
O mercado imobiliário de São Paulo está em alta — e o movimento chama atenção justamente por acontecer em meio a um cenário marcado por instabilidade econômica e insegurança jurídica. Segundo dados do Secovi-SP, o volume de lançamentos e vendas de imóveis novos segue crescendo, desafiando a lógica tradicional de retração em tempos turbulentos.
Para especialistas em Direito Imobiliário, o fenômeno tem explicações concretas — e nuances subjetivas. “O cenário é curioso, e ao mesmo tempo revelador”, observa Kevin de Sousa, advogado e mestre em Direito, com formação em Contratos pela Universidade de Harvard.
“Mesmo imerso em incertezas, o mercado de imóveis parece ter encontrado espaço para respirar — e até florescer.”
Entre os fatores que impulsionam o setor, Kevin destaca a combinação entre demanda reprimida, desejo de segurança patrimonial e o redirecionamento de investimentos.
“Quando outros ativos perdem previsibilidade, o imóvel se mantém como símbolo de estabilidade. É uma escolha que fala tanto com o bolso quanto com a necessidade de previsibilidade em tempos incertos.”
Stéfano Ribeiro Ferri, especialista em Direito Imobiliário e do Consumidor e membro da Comissão de Direito Civil da OAB/Campinas, complementa:
“O imóvel voltou a ser visto como um porto seguro. Em momentos de instabilidade, muitas famílias e investidores preferem algo concreto, menos exposto à volatilidade de ativos como ações e criptoativos.”
O crédito também entra como fator-chave. “Mesmo com a Selic elevada, o financiamento imobiliário continua relativamente acessível, com taxas atrativas quando comparadas a outras épocas”, explica Stéfano.
“Além disso, linhas atreladas à poupança ou ao IPCA e programas de incentivo mantêm o fôlego das vendas.”
Para ambos os especialistas, o pós-pandemia também redesenhou o comportamento do consumidor. “A pandemia mudou a forma como as pessoas enxergam a própria casa”, observa Stéfano.
“Houve uma valorização do espaço doméstico e uma busca por imóveis mais confortáveis ou localizados em regiões com melhor infraestrutura.”
Embora os dados indiquem um ciclo positivo, Kevin e Stéfano fazem alertas importantes. “É preciso cuidado para que o entusiasmo não se transforme em complacência”, afirma Kevin.
“O mercado imobiliário brasileiro ainda convive com altos índices de judicialização. E ignorar os riscos jurídicos pode comprometer a sustentabilidade do crescimento.”
Stéfano aponta para os riscos ligados ao crédito e à oferta. “O endividamento das famílias ainda é alto. E a superoferta em determinados nichos, como studios ou alto padrão, pode levar ao encalhe. Há um equilíbrio delicado entre manter o ritmo de crescimento e não saturar o mercado.”
Num cenário instável, a segurança jurídica torna-se prioridade. “A assessoria jurídica especializada não é luxo — é necessidade”, afirma Kevin.
“A compra de um imóvel, especialmente na planta, exige olhar técnico e criterioso. O comprador está assumindo um compromisso de longo prazo, que envolve mais do que o valor do imóvel — envolve garantias, riscos e projeções futuras.”
Stéfano reforça: “É essencial fazer uma due diligence completa, avaliar a saúde da incorporadora, revisar contratos e garantir o registro definitivo do imóvel. Cláusulas mal redigidas, índices de reajuste mal definidos ou promessas vagas podem virar dor de cabeça.”