo e medidas em estudo

A alta dos alimentos tem preocupado o governo federal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou insatisfação com o avanço dos preços, especialmente dos itens básicos que impactam diretamente as classes mais pobres. Como resposta, o Planalto estuda formas de conter a inflação no curto prazo, entre elas o incentivo à importação de alguns produtos e a ampliação da oferta via apoio à produção nacional.

Além disso, o governo tem buscado ajustar estoques reguladores e revisar políticas logísticas para minimizar o impacto de desabastecimentos pontuais. No entanto, segundo especialistas, as medidas têm efeito limitado no curto prazo, e o controle efetivo da inflação depende também de fatores externos e do comportamento climático nos próximos meses.

Em paralelo, o Banco Central reforça sua política monetária contracionista como principal mecanismo de contenção inflacionária. A taxa Selic, atualmente em 14,25%, foi elevada em 3,75 pontos percentuais desde setembro. A autoridade monetária já sinalizou que, se a pressão inflacionária persistir, novas altas podem ocorrer.

Perspectivas e cautela nos próximos meses

Para os próximos meses, a expectativa é de cautela. Analistas do mercado financeiro preveem que a inflação continuará sob pressão, especialmente se os preços dos alimentos permanecerem em patamares elevados. O comportamento do clima, tanto no Brasil quanto nos principais países exportadores, será determinante para os preços agrícolas.

Além disso, o cenário internacional pode trazer desafios adicionais. A valorização do dólar frente ao real tende a encarecer produtos importados, o que também impacta os custos internos. Por isso, a atuação conjunta do governo e do Banco Central será fundamental para garantir a estabilidade econômica.

A previsão é de que a inflação encerre o ano dentro do teto da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), mas próxima do limite superior. Isso dependerá, entre outros fatores, da resposta do mercado às medidas adotadas, do controle fiscal e do comportamento do consumidor diante do encarecimento dos alimentos.

Enquanto isso, a população segue sentindo o impacto direto no dia a dia. Com o orçamento cada vez mais comprometido, famílias de baixa renda são as mais afetadas pela alta persistente de produtos básicos. Nesse contexto, o desafio do governo será manter a inflação sob controle sem frear o crescimento econômico.

Luiz Fernando
Estudante de Jornalismo, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.