Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o real se destacou negativamente ao figurar entre as moedas que mais perderam valor em relação ao dólar. Dados apontam que a moeda brasileira foi a sétima com pior desempenho no mundo naquele período, superando apenas economias fragilizadas como Sudão do Sul, Etiópia, Nigéria, Egito, Gana e Argentina.
O cenário gerou críticas contundentes de integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e de aliados, muitos dos quais hoje ocupam ministérios no governo Lula. Declarações feitas à época nas redes sociais, principalmente no antigo Twitter — hoje “X” —, foram resgatadas recentemente em publicações de figuras bolsonaristas, como o próprio ex-presidente.
“Desvalorização do real foi inadmissível”
Uma das críticas destacadas foi feita por Simone Tebet, atual ministra do Planejamento e Orçamento, que, enquanto senadora, usou a plataforma para atacar o patamar do dólar, que chegou a superar os R$ 4. Bolsonaro reacendeu a polêmica ao repostar a publicação de Tebet, sugerindo incoerência diante das condições econômicas do Brasil atual.
Além de Tebet, outros dois ministros do governo Lula — Paulo Pimenta, secretário de Comunicação da Presidência, e Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar — também se manifestaram repetidamente contra a valorização do dólar durante o governo Bolsonaro. À época, ambos eram deputados e utilizavam as redes sociais para criticar as políticas do então ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Assistimos ao real se desvalorizando enquanto Guedes priorizava lucros de especuladores e ignorava a inflação que corroía o poder de compra do povo”.
publicou Paulo Pimenta em 2019.
Já Paulo Teixeira, em uma série de tweets no mesmo ano, destacou: “Um dólar acima de R$ 4 é o reflexo da incapacidade deste governo de gerar confiança na economia. Paulo Guedes é o responsável direto por essa desastrosa gestão.”
Números e contexto econômico à época
De acordo com levantamento do Banco Mundial, a desvalorização do real em relação ao dólar alcançou 36% ao longo dos quatro anos de mandato de Bolsonaro. Especialistas apontam que fatores internos, como instabilidade política e desconfiança no mercado, foram agravados por cenários externos, como a pandemia de COVID-19 e o aumento da aversão global ao risco.
O Brasil enfrentou também um aumento expressivo no custo de vida. A inflação acumulada entre 2019 e 2022 foi de 27%, enquanto a média global no mesmo período foi de 19%. Para críticos da gestão Bolsonaro, a condução econômica de Paulo Guedes, focada em privatizações e controle fiscal, falhou em estabilizar a moeda nacional e em proteger o poder de compra da população.
Por outro lado, aliados do ex-presidente alegam que o dólar alto beneficiou as exportações brasileiras e impulsionou superávits na balança comercial, apontando recordes consecutivos em 2020 e 2021.