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Se olharmos para o comportamento das ações de vários varejistas Brasileiros, temos a impressão de que o setor está em crise, desde pelo menos o início de 2023. Nos últimos 12 meses, período no qual o Ibovespa acumulou alta de, aproximadamente, 20% ações de diferentes tipos de varejistas tiveram desempenho negativo. Podemos citar exemplos como Casas Bahia, Lojas Renner e Assaí, cujas ações caíram 85%, 11% e 29%, respectivamente, no período.
Mas não foram todos os varejistas que tiveram suas ações registrando desempenho negativo. Os BDRs de Mercado Livre acumularam ganhos de 43% nos últimos 12 meses.
Defendo a tese de que, apesar do ambiente da economia, com crescimento econômico baixo e taxas de juros bastante elevadas para o consumidor, não são fatores macroeconômicos que vem causando o mal desempenho das ações do setor.
Gostaria de listar aqui alguns indicadores ligados ao varejo que mostram que, apesar do ambiente difícil, dados específicos do setor mostram que é possível ter desempenho satisfatório:
- Consumo das famílias no PIB: com base em dados do 3T23, houve crescimento de 3,3% em relação ao 3T22;
- Vendas no varejo: até outubro de 2023, volume de vendas acumulou crescimento de 1,6% em 2023, enquanto receita nominal cresceu 4,0%;
- Inadimplência da pessoa física: não houve deterioração relevante nos últimos 12 meses. Na verdade, quando comparamos outubro de 2023 com o mesmo mês de 2022, houve até uma leve melhora: 5,7% versus 5,8%, respectivamente;
- Confiança do consumidor: Em dezembro de 2023, o índice de Confiança do Consumidor (ICC), do FGV/Ibre, cresceu 6,5% em relação a dezembro de 2022.
Compensando em parte os números neutros/positivos mencionados acima, temos ainda os altos níveis das taxas de juros para o consumidor, que não foram impactadas de forma relevante pela redução da taxa Selic.
Alguns exemplos, usando dados do Banco Central:
- Taxa do cheque especial: 132,7% ao ano em novembro de 2023 versus 133,8% em novembro 2022;
- Taxa do rotativo do cartão de crédito: 434,4% ao ano em novembro de 2023, contra 396,3% em novembro de 2022;
- Taxa do crédito pessoal (ex-consignado): 93,9% ao ano em novembro de 2023 versus 86,4% em novembro de 2022.
Olhando para 2024, espero por uma continuidade do crescimento gradual de renda, queda da inflação e, portanto, alta gradual da confiança do consumidor.
Por outro lado, o crescimento da economia deve ser medíocre e a taxa de juros ao consumidor precisa cair muito para ser considerada uma alavanca para o aumento dos gastos no varejo.
Considerando o cenário básico esperado para a economia, a qualidade da gestão será determinante para definir quais serão as empresas que conseguirão criar valor para acionistas e demais stakeholders em 2024.
Sugiro ao mercado e aos atores da economia em geral buscar acompanhar de perto os seguintes fatores, alguns deles muitas vezes negligenciados:
- Gestão do ciclo de caixa, principalmente da gestão dos estoques;
- Investimentos em inovação para buscar proteção em relação aos competidores e para abrir portas para novas fontes de receitas;
- Comunicação transparente com o mercado para que os movimentos estratégicos das empresas sejam bem entendidos;
- Busca por desalavancagem e redução dos custos de financiamento;
- Empresas precisam acelerar gastos com ativos intangíveis, principalmente em brand equity.
No passado recente, principalmente após o caso Americanas, vários investidores que são formadores de opinião declararam publicamente que ninguém deve investir no varejo. Humildemente, discordo desta opinião.
Quando olhamos os casos de Mercado Livre, Amazon, Costco e Wal Mart, entre outros, vemos que é possível sim se expor a bons veículos de investimentos no setor de varejo.
Um time de gestão de qualidade é o grande definidor de quais empresas serão as vencedoras.
Por Sérgio Goldman, gestor de fundos de renda variável, consultor em finanças estratégicas
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