Confusão em Brasília

Internautas comparam invasão de indígenas com 8 de janeiro: "Xandão vai prender eles?"

Confronto em ato indígena levanta suspeitas sobre incitação policial e provoca reação nacional nas redes e no Congresso.

Ministro Alexandre de Moraes durante sessao do STF Foto Nelson Jr SCO STF 1
Ministro Alexandre de Moraes durante sessao do STF Foto Nelson Jr SCO STF 1
  • Agente de segurança do DF teria incitado uso de violência contra indígenas.
  • Polícia dispersou o ato usando gás de pimenta, afetando até parlamentares.
  • Povos indígenas exigem investigação, respeito aos seus direitos e segurança nas manifestações.

Manifestação pacífica realizada por indígenas na Esplanada dos Ministérios, em 10 de abril, terminou em confusão. A Apib afirma que um agente de segurança sugeriu uso de força contra os manifestantes em reunião no dia anterior. O episódio reacendeu críticas sobre o tratamento policial a protestos de povos originários.

Protesto pacífico acaba em repressão policial

Na última quinta-feira (10), indígenas de diversas etnias ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com o objetivo de protestar contra pautas legislativas que afetam seus direitos. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) organizou a manifestação, que ocorreu de forma pacífica durante as primeiras horas do ato. Os participantes entoaram cânticos, realizaram rituais e discursaram diante do Congresso Nacional.

Desde o início, a organização deixou claro que a mobilização buscava pressionar parlamentares contra o Marco Temporal e outras propostas que ameaçam a demarcação de terras. As lideranças indígenas explicaram seus posicionamentos com firmeza, enquanto centenas de apoiadores se somaram ao movimento.

No entanto, à medida que o número de manifestantes crescia, a Polícia Militar do Distrito Federal aumentava a presença de agentes e o cerco ao local. Mesmo sem sinais de violência, a tropa de choque usou gás de pimenta para dispersar os indígenas, provocando tumulto. Crianças, idosos e inclusive parlamentares, como a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), sofreram os efeitos do gás.

A parlamentar denunciou a ação como desproporcional e violenta, destacando que os policiais agiram de forma truculenta sem qualquer provocação. Além disso, organizações de direitos humanos condenaram o uso da força e pediram uma resposta institucional diante do abuso.

Áudio expõe suposta incitação antes do confronto

Na noite anterior ao protesto, integrantes da Apib participaram de uma reunião com representantes da segurança pública do DF. Durante o encontro, alguém teria gravado um áudio no qual um agente de segurança sugere o uso de força contra os manifestantes, dizendo expressões como “mete o cacete”.

Logo após o confronto de quinta-feira, o áudio começou a circular nas redes sociais e despertou a atenção da imprensa. Embora o protesto não tenha ocorrido por causa da gravação, o conteúdo gerou suspeitas sobre a motivação por trás da repressão. Muitos usuários entenderam a fala como uma possível ordem informal para agir com violência.

A Apib reagiu imediatamente. A entidade denunciou o conteúdo como incitação à violência e protocolou pedidos formais de investigação junto à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério da Justiça. Segundo os líderes indígenas, a fala demonstra clara intenção de reprimir o movimento.

Enquanto isso, a Secretaria de Segurança Pública do DF informou que abriu uma apuração interna. A instituição afirmou que, caso se comprove a autenticidade do áudio, adotará as medidas cabíveis contra o autor. Até agora, o governo do Distrito Federal não divulgou oficialmente o nome do responsável pela fala.

Redes sociais inflamam debate e comparam com 8 de janeiro

Logo após o confronto, as redes sociais passaram a registrar comparações entre o protesto indígena e os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Usuários questionaram se o ministro Alexandre de Moraes, do STF, tomaria medidas semelhantes às aplicadas contra os envolvidos nas invasões dos Três Poderes.

Embora os contextos sejam diferentes, as comparações ganharam força à medida que imagens da repressão viralizavam. Alguns internautas cobraram coerência institucional e denunciaram o que consideram um tratamento desigual entre manifestantes indígenas e extremistas golpistas.

Com isso, a hashtag #JustiçaParaOsIndígenas entrou nos assuntos mais comentados do X (antigo Twitter). Diversos parlamentares usaram as redes para manifestar apoio aos povos originários e condenar a atuação da PMDF. Entre eles, estavam lideranças da bancada do PSOL e da Rede Sustentabilidade.

Por outro lado, aliados do governo do Distrito Federal defenderam a ação policial e alegaram que os agentes agiram dentro do protocolo. Contudo, o clima de polarização cresceu, e o debate sobre repressão estatal contra populações vulneráveis voltou ao centro do noticiário nacional.

Mobilização continua e entidades cobram respostas

Após o episódio, a Apib anunciou que manterá a mobilização em Brasília pelos próximos dias. As lideranças indígenas pretendem realizar novos atos em frente ao Congresso e protocolar pedidos formais de audiência com ministros do governo federal.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se pronunciou. Em nota, a instituição reforçou o direito à manifestação pacífica e criticou o uso excessivo da força. A entidade declarou que acompanhará as investigações e cobrará providências legais, caso se comprove o abuso policial.

Além disso, deputados da oposição e da base governista cobraram explicações do governador Ibaneis Rocha (MDB), responsável pela PMDF. Os parlamentares querem que ele se posicione sobre a fala do agente e sobre o uso de gás de pimenta em manifestantes desarmados.

Mesmo diante da repressão, os indígenas reafirmaram sua disposição de continuar lutando por seus direitos. Eles afirmaram que não vão recuar diante da violência institucional e que seguirão pressionando o Congresso Nacional para barrar projetos que atacam suas garantias constitucionais.

Luiz Fernando
Estudante de Jornalismo, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.