
- Itaipu vai financiar um hotel cinco estrelas de R$ 200 milhões em Belém para a COP-30.
- Críticos apontam que o investimento ignora os problemas estruturais da cidade.
- O governo defende o hotel como parte de um plano de legado turístico e diplomático.
A Itaipu Binacional anunciou o financiamento de R$ 200 milhões para a construção de um hotel cinco estrelas em Belém, destinado a hospedar líderes mundiais durante a COP-30.
Desse modo, o projeto gerou críticas por ocorrer em uma cidade com sérios problemas de infraestrutura e saneamento. O governo defende o investimento como estratégico e parte de um pacote de melhorias para o evento.
Hotel financiado por Itaipu causa repercussão nacional
A Itaipu, estatal binacional controlada pelos governos do Brasil e do Paraguai, irá investir R$ 200 milhões na construção de um hotel de luxo em Belém (PA).
O empreendimento foi concebido para receber chefes de Estado e diplomatas durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), marcada para novembro de 2025.
Segundo o projeto, o hotel — chamado Vila dos Líderes — contará com cerca de 500 suítes de alto padrão, áreas de lazer, restaurantes e centros de convenções.
A decisão gerou reações entre autoridades e especialistas: enquanto o governo defende o hotel, críticos citam a precariedade da infraestrutura e dos serviços em Belém.
Belém enfrenta desafios sociais e urbanos severos
A capital paraense tem cerca de 1,5 milhão de habitantes e enfrenta problemas crônicos de urbanização. Dados do IBGE e da ANA (Agência Nacional de Águas) apontam que mais da metade da população vive sem acesso a esgotamento sanitário adequado.
Há ainda um alto índice de moradias precárias e ruas sem pavimentação, especialmente em bairros periféricos.
Nesse cenário, setores da sociedade civil questionam a pertinência de se construir um hotel cinco estrelas com verba pública, enquanto escolas, hospitais e o sistema de transporte urbano continuam abandonados.
Além disso, o projeto foi criticado por não ter passado por consulta pública nem licitação transparente até o momento da divulgação.
Governo defende legado turístico e diplomático
O governo do Pará, por sua vez, argumenta que o hotel deixará um legado estrutural para a cidade, impulsionando o turismo de alto padrão. O governador Helder Barbalho afirmou:
“Belém precisa estar preparada para receber o mundo e mostrar sua capacidade de sediar grandes eventos internacionais com dignidade e infraestrutura adequada”.
Além disso, a equipe de coordenação da COP-30 também afirmou que o hotel é uma solução estratégica diante da falta de leitos qualificados.
Atualmente, Belém conta com cerca de 18 mil leitos, mas a expectativa é de que mais de 60 mil visitantes passem pela cidade durante o evento.
Investimento se soma a pacote bilionário de infraestrutura
Além do hotel, Itaipu anunciou R$ 1,3 bilhão em convênios com o governo do Pará e a prefeitura de Belém para obras complementares de infraestrutura.
Os projetos incluem a instalação de 50 km de redes de esgoto, pavimentação de vias, reforma de praças públicas e revitalização de áreas históricas.
Sendo assim, o pacote visa melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida da população, ao mesmo tempo em que prepara a cidade para o evento.
Desse modo, organizações locais pedem maior transparência sobre os contratos, o cronograma das obras e os impactos a longo prazo, especialmente nas comunidades mais vulneráveis.
Críticos apontam risco de “legado vazio”
Especialistas alertam que eventos como a Rio+20 e a Copa de 2014 costumam deixar ‘legados vazios’, com obras subutilizadas ou abandonadas.
Então, para evitar esse cenário, eles defendem que os investimentos sejam acompanhados de planejamento participativo e compromissos permanentes com o desenvolvimento local.
O caso do hotel da Itaipu, segundo eles, exemplifica o risco de uma política voltada à estética diplomática em detrimento da realidade social.
Teme-se que, após o evento, o hotel simbolize o desalinho entre as prioridades do governo e as reais necessidades da população.