
- O programa Pé-de-Meia apresenta irregularidades em cidades como Natalândia (MG), Riacho de Santana (BA) e Porto de Moz (PA)
- Há relatos de pessoas recebendo o auxílio sem atender aos requisitos de renda estabelecidos pelo governo, levantando dúvidas sobre a fiscalização e os controles do programa
- As falhas podem comprometer a eficácia da principal iniciativa do governo Lula para reduzir a evasão escolar no Ensino Médio entre estudantes de baixa renda
Um levantamento realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo revelou inconsistências no programa Pé-de-Meia, principal aposta do governo Lula para incentivar a permanência de estudantes de baixa renda no Ensino Médio.
Em pelo menos três cidades – Natalândia (MG), Riacho de Santana (BA) e Porto de Moz (PA), o número de beneficiários supera o de alunos matriculados na rede pública. Além disso, há casos de pessoas recebendo o benefício sem atender aos critérios de renda estabelecidos pelo programa.
Número de beneficiários supera o de matriculados
O Pé-de-Meia deposita valores mensais para estudantes de baixa renda, incentivando a conclusão do Ensino Médio. No entanto, em Natalândia (MG), o Ministério da Educação (MEC) informa que 326 estudantes recebem o benefício, enquanto a única escola estadual da cidade tem apenas 317 alunos matriculados. Os dados do MEC, porém, apontam um total de 600 estudantes na cidade.
Situação semelhante ocorre em Riacho de Santana (BA), onde 1.231 pessoas são beneficiadas, mas a escola pública local tem apenas 1.024 alunos. Já a Secretaria de Educação do Estado da Bahia indica que o município possui 1.677 estudantes no Ensino Médio.
O levantamento aponta ainda que, em pelo menos 15 cidades de cinco Estados diferentes, o número de beneficiários do Pé-de-Meia supera 90% dos alunos matriculados oficialmente.
Falhas nos critérios de renda
Essas servidoras estavam cadastradas no Bolsa Família até o ano passado, mas saíram do programa. Como continuam registradas no Cadastro Único (CadÚnico), o sistema não as exclui automaticamente do Pé-de-Meia. Dessa forma, permitindo que recebam o benefício por meses sem atender aos critérios exigidos.
Como continuam registradas no Cadastro Único (CadÚnico), o sistema não as exclui automaticamente do Pé-de-Meia, permitindo que recebam o benefício por meses sem atender aos critérios exigidos.
Valores pagos e impacto financeiro
O programa Pé-de-Meia oferece um auxílio mensal de R$ 200 para estudantes do Ensino Médio, além de um depósito de R$ 1.000 ao final de cada ano letivo, caso o aluno seja aprovado.
Esse montante fica retido até a conclusão do Ensino Médio. Para estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o valor é o mesmo, mas com um adicional de R$ 225 pela frequência. Com os incentivos e o bônus pela participação no Enem, os repasses podem chegar a R$ 9.200 por estudante.
A descoberta de irregularidades levanta questionamentos sobre a fiscalização do programa e a necessidade de ajustes nos critérios de concessão dos benefícios.
O governo federal ainda não se pronunciou oficialmente sobre o levantamento, mas o caso reacende o debate sobre a eficácia das políticas públicas voltadas à educação e à distribuição de recursos federais.