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- O reajuste de preços de medicamentos será de 0%, devido à compensação dos custos anteriores com o aumento do câmbio e das tarifas de energia elétrica
- O reajuste abaixo da inflação prejudica a alavancagem operacional e as margens de lucro das empresas do setor, com uma redução média de 7% nas previsões de lucro
- Empresas como Hypera podem se beneficiar pela maior flexibilidade com descontos, especialmente no segmento de genéricos
Na última segunda-feira (17), a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) anunciou que o Fator Y para o reajuste anual dos preços de medicamentos de 2025 será de 0%.
Este valor foi definido após o saldo acumulado dos anos anteriores, que apresentou um índice negativo de -2,1%, compensar totalmente o impacto do aumento de câmbio e das tarifas de energia elétrica de 2024.
Para o setor farmacêutico, o Fator Y é crucial, pois ajusta os preços de medicamentos com base na variação de custos não capturada pelo índice oficial de inflação, o IPCA. Esses custos envolvem as mudanças nas taxas de câmbio e nas tarifas de eletricidade.
Implicações para o setor farmacêutico
O Fator Y é um índice essencial para o mercado de medicamentos, pois ele regula o reajuste de preços do setor.
A atual definição de 0% de reajuste representa um momento atípico, uma vez que nos anos anteriores o aumento dos custos teve um impacto significativo, que agora foi compensado.
O relatório da XP, um dos principais bancos de investimentos que analisam o setor, estima que o reajuste final de preços pela CMED será ligeiramente inferior a 4%. O que ainda assim ficaria abaixo do IPCA de 2025, estimado em 6,1%.
Esse cenário, segundo os analistas, resulta na diminuição das previsões de lucro líquido para 2025 no setor farmacêutico. Dessa forma, com uma redução média de 7% em toda a cobertura analisada.
Impacto nos varejistas
O BTG Pactual, outro grande banco de investimentos, tem uma visão mais pessimista sobre o impacto do Fator Y para os varejistas farmacêuticos. Os analistas do banco destacam que os preços mais baixos dos medicamentos afetarão diretamente a alavancagem operacional das empresas do setor. Em especial, no que se refere ao capital de giro.
O BTG observa que os preços de medicamentos possuem uma correlação alta com as margens de lucro das farmacêuticas. Além da redução dos preços pode prejudicar essa dinâmica no curto prazo.
RD Saúde, por exemplo, tem 70% de suas vendas reguladas por preços definidos pela CMED, sendo 42% em medicamentos de marca e 12% em genéricos. O BTG sugere que a forma de compensar essa redução de preços poderia ser a redução de descontos para consumidores. Já que as farmácias oferecem, em média, 25% de desconto em medicamentos.
A redução desses descontos poderia minimizar o impacto de preços mais baixos no faturamento das empresas do setor.
Cenário para as grandes empresas
Apesar do impacto negativo geral, algumas empresas podem ser mais resilientes a essas mudanças. Analistas apontaram que a Hypera, uma das principais farmacêuticas do Brasil, pode se beneficiar, pois 60% do seu portfólio não está sujeito a reajustes regulatórios.
Além disso, a Hypera pode ajustar os 40% de suas vendas em genéricos com uma estratégia de descontos mais competitiva. Especialmente, diante da alta concorrência no segmento.
O Goldman Sachs destacou que, apesar do impacto potencial da medida sobre o faturamento das empresas, o efeito no topo da linha será limitado, especialmente no curto prazo.
A análise sugere que o foco principal para a Hypera nos próximos trimestres será a otimização do capital de giro. No entanto, que é visto como um fator crucial para a empresa lidar com a atual realidade do mercado.