
O mercado de criptomoedas foi surpreendido nesta segunda-feira por uma alta explosiva da Monero (XMR), uma moeda digital conhecida por seu foco em privacidade. O preço do ativo simplesmente disparou mais de 50% em questão de horas, chamando a atenção de investidores e analistas. Mas o que estaria por trás desse movimento tão brusco? Investigadores que monitoram atividades na blockchain apontam para uma possibilidade um tanto quanto sombria: hackers podem estar usando a Monero para lavar uma quantia gigantesca de Bitcoin roubado, estimada em US$ 330 milhões, o equivalente a cerca de R$ 1,8 bilhão.
Enquanto a Monero roubava a cena, o restante do mercado cripto também mostrava um certo otimismo no início da semana. O Bitcoin (BTC), a maior criptomoeda do mundo, registrava uma alta mais modesta, assim como o Ethereum (ETH). Outras moedas importantes no top 10, como XRP, BNB, Solana (SOL), Dogecoin (DOGE) e Cardano (ADA), também seguiam a tendência positiva, com exceção da Tron (TRX), que operava em queda.
A suspeita sobre a lavagem de dinheiro ganhou força após uma publicação do investigador on-chain conhecido como ZachXBT. Ele destacou nas redes sociais uma “transferência suspeita” de 3.520 BTC (aproximadamente US$ 333 milhões) que teriam saído da carteira de uma “possível vítima”. O que aconteceu depois foi crucial: esses Bitcoins foram rapidamente trocados por Monero (XMR) através de diversas corretoras (exchanges). ZachXBT acredita que se trata de um “roubo” não só pelo volume, mas também pelas altas taxas pagas na transação e pela atividade suspeita que se seguiu à movimentação inicial.
Posteriormente, o investigador acrescentou detalhes, afirmando ser “altamente provável” que o ataque não tenha ligação com a Coreia do Norte (frequentemente associada a grandes hacks de cripto) e que a vítima seria alguém que guardava seus Bitcoins há muito tempo (um “long-term holder”).
A reação do mercado à notícia foi imediata. O preço da XMR saltou de forma vertiginosa, atingindo um pico de US$ 347,72 em apenas sete horas. Após a euforia inicial, o preço recuou um pouco, mas ainda se mantinha com uma valorização expressiva no dia.
Por que Monero? A Questão da Privacidade
Mas por que os supostos hackers escolheriam justamente a Monero? A resposta está na principal característica dessa criptomoeda: a privacidade. Enquanto em blockchains como a do Bitcoin e do Ethereum todas as transações e endereços de carteiras são públicos e podem ser rastreados (embora a identidade real do dono da carteira possa ser anônima), a Monero utiliza tecnologias avançadas para “embaralhar” essas informações. Endereços de envio e recebimento, bem como os valores transacionados, são ofuscados, tornando o rastreamento de fundos extremamente difícil.
Essa característica, embora valorizada por defensores da privacidade, tornou a Monero uma ferramenta popular entre agentes mal-intencionados que buscam esconder a origem e o destino de fundos ilícitos.
As autoridades estão cientes desse desafio. Em 2020, a Receita Federal dos EUA (IRS) chegou a oferecer uma recompensa de US$ 625.000 para quem conseguisse “quebrar” a privacidade da Monero. Empresas especializadas em rastreamento de blockchain, como a Chainalysis e a Integra FEC, foram contratadas para auxiliar nesse esforço.
Apesar da robustez da privacidade da Monero, já houve casos de criminosos que utilizavam a moeda e foram pegos. Um exemplo notório foi o de um traficante britânico da dark web, Jack Edward Finney. No entanto, sua captura e a apreensão de seus XMR não ocorreram porque a polícia conseguiu decifrar a rede, mas sim porque o próprio criminoso transferiu os fundos para os investigadores como parte de um acordo.
Recentemente, na Finlândia, autoridades alegaram ter conseguido rastrear transações em Monero. Contudo, especialistas como Csilla Brimer, ex-membro do comitê do MAGIC Monero Fund, argumentam que esses casos geralmente ocorrem devido a falhas na segurança operacional (OpSec) do próprio usuário, e não por uma vulnerabilidade da rede Monero em si. “Se você não for cuidadoso […] e ficar alternando entre Bitcoin e Monero, pode acabar vazando informações”, explicou Brimer. “Monero é muito sólido para proteger os detalhes das suas transações, mas não pode te salvar de falhas nos seus próprios hábitos de segurança.”
A recente disparada da XMR, ligada a essa suspeita de lavagem massiva, reacende o debate sobre o papel das moedas de privacidade no ecossistema cripto e os desafios que elas representam para a regulação e a aplicação da lei.