- R$ 10 bilhões em CDBs do Banco Master estão à venda, refletindo desconfiança dos investidores após anúncio de venda ao BRB.
- A concentração em ativos de baixa liquidez e o alto endividamento colocam o banco sob pressão por capital.
- O modelo baseado em garantias do FGC mostra sinais de esgotamento diante de riscos mal calculados.
Após o anúncio de sua venda ao BRB e a revelação de dificuldades financeiras, o Banco Master enfrenta uma fuga de investidores. A tentativa de desovar R$ 10 bilhões em CDBs pressiona os rendimentos para cima e revela uma crise de confiança no mercado. A concentração de ativos ilíquidos, o endividamento elevado e a desconfiança quanto à operação com o BRB colocam o banco sob intenso escrutínio.
Pressão sobre os títulos e desconfiança no mercado
Os investidores reagiram com desconfiança ao anúncio de venda do Banco Master para o BRB, banco controlado pelo governo do Distrito Federal. Após a notícia, investidores pessoas físicas iniciaram uma corrida para vender seus Certificados de Depósito Bancário (CDBs), totalizando cerca de R$ 10 bilhões em papéis disponíveis nas plataformas da XP e do BTG Pactual.
Em consequência, os rendimentos oferecidos nesses papéis subiram acentuadamente. Títulos com vencimento em maio de 2026 estão pagando inflação mais 11,5% ao ano. Esse patamar supera os 8,5% oferecidos por concorrentes como o Banco Pine, revelando o risco percebido pelos investidores. Apesar da atratividade, a demanda caiu, e o Master precisaria oferecer ainda mais juros para atrair compradores.
Portanto, o movimento evidencia uma crise de liquidez. Ao se desfazerem em massa dos CDBs, os investidores sinalizam falta de confiança na capacidade do banco de honrar suas obrigações, especialmente diante do volume de vencimentos no curto prazo.
Endividamento crescente e ativos de difícil liquidação
Os dados do balanço de 2024 mostram que o Banco Master enfrenta sérias pressões de caixa. No primeiro semestre do ano, vencem cerca de R$ 8,3 bilhões em depósitos. No segundo semestre, mais R$ 4,6 bilhões chegam ao vencimento, totalizando R$ 16 bilhões ao longo de 2025.
Além disso, a composição da carteira de ativos do banco preocupa analistas. A maior parte dos recursos está investida em precatórios e ações de empresas pequenas e médias — ativos com baixa liquidez. Isso dificulta a conversão rápida em caixa, justamente quando o banco mais precisa de liquidez.
Dois analistas ouvidos pela Bloomberg, sob condição de anonimato, questionaram se o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) deveria intervir com uma linha emergencial. A ideia seria dar tempo para uma solução coordenada entre o Banco Central, o BRB e os principais bancos do país, que são os principais financiadores do FGC.
Expansão acelerada e modelo de captação arriscado
Nos últimos anos, o Banco Master cresceu de forma agressiva. A instituição expandiu sua carteira de crédito com ritmo médio de 86% ao ano e passou a operar em locais como Miami, onde alugou um escritório luxuoso. O crescimento foi sustentado, sobretudo, por captações junto a pessoas físicas, por meio de CDBs garantidos pelo FGC — que cobre até R$ 250 mil por CPF por instituição.
Apesar dessa garantia, o modelo passou a ser visto como arriscado após as recentes revelações. Muitos analistas entendem que o banco assumiu riscos desproporcionais, contando com a confiança cega no FGC como escudo. Agora, diante da falta de liquidez e da pressão dos investidores, o modelo entra em xeque.
Além da estrutura de capital frágil, o negócio com o BRB levanta questionamentos. Para críticos, a transação se assemelha a um socorro disfarçado, que transfere o risco do setor privado para o público, sem a devida transparência.
Panorama e perspectivas
A situação do Banco Master ainda é incerta. Enquanto os rendimentos dos CDBs continuam subindo, o número de interessados segue em queda.
Sendo assim, o receio dos investidores de ficarem presos a papéis ilíquidos cresce. Ao mesmo tempo, o silêncio de representantes do banco e do BRB sobre os desdobramentos aprofunda a sensação de insegurança.
Portanto, o episódio lança luz sobre os riscos do crescimento desordenado e das apostas excessivas em ativos difíceis de precificar. Além disso, reacende o debate sobre os limites do FGC como instrumento de proteção e os critérios para resgates institucionais em instituições com modelo de negócios tão exposto.