Mercado brasileiro em baixa

Kinea aponta "fantasma fiscal" no Brasil e aposta no dólar

Gestora avalia que aumento da Selic e desafios fiscais podem pressionar a economia brasileira, enquanto aposta em oportunidades no exterior para proteger os investimentos.

Kinea aponta "fantasma fiscal" no Brasil e aposta no dólar
  • A Kinea alerta que a elevação da Selic para 14% ou mais pode pressionar a economia brasileira, agravando o problema fiscal estrutural
  • A gestora está “vendida” em bolsa brasileira, apostando na desvalorização dos ativos locais devido ao aumento de juros e contração fiscal
  • A Kinea investe no fortalecimento do dólar frente a outras moedas, enquanto busca oportunidades mais favoráveis no exterior

A Kinea Investimentos, uma das maiores gestoras de recursos do Brasil, emitiu um alerta sobre os desafios fiscais do país. E, ainda, as possíveis implicações para a economia em 2025. Em sua carta mensal sobre a estratégia multimercado, a gestora apontou o retorno do “fantasma” fiscal. Dessa forma, destacando que a elevação da Selic, que pode chegar a 14% ou mais no próximo ano, pode agravar a já delicada situação fiscal do Brasil.

A Kinea destacou que uma taxa de juros tão elevada pode criar um ciclo vicioso, no qual o aumento do déficit primário e os elevados juros reais pressionam a relação dívida/PIB do país.

Isso, por sua vez, pode reduzir a eficácia da política monetária. Dessa forma, dificultando o crescimento econômico e ampliando os custos da dívida pública.

“Uma taxa Selic a esses níveis pode trazer novamente o fantasma do problema fiscal estrutural brasileiro”, afirmou a gestora.

Estratégia de proteção e desvalorização no mercado

Em resposta a esse cenário, a Kinea adotou uma postura defensiva em relação ao mercado doméstico. A gestora está “vendida” em bolsa brasileira, ou seja, está em uma posição que se beneficia da desvalorização dos ativos locais. Contudo, um reflexo da combinação de alta de juros e a pressão de uma contração fiscal.

De acordo com a gestora, o mercado local não oferece as mesmas oportunidades que os mercados internacionais. A Kinea tem direcionado parte de seus investimentos para ações no exterior, onde enxerga mais oportunidades de valorização, em um ambiente com condições macroeconômicas mais favoráveis.

A empresa destacou que as condições fiscais internas e as pressões inflacionárias têm levado à procura por ativos mais seguros fora do Brasil.

Perspectivas para a economia brasileira

Apesar das dificuldades fiscais e da possibilidade de uma desaceleração econômica, a Kinea não vê o Brasil em uma situação de “abismo fiscal” imediato, ou seja, uma situação insustentável do ponto de vista das contas públicas.

A gestora reconhece que a economia brasileira está superaquecida, impulsionada pelo aumento dos gastos públicos. Ainda, com um impulso fiscal estimado em cerca de 3% do PIB.

No entanto, a Kinea acredita que o governo não está acelerando ainda mais seus gastos e que a política monetária está se tornando mais contracionista. Contudo, o que deve ajudar a reduzir esse impulso fiscal nos próximos meses.

Apesar desse arrefecimento, a gestora alerta para o risco de uma “perda de tração” na economia, com um possível desaceleramento das atividades em 2025. A Kinea também expressou preocupação com o aumento do prêmio de risco dos ativos locais. Um fenômeno que poderia ocorrer caso o governo não consiga recuperar a credibilidade necessária, em meio a um ambiente externo mais turbulento.

O anúncio recente de um pacote de corte de gastos e isenção do Imposto de Renda para salários abaixo de R$ 5.000 causou reações negativas no mercado, com uma elevação do dólar e um aumento nas taxas futuras de juros.

Projeções inflacionárias e expectativas para o dólar

A Kinea prevê que, no primeiro semestre de 2025, a inflação, medida pelos núcleos de preços (que excluem alimentos e energia), deverá permanecer em torno de 6%. A combinação da depreciação do real, que já acumula uma queda de 20% em 2024, com a inflação no atacado, está pressionando os preços internos, especialmente em setores como o de alimentos.

A gestora destacou o aumento de 45% no preço do boi gordo desde setembro como um exemplo dos choques nos preços de commodities.

Diante desse cenário, a Kinea aposta na valorização do dólar, acreditando que o fortalecimento da moeda americana frente a outras divisas. Que, assim, será impulsionado pela perspectiva de aumento do diferencial de juros entre os EUA e o Brasil. Isto, além da força da atividade econômica americana.

A estratégia da gestora inclui uma posição comprada em dólar contra o renminbi (moeda chinesa) e outras moedas europeias. Assim, aproveitando o fortalecimento do dólar no cenário internacional.

Situação da Kinea Investimentos

A Kinea Investimentos, controlada pelo Itaú Unibanco, é uma das principais gestoras de recursos no Brasil, com um portfólio de R$ 132,7 bilhões em ativos sob gestão em outubro de 2024. A gestora, com sua estratégia multimercado, tem focado em se proteger dos riscos domésticos, buscando aproveitar as oportunidades no mercado externo e nos ativos mais seguros, como o dólar. Enquanto monitora de perto os desafios fiscais e econômicos que o Brasil enfrenta.

Com a abordagem cautelosa e as apostas no exterior, a Kinea busca minimizar os impactos de uma possível desaceleração econômica no Brasil e garantir a rentabilidade de seus investimentos diante de um cenário global e local cada vez mais complexo.

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