Na última segunda-feira, 17 de fevereiro, o governo do presidente argentino Javier Milei anunciou que investigará o próprio chefe do Executivo por ter estimulado investimentos em criptomoedas, criando um ambiente de incerteza e propício a potenciais fraudes. Essa decisão representa um grande revés para Milei, que estava desfrutando de um período de alta popularidade antes do escândalo. A “investigação urgente” será conduzida pelo Escritório Anticorrupção, vinculado à Casa Rosada.
Além disso, a repercussão negativa resultou na retirada de uma publicação oficial sobre o tema. A oposição, não menos reativa, nos próximos dias deverá apresentar um pedido de impeachment, que deve estar em pauta na Câmara dos Deputados.
Sob o comando do Escritório Anticorrupção, foi estabelecida a “Unidade de Força-Tarefa de Investigação”. Tentando se explicar, Milei comentou: “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois de tomar conhecimento, decidi não continuar difundindo-o”. No entanto, suas palavras não foram suficientes para acalmar a tempestade política que se levantou.
Milei se tornou o centro das atenções, figurando nas capas dos principais jornais argentinos, como La Nación, Clarín e Página 12, além do prestigiado The New York Times, que publicou uma reportagem crítica sobre o presidente que incentivou pessoas a “investimentos arriscados”.
O Polêmico Projeto $LIBRA
Sobre o projeto que desencadeou tudo isso, Milei publicou no X (antigo Twitter) uma mensagem promovendo a criptomoeda $LIBRA. “O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, sentenciou. Esse token, sendo uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain, não tinha valor em moeda real. Segundo Milei, a criptomoeda estava destinada a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando principalmente pequenas empresas.
No entanto, a publicação rapidamente atraiu críticas, com muitos acusando Milei de estar associando a medida a esquemas de fraudes como Ponzi e pirâmides. O senador da UCR (centro), Martín Lousteau, enfatizou que essa não era a primeira vez que Milei se relacionava com ativos de criptomoeda suspeitos.
A Oposição Não Tarda a Reagir
O bloco União pela Pátria, liderado por peronistas, reagiu com veemência, anunciando a intenção de pedir impeachment contra o presidente. Para o deputado da Coalizão Cívica, Maximiliano Ferraro, o caso era “gravíssimo”, definindo a situação como uma manobra especulativa que poderia ter sido alimentada pela posição política de Milei e pelo uso de informações privilegiadas.
A ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner não ficou atrás, ressaltando que “milhares de pessoas confiaram em Milei e perderam milhões de dólares”, enquanto outros aparentemente se beneficiaram de informações privilegiadas.
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A Denúncia de “Megagolpe”
Um grupo de representantes da sociedade civil, entre eles o ex-deputado Claudio Lozano, e ativistas como Jonatan Baldiviezo e Marcos Zelaya, falou de um potencial “megagolpe” promovido por Milei. As alegações de manipulação no lançamento da criptomoeda $LIBRA estão gerando um clima de indignação na sociedade argentina.
Especialistas em finanças digitais já analisam os impactos dessa situação no mercado e falam sobre as potenciais consequências negativas que uma crise de credibilidade pode acarretar.
Preocupações com o Mercado
Com a crise se desenrolando, analistas argentinos estão preocupados com a queda nos títulos e ações, além de uma possível alta no dólar. Trread Guy, um influenciador digital, expressou sua frustração, revelando que perdeu US$ 250 mil depois de seguir as recomendações do presidente. A proporção de ativos de $LIBRA, que estava nas mãos de poucos antes do apoio de Milei, levou a uma queda acentuada em seu valor depois que muitos dos detentores começaram a vender suas participações.
O Esquema da “Puxada de Tapete”
O fenômeno por trás dessa desvalorização é conhecido como “puxada de tapete.” Javier Smaldone, especialista em informática e influenciador que alerta sobre esquemas fraudulentos, disse que se cria uma criptomoeda que, após um período inicial de liquidez, passa a ter uma campanha publicitária de divulgação, atraindo novos investidores, antes que os fundadores comecem a liquidar seus ativos.
O Desfecho da Publicação de Milei
A crise começou após a publicação de Milei na sexta-feira, 14, promovendo a criptomoeda $LIBRA. Depois que o ativo teve um aumento estrondoso de valor, os desenvolvedores da moeda começaram a vender suas participações, fazendo com que o valor do ativo despencasse rapidamente.
Após a desvalorização, Milei apagou sua mensagem original e, em uma nova postagem, declarou que não estava ciente dos detalhes sobre a criptomoeda, enfatizando que não tinha vínculo algum com o projeto.
Apressando a Investigação
Diante de toda a pressão dos opositores e aliados, o governo argentino anunciou a criação de uma investigação urgente. O presidente Milei direcionou o assunto para o Escritório Anticorrupção, pedindo que averiguassem se houve conduta imprópria. A “Força-Tarefa Investigativa” já está em movimento para elucidar as possíveis irregularidades em torno deste polêmico investimento em criptomoedas.
Essa saga envolvendo o presidente e a criptomoeda $LIBRA continua se desenrolando, e a expectativa é que impacte significativamente o cenário político e econômico da Argentina. O país assiste, atento, a mais um episódio de crise em sua já conturbada história política.
