
Traders experientes estão buscando refúgio no mercado de opções, uma estratégia para se proteger contra possíveis novas quedas nos preços. O gatilho para essa onda de cautela? Os anúncios sobre novas tarifas de importação planejados pelo presidente Donald Trump para a próxima semana, que estão colocando não apenas o mercado cripto, mas todo o sistema financeiro global em estado de alerta.
A principal evidência dessa busca por segurança vem da análise do interesse aberto – que nada mais é do que o número total de contratos de opções que ainda não foram fechados ou expirados. Dados da Deribit, uma das maiores corretoras de opções de criptomoedas do mundo, mostram um pico de interesse em opções de venda (conhecidas como “puts”) com um preço de exercício de US$ 80.000. O detalhe crucial é que esses contratos expiram em 4 de abril, exatamente dois dias após a data prometida por Trump para o anúncio das tarifas.
O que são essas “puts”? Basicamente, são contratos que dão ao comprador o direito (mas não a obrigação) de vender um ativo, como o Bitcoin, a um preço pré-determinado (neste caso, US$ 80.000) até uma data específica. A alta procura por essas opções de venda sugere claramente que muitos traders estão pagando um prêmio para garantir que possam vender seus Bitcoins a US$ 80.000, caso o preço real da criptomoeda caia abaixo desse valor após o anúncio de Trump. É como comprar um seguro contra uma desvalorização acentuada.
Bitcoin e Altcoins Sentem o Impacto da Incerteza
A tensão já se reflete nos preços. Nesta sexta-feira, o Bitcoin (BTC) chegou a cair 4,2%, sendo negociado a US$ 83.637, perdendo boa parte dos ganhos que havia registrado no início da semana. Vale lembrar que a principal criptomoeda do mercado chegou a cair brevemente abaixo da marca de US$ 80.000 no dia 13 de março, mostrando a volatilidade recente.
E não foi só o Bitcoin. Outras criptomoedas menores, que geralmente têm menos liquidez (ou seja, são mais difíceis de comprar e vender rapidamente sem afetar o preço), sofreram quedas ainda mais expressivas. Tokens populares como Ether (ETH), XRP e Solana (SOL) registraram quedas em torno de 7% nesta sexta-feira, indicando que o sentimento de aversão ao risco está se espalhando por todo o ecossistema cripto.
Indicadores Técnicos Apontam para Baixa
A análise técnica do mercado de opções reforça esse cenário de pessimismo no curto prazo. Caroline Mauron, cofundadora da Orbit Markets, uma plataforma especializada em derivativos de cripto, aponta para o “risk-reversal”. Explicando de forma simples, esse indicador compara o preço das opções de compra (que apostam na alta) com o preço das opções de venda (que apostam na baixa ou protegem contra ela). Segundo Mauron, o “risk-reversal” para os contratos que expiram em 4 de abril está em seu nível mais caro, o que significa que está custando mais para se proteger contra quedas do que para apostar em altas. Isso indica um forte sentimento de baixa (bearish) entre os participantes do mercado.
Outro indicador importante é a relação put-call, que compara o volume de opções de venda com o de opções de compra. Para a expiração de 4 de abril na Deribit, essa relação está em 1,4. Um número acima de 1 significa que há mais contratos de opções de venda sendo negociados do que de compra, reforçando a ideia de que a preferência atual é pela proteção contra quedas de preço.
Ouro Dispara e Confirma Aversão ao Risco Global
Essa preocupação não está restrita ao mercado cripto. Outros ativos considerados “refúgios seguros” também estão reagindo. “O ouro à vista disparou para uma máxima histórica acima de US$ 3.080, sinalizando uma aversão mais ampla ao risco”, comenta Augustine Fan, sócio da SignalPlus, uma empresa de análise de dados de mercado. Ele complementa dizendo que, ao mesmo tempo, “o viés de puts do Bitcoin atingiu máximas intermediárias em relação às calls, com traders totalmente posicionados para um cenário de baixa no curto prazo”. Ou seja, os investidores estão buscando segurança no ouro e, no mercado cripto, estão se preparando para o pior.
A tensão atual foi intensificada por uma ação concreta de Trump. Na quarta-feira, ele assinou uma ordem impondo uma tarifa de 25% sobre importações de automóveis e autopeças, com a medida entrando em vigor em 3 de abril. Essa decisão aumenta a incerteza sobre os próximos passos da política comercial americana.
Samer Hasn, analista sênior de mercado da XS.com, alerta para os perigos: “Essas tarifas podem provocar retaliações, escalando as tensões não apenas com os EUA, mas também entre outros parceiros comerciais globais”. Ele acrescenta que “o risco de uma guerra comercial em larga escala é real, o que pode desestabilizar ainda mais os mercados.” Uma guerra comercial pode significar menos crescimento econômico global, mais inflação e, consequentemente, menos apetite por ativos de risco como as criptomoedas.
É interessante notar a relação histórica complexa entre as políticas de Trump e o Bitcoin. Algumas vitórias comerciais anteriores do presidente ajudaram a impulsionar o Bitcoin para sua máxima histórica de US$ 109.241 em janeiro.
No entanto, os desdobramentos mais recentes de suas políticas comerciais, especialmente envolvendo aliados próximos como Canadá e México, coincidiram com uma correção de mais de 20% no preço da maior criptomoeda do mercado. Isso mostra como a instabilidade gerada por essas políticas pode, rapidamente, afetar negativamente o sentimento dos investidores.