- Campos Neto atribui a inflação brasileira aos gastos excessivos do governo, e não à ação dos empresários.
- Ele defende que os juros altos são consequência direta do risco fiscal e do déficit público.
- O ex-presidente do BC elogiou o ajuste fiscal argentino e criticou a condução econômica atual do governo Lula.
Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central, declarou que os gastos excessivos do governo são a causa da inflação brasileira, e não as decisões dos empresários.
Durante entrevista à rádio Jovem Pan, ele defendeu reformas fiscais urgentes, elogiou as medidas de Javier Milei na Argentina e criticou a condução atual da política econômica no Brasil.
Campos Neto culpa gastos públicos pela alta da inflação
Roberto Campos Neto afirmou nesta terça-feira (8) que a inflação no Brasil não é consequência da ganância de empresários, mas sim do descontrole fiscal do governo.
Em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, ele explicou que, quando o Estado gasta mais do que arrecada, gera desequilíbrios que acabam elevando os preços. Segundo ele, essa dinâmica se torna mais clara quando observada sob uma ótica macroeconômica.
Nesse sentido, culpar supermercadistas ou comerciantes pela alta dos preços é um erro comum no debate público. Para ele, o foco do problema está na forma como o governo lida com o orçamento e como isso influencia a confiança do mercado.
Desse modo, quanto maior o risco fiscal percebido, maiores são os juros, o que, por sua vez, impacta negativamente o investimento produtivo.
Juros altos refletem risco provocado pelo Estado
O ex-presidente do Banco Central explicou que a elevação dos juros tem origem direta nas decisões de política fiscal. Para conter a inflação gerada por excesso de gastos públicos, o mercado exige retornos maiores sobre os títulos do governo. Esse aumento no custo do dinheiro atinge em cheio o setor produtivo.
Segundo ele, os empresários que criticam os juros deveriam, na verdade, se atentar à origem do problema.
“Quando o empresário vê uma taxa alta, ele precisa entender que ela está assim porque o governo está gastando além da conta, elevando o risco-país”, disse Campos Neto.
Desse modo, ele defendeu um esforço conjunto entre os poderes para reequilibrar o orçamento, reduzir o déficit e criar um ambiente de negócios mais estável.
A Argentina de Milei é elogiada como um exemplo de ajuste econômico
Ao comparar o Brasil com outros países latino-americanos, Campos Neto citou a Argentina como exemplo de política de correção fiscal.
Ele elogiou as medidas adotadas pelo presidente Javier Milei, que implementou um ajuste profundo nas contas públicas logo nos primeiros meses de mandato.
Segundo o ex-presidente do BC, mesmo que as medidas adotadas por Milei sejam impopulares no curto prazo, elas têm o mérito de buscar sustentabilidade fiscal de forma clara e objetiva.
Logo, para ele, esse tipo de correção pode desacelerar o crescimento inicialmente, mas cria bases sólidas para o avanço econômico futuro.
Debate sobre inflação expõe divisão entre economistas
As falas de Campos Neto repercutiram no meio político e acadêmico. Parte dos economistas concorda com a tese de que a inflação brasileira está fortemente ligada ao descontrole fiscal. Eles argumentam que, ao emitir dívida para financiar gastos, o governo contribui para a desvalorização da moeda, o que pressiona os preços.
Por outro lado, há analistas que consideram essa visão incompleta. Eles destacam que fatores externos — como variações cambiais, choques de oferta global e oscilações no preço das commodities — também impactam a inflação brasileira.
Além disso, apontam que a rigidez do mercado de trabalho e o sistema tributário ineficiente são gargalos que contribuem para o encarecimento de produtos e serviços.
Críticas à gestão atual e à herança de juros altos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia declarado que a elevação da taxa Selic em março deste ano se deveu à política monetária adotada por Campos Neto à frente do Banco Central.
Para Haddad, os juros elevados herdados da gestão anterior dificultam o crescimento econômico. Campos Neto argumenta que os juros refletem o cenário de risco fiscal e afirma que o governo deve criar as condições necessárias para reduzir os juros de forma estrutural.
Apesar das divergências, o consenso entre diferentes correntes é que o Brasil precisa de um plano fiscal robusto, com medidas de contenção de despesas e estímulos à arrecadação sem aumento de carga tributária. Equilibrar responsabilidade fiscal e estimular a atividade econômica são essenciais para controlar a inflação e sustentar o crescimento a médio e longo prazo.