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Quase 25% dos microempreendedores priorizam mais o valor do que juros

Comportamento adotado na obtenção de empréstimos ignora melhores práticas de gestão financeira e deixa de reduzir em até 58% o endividamento.

emprestimo pessoal
emprestimo pessoal

Comportamento adotado na obtenção de empréstimos ignora melhores práticas de gestão financeira e deixa de reduzir em até 58% o endividamento das empresas.

Apesar dos constantes apelos para a realização de avaliações criteriosas sobre as vantagens e desvantagens presentes nas taxas de juros das linhas de crédito oferecidas pelo mercado, uma parcela significativa dos pequenos empreendedores brasileiros continua tendo como principal critério para assumir um financiamento a velha observação sobre o fato de a prestação caber ou não no bolso na hora de assinar o contrato. É o que demonstra um levantamento realizado pelo Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (CEAPE Brasil). De acordo com a pesquisa, realizada com 242 microeempreendedores, 23,1% dos entrevistados, ao realizar um empréstimo, afirmaram que o valor da prestação é o que mais pesa em sua decisão.

“Apesar de ser um problema sério, não nos surpreende que quase um quarto dos empreendedores priorize a prestação. Deixar de ver fatores como juros e prazo de financiamento é ainda uma questão cultural. O brasileiro se acostumou a pagar muitos juros e parece até não se importar com o valor final”, afirma Cláudia Cisneiros, diretora executiva do CEAPE.

Além da questão cultural, ela cita como outros fatores que levam a este comportamento a falta de educação financeira, a dificuldade de o empreendedor obter empréstimo, que leva a que ele se submeta a juros mais elevados e ausência de planejamento financeiro. “Quando o empreendedor vai a uma instituição financeira, seja fintech ou bancos tradicionais se depara com muitos entraves para obter o empréstimo, pois, muitas vezes, ele não tem histórico de adimplência suficiente, comprovante de renda ou garantias suficientes que demonstrem ser capaz de cumprir com suas obrigações”, observa.

A proposta das fintechs de ampliar a oferta de crédito a aqueles que estão fora do mercado tradicional também se mostra insuficiente e arriscada. “Como instituição que busca fornecer microcrédito produtivo orientado, vemos que, muitas vezes, o empreendedor pega o valor com o intuito de quitar a dívida, mas não faz um planejamento adequado do uso dos recursos e, por este motivo, acaba se tornando inadimplente. O valor concedido precisa ser acompanhado de uma orientação que levará a pessoa a obter um retorno financeiro maior que os juros cobrados”, explica.

Uma experiência recente realizada pela Serasa Experian em parceria com o Sebrae, intitulada Projeto Impulsiona, mostrou que as pequenas empresas que implementam processos relacionados à gestão financeira em seu dia a dia, conseguem reduzir em até 58% seu nível de endividamento. 

De acordo com a Serasa, nos últimos 24 meses, 53% das PMEs utilizaram alguma forma de crédito, sendo as opções mais populares o empréstimo e a antecipação de recebíveis do cartão de crédito. A empresa informa que 35% dos empreendedores que participaram da pesquisa disseram que recorrem ao empréstimo uma vez ao ano. Já a antecipação de recebíveis do cartão de crédito apresenta, em geral, uma recorrência mensal (58%). Enquanto isso, segundo a organização, 47% das PMEs não utilizaram nenhuma modalidade de crédito disponível no mercado. No entanto, dessas 47%, quase metade delas, tem a intenção de solicitar.

Riscos de ignorar a taxa de juros

Ao deixar de verificar quanto de juros vai pagar pelo empréstimo, o empreendedor pode, ao invés de sanar o problema da falta de caixa, aprofundá-lo. “No desespero, muitos pegam empréstimos a custos elevados buscando sanar um problema momentâneo, porém esquecem que a prestação vai comprometer parte da receita futura por um bom tempo, o que pode gerar um efeito bola de neve, caso não consiga honrar com todos os compromissos nos meses seguintes”, alerta Cláudia.

Ela lembra que é justamente a ausência de visão de longo prazo que leva à inadimplência futura e à quebra de um negócio. “A constrição do caixa e a falta de fôlego para pagar as contas são os principais pontos que fazem com que a pessoa deixe o sonho de empreender para buscar emprego. Antes de pegar um valor que vá reduzir a renda líquida futura, é preciso analisar quais fatores levaram à necessidade de buscar o valor. Além disso, o empreendedor deve ter em mente o custo do dinheiro que ele buscou. Vale à pena?”, aconselha.

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