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O presidente da Argentina, Javier Milei, escapou por pouco de um grande problema nesta quinta-feira (20). O Senado argentino barrou a criação de uma comissão que investigaria a fundo o envolvimento de Milei e de seu círculo próximo no escândalo que ficou conhecido como “criptogate”, envolvendo a criptomoeda $Libra.
A proposta precisava de 48 votos para ser aprovada, mas obteve 47, com 23 votos contra. Em vez da comissão, os senadores aprovaram um pedido de relatório ao governo sobre o caso, uma medida bem menos agressiva.
O Que Era a Comissão de Investigação?
A comissão, se aprovada, seria formada por 17 senadores e teria seis meses para investigar a conduta de Milei no escândalo da $Libra. A criptomoeda gerou acusações judiciais e políticas de fraude contra o presidente ultraliberal.
O grupo teria poderes para:
- Pedir documentos aos envolvidos e a órgãos públicos.
- Convocar testemunhas.
- Exigir informações dos órgãos de inteligência.
Ao final, a comissão apresentaria um relatório que poderia até levar a uma denúncia na Justiça. Os senadores também negaram a proposta de convocar Milei e sua irmã, Karina (secretária-geral da Presidência), para depor.
O próprio governo Milei anunciou uma espécie de “auto investigação”, criando um Escritório Anticorrupção. A medida foi duramente criticada pela oposição, que argumenta que o governo não tem independência para investigar a si mesmo e que falta transparência na proposta.
Entenda o Criptogate: Da Promoção ao Colapso da $Libra
A crise, que é a maior enfrentada pelo governo Milei até agora, começou no dia 14, quando o presidente divulgou em seu perfil oficial no X (antigo Twitter) a $Libra, uma “memecoin” (criptomoeda baseada em memes da internet).
Após a publicação de Milei, o preço da $Libra disparou e, em seguida, despencou, causando prejuízos a milhares de investidores. Surgiram acusações de “rug pull” (puxada de tapete), uma fraude comum no mundo cripto, em que os próprios criadores da moeda manipulam o preço para lucrar e depois abandonam o projeto.
O problema é que Milei havia se reunido com os criadores da $Libra na Casa Rosada (sede do governo) no ano passado e divulgado fotos do encontro. Um desses criadores chegou a afirmar, em mensagens a investidores, que controlava o governo Milei por meio de pagamentos a Karina, a irmã do presidente e figura central do governo. As mensagens foram reveladas pelo jornal La Nacion.
Milei Apaga Postagem e Tenta se Explicar
Milei apagou a publicação horas depois, quando a suspeita de fraude ficou evidente. Alegou que não tinha todos os detalhes e que apenas divulgou a $Libra, sem promovê-la. Dias depois, uma entrevista polêmica de Milei a uma TV local teve um trecho cortado a pedido de seu assessor, Santiago Caputo, aumentando as suspeitas.
Enquanto o escândalo repercute na Argentina, Milei está nos Estados Unidos, buscando acordos com empresários e com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Uma nova pesquisa de opinião mostra um desgaste na imagem do presidente, mas principalmente entre aqueles que já não o apoiavam. A pesquisa da consultoria CB revela que, entre os que sabem do criptogate (84% dos entrevistados):
- 49% acreditam que Milei promoveu a $Libra de forma deliberada, e não por engano.
- 77% acham que a Justiça deve investigar a fundo a relação entre Milei e os criadores da criptomoeda.
- 72,8% afirmam que a confiança no presidente diminuirá.
O dado mais relevante é que o desgaste é menor entre os eleitores que elegeram Milei há pouco mais de um ano. Segundo Cristian Buttié, fundador da CB, apenas 10% dessa base eleitoral foi afetada pelo escândalo. O Criptogate, ao que tudo indica, continua rendendo.