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Um dos pilares da culinária e do orçamento doméstico brasileiro, o arroz, tem sido motivo de preocupação para milhões de famílias ao redor do país. Em dezembro de 2023, o grão alcançou o maior patamar de preço dos últimos 18 anos, trazendo um sinal de alerta para a economia doméstica e o setor agropecuário. A expectativa de especialistas é que uma queda nos preços só venha a ocorrer a partir de julho deste ano, deixando consumidores em uma posição difícil por mais alguns meses.
O aumento de 17,7% nos preços acumulados até novembro, e uma alta adicional de 5,46% em dezembro, conforme dados do IPCA-15, refletem uma situação complexa que ultrapassa as fronteiras nacionais.
Evandro Oliveira, analista na Safras & Mercado, aponta para um conjunto de fatores que explicam essa escalada, incluindo temporadas anteriores de prejuízos para os produtores, a migração para culturas mais rentáveis como soja e milho, e a menor área de plantio de arroz nas últimas duas décadas.
Fatores climáticos e globais elevam preços do arroz
O cenário é agravado por condições climáticas adversas, como a influência do fenômeno La Niña e a severa seca na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, além de um contexto internacional desafiador. Restrições de exportação impostas pela Índia, na tentativa de controlar a inflação interna, e problemas nas safras de outros grandes exportadores, como a Tailândia, pressionaram os preços globais do arroz.
O El Niño também tem causado impactos significativos, afetando as lavouras de arroz do Mercosul desde o início do plantio da safra 2023/2024, com especial ênfase no Rio Grande do Sul, o maior estado produtor do Brasil.
Nesse panorama, os preços do arroz continuam batendo recordes, com a saca gaúcha sendo negociada a mais de R$ 125 e, em Santa Catarina, ultrapassando os R$ 112. Oliveira destaca a peculiaridade do momento, com o arroz sendo vendido a preços superiores aos da soja, um fenômeno raro que sublinha a gravidade da situação.
Implicações futuras
Olhando para o futuro, Oliveira prevê uma possível queda nos preços com o aumento da safra nacional e das importações do Mercosul a partir de março de 2024. Contudo, ele também alerta para as dificuldades contínuas, incluindo a ameaça de perda em cerca de metade das lavouras de feijão da primeira safra 2023/24, indicando um ano desafiador para as culturas irrigadas.
Com a alta contínua dos preços nos supermercados, o arroz branco tipo 1 de 5kg atinge marcas comerciais a R$ 30 e marcas nobres a R$ 40, patamares comparáveis apenas aos vistos no auge da pandemia de Covid-19. A previsão é de um ciclo de preços firmes e estoques apertados, o que pode levar a novas surpresas nos preços ao longo do ano.
Ainda assim, Oliveira vê uma luz no fim do túnel para os produtores de arroz. Com margens mais satisfatórias, há uma grande oportunidade para o reinvestimento na cultura do arroz e a recuperação de áreas perdidas para outras culturas, sinalizando uma possível retomada do setor em meio a desafios significativos.
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