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O setor bancário vem buscando formas de sustentar a experiência adquirida durante a pandemia da Covid-19 para impulsionar a transformação digital, por meio da utilização intensiva de programas de inovação, convergência com outras indústrias, Open Finance, mudanças regulatórias e significativas transformações culturais, levando-o a descobrir novos modelos de negócios, muito mais centrados no cliente e alinhados às demandas globais urgentes, como o ESG, por exemplo.
No entanto, não apenas as circunstâncias impostas pela pandemia foram responsáveis pelo processo de mudança no setor, mas também as agendas de inovação e simplificação regulatória dos Bancos Centrais ao redor do mundo, associadas à abundância de tecnologia disponível, que já vinham fomentando a transformação digital do mercado, consolidando cada vez mais o digital como um componente vital para o crescimento dos negócios.
Diante deste cenário de transformações e desafios, os investimentos do setor bancário brasileiro em tecnologia devem atingir a marca de R$ 30 bilhões em 2022, um crescimento de 11%, segundo a Fundação Getulio Vargas — FGV.
Mas quais são as tendências tecnológicas que devem marcar o ano de 2022 no setor financeiro? Veja abaixo as principais.
Índice de conteúdo
A escalada da computação em nuvem flexível
A adoção de cloud será definida por uma abordagem mais técnica e abrangente, que contempla diferentes modalidades de nuvem: privada, pública, híbrida, virtual ou comunitária.
Assim, os bancos possam aproveitar os benefícios de forma integrada, rápida e econômica, buscando adicionar serviços, produtos, canais e aplicações digitais.
A adoção de uma estratégia de nuvem flexível também é fundamental para o sucesso da iniciativa de Open Finance, visto que cada vez mais as instituições financeiras estarão integradas, não apenas entre elas, mas também com players de outras indústrias, criando grandes ecossistemas transacionais.
Crescimento do Banking as a Service (BaaS)
Segundo estudo da Americas Market Intelligence (AMI), o mercado potencial de BaaS no Brasil deverá alcançar os US$ 15 bilhões até 2025.
Essa tendência está amparada em uma projeção realizada por Bill Gates nos anos 90, dizendo que nós precisamos de serviços financeiros e não, necessariamente, de bancos.
O BaaS é um modelo de plataforma bancária regulamentada que permite às startups, fintechs e instituições que desejem operar transações no Sistema Financeiro Nacional (SFN) estejam aptas a fazê-lo sem a necessidade de se desenvolver tecnologia própria.
É uma opção rápida e de menor custo para transacionar no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e para participantes indiretos no Sistema de Pagamento Instantâneo (SPI), permitindo o uso do PIX, por exemplo.
Por meio das plataformas BaaS, bancos podem monetizar seus produtos utilizando APIs consumíveis fora de seus canais próprios ou, simplesmente, ofertar toda a sua infraestrutura tecnológica num formato White Label, monetizando sua tecnologia e criando diversas outras entidades bancárias.
Open Banking como uma oportunidade de negócios
O futuro é, sem dúvida, digital e interconectado. A criação de ecossistemas de serviços financeiros abertos, com experiências personalizadas e interconectadas, se tornará regra nos próximos anos. De acordo com o Gartner,
“A economia das APIs facilitará o processo de transformação de uma empresa ou organização em uma plataforma. As plataformas potencializam a criação de valor ao cliente, pois permitem que os ecossistemas de negócios dentro e fora da empresa convirjam entre os usuários, facilitando a criação e/ou troca de bens, serviços e moeda, a fim de que todos os participantes possam obter valor.”
O Open Banking empodera o usuário, na medida em que os dados estão sob seu poder. Somente com o consentimento explicito é que outras entidades poderão fazer uso dessas informações.
A quebra de paradigma no setor bancário deve provocar uma profunda mudança no segmento de crédito, criando melhores opções aos tomadores de recursos financeiros.
Além de melhores condições de crédito, o Open Banking também é uma mola propulsora para melhoria da educação financeira da sociedade, visto que soluções de agregação de contas e de assistentes para finanças pessoais têm se proliferado no mercado.
Aumento do investimento em privacidade, segurança de dados e cibersegurança
Há alguns anos, investimentos em segurança estavam entre as 5 principais prioridades dos executivos das grandes instituições financeiras, entretanto, este investimento não era uniforme em todas as indústrias.
Até hoje muitas organizações não tratam a cibersegurança e a proteção de dados como investimento, o que pode custar caro.
De acordo com uma pesquisa recente da IBM, que contou com 500 organizações globais e mais de 3.200 profissionais de segurança, o custo médio de uma violação de dados é de US$ 3,86 milhões.
No mesmo estudo, as empresas entrevistadas que não tinham uma equipe de resposta a incidentes arcaram, em média, com US$ 5,29 milhões em custos por violações de dados. Já aquelas que contavam com uma equipe dedicada e estavam preparadas gastaram por volta de US$ 2 milhões.
As leis de proteção de dados e o Open Banking pressionam ainda mais o setor financeiro a investir em segurança cibernética e privacidade de dados. Além disso, a transição acelerada dos canais físicos para o digital, provocada pela pandemia que manteve fechados os pontos de atendimento presenciais, também trouxe enormes desafios em termos de segurança e proteção do consumidor, com expressivos aumentos em todos os tipos de fraudes.
Para evitá-los, é preciso automatizar controles, educar o consumidor e investir em tecnologia de ponta, capaz de monitorar, analisar e combater em tempo real não só a fraude digital, mas também operações com indícios de crimes financeiros.
Hiper personalização de produtos e serviços: o cliente no centro
Os bancos tradicionais de varejo terão que se distinguir de seus concorrentes, fintechs, neobanks e big techs, para evitar redução de suas margens e perda de clientes, sob pena de se tornarem irrelevantes no mundo digital. A estratégia de atendimento centrada no cliente passa a ser fundamental para conquistar a confiança do consumidor digital. Segundo a milleniumdisruptionindex.com, 73% dos consumidores acreditam que seus bancos não promovem uma boa experiência de uso, quando comparados às bigtechs como Facebook, Google, Apple, entre outros.
A era da experiência está transformando o mundo dos negócios. O consumidor está cada vez mais exigente e demanda das marcas soluções personalizadas e de valor. Para responder a esse novo consumidor, cada vez mais empoderado e consciente, a hiper personalização de produtos e serviços tende a acelerar, criando uma onda de fusões e aquisições como forma de compor verdadeiros ecossistemas digitais.
Início das Moedas Digitais Reguladas
O tema criptomoeda é bastante conhecido no mundo todo e, apesar de seu crescimento exponencial nos últimos anos, com o surgimento de diversos criptoativos para investimentos, pode-se dizer que ainda há uma certa desconfiança da sociedade em relação ao seu uso em escala como moeda para transações do cotidiano.
A falta de regulação das criptomoedas causa insegurança jurídica para os mercados, instituições e consumidor, inibindo a adoção em escala. Associado a isto, a ausência de entidades reguladoras impede a implementação de medidas de prevenção à lavagem de dinheiro, combate ao financiamento do terrorismo e definição de regras tributárias.
Em paralelo às discussões sobre regulamentação, os Banco Centrais pelo mundo vêm discutindo a criação de suas próprias moedas digitais (CBDC).
Tais moedas possuem um potencial de melhorar a eficiência do mercado de pagamentos de varejo e de promover a competição e a inclusão financeira para a população ainda inadequadamente atendida por serviços bancários.
A crise da pandemia evidenciou a importância de os instrumentos digitais de pagamentos chegarem aos segmentos mais vulneráveis e afetados da população.
O Banco Central Brasileiro vem trabalhando ativamente na implementação do Real Digital, com laboratórios de testes de ideias e inovações em pleno funcionamento. A expectativa é que o Real Digital seja lançado em 2024.
Por fim, podemos concluir que as expectativas dos consumidores estão aumentando num ritmo muito mais rápido do que a própria capacidade do setor bancário de se transformar digitalmente.
É um processo que tende a se intensificar em 2022 e continuará avançado nos próximos anos. O céu não é o limite para as novidades que o setor financeiro, apoiado pela tecnologia, nos apresentará.
(*) Flavio Gaspar é diretor de Produtos da Topaz, empresa do Grupo Stefanini especializada em soluções financeiras.
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