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O Brasil vive uma crise fiscal que coloca o país na mesma posição de nações em guerra, com um déficit nominal que gera grande preocupação entre investidores e analistas econômicos. Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset e gestor do Fundo Verde, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o país enfrenta um dilema fiscal complexo, com uma política econômica que tem dificuldades em equilibrar as necessidades de diferentes setores da sociedade.
Stuhlberger, um dos investidores mais influentes do Brasil, afirmou que o déficit fiscal do Brasil não tem precedentes em tempos de paz.
“Só a Ucrânia, a Rússia e Israel, países em guerra, têm um déficit tão alto quanto o Brasil. Estamos com um déficit de quem está em guerra”.
disse ele.
Ele ainda destacou que essa situação tem gerado um mercado cético e apreensivo. O déficit nominal, que é a diferença entre as receitas e as despesas do governo, tem aumentado nos últimos anos e, segundo especialistas, está colocando em risco a credibilidade fiscal do país.
O Dilema de Lula: Apressar os Ricos ou Manter os Pobres?
Stuhlberger também comentou sobre o dilema enfrentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à sua política fiscal. Segundo o CEO, o presidente tenta equilibrar a necessidade de agradar os setores mais pobres, ao mesmo tempo em que precisa enfrentar pressões da classe empresarial, principalmente do setor financeiro e de grandes investidores. “O dilema de Lula é tentar agradar a classe mais baixa e desagradar os super-ricos. A Faria Lima me pressionou, ameaça jogar o dólar para R$6, embora não seja assim, para eu cortar os pobres”, explicou Stuhlberger, referindo-se à pressão das grandes fortunas e mercados financeiros.
O presidente Lula, segundo Stuhlberger, tem que lidar com críticas de ambos os lados: enquanto os ricos pressionam por um corte nos gastos sociais, os mais pobres exigem maior apoio governamental. Além disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também tem alertado sobre os riscos de não adotar medidas fiscais mais duras. “Se você não perder nada, vai ficar muito pior. A inflação vai subir, o dólar vai para R$7 e você vai perder a eleição”, afirmou o CEO, citando o impacto negativo de não tomar medidas econômicas mais rigorosas.
Impactos da Isenção do Imposto de Renda e PEC da Desoneração
Outro ponto crítico levantado por Stuhlberger foi a proposta de isenção do Imposto de Renda para pessoas com salários de até R$ 5.000, que ele acredita ser um problema significativo para a arrecadação do país. De acordo com o CEO da Verde Asset, essa medida pode resultar em um impacto negativo de até R$ 80 bilhões por ano nas finanças públicas. “O gasto vai ficar controlado, mas a arrecadação vai cair”, alertou ele, destacando que a diminuição na arrecadação pode complicar ainda mais o cenário fiscal do Brasil, que já enfrenta dificuldades em manter suas contas equilibradas.
Além disso, Stuhlberger criticou a recente aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que visa limitar o crescimento dos gastos públicos. Embora a proposta seja vista como uma medida necessária para controlar a expansão da dívida pública, o CEO destaca que a PEC pode ser insuficiente diante do aumento das isenções fiscais, como a do Imposto de Renda, e das pressões do Congresso para adotar outras desonerações.
Desafios com os Lobbies Empresariais e a Tributação Mínima
A elaboração de uma tributação mínima para todas as fontes de renda também foi mencionada por Stuhlberger como um grande desafio para o governo. O CEO explicou que, apesar da medida ser bem-intencionada, ela pode enfrentar uma resistência considerável dos lobbies empresariais, especialmente os setores que se beneficiam de isenções fiscais, como o mercado de debêntures de infraestrutura e os investidores em LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio). “É difícil aprovar o governo. Alguns consultores políticos acham uma ideia boa, mas inviável. Vai enfrentar o lobby do agro, da indústria”, disse Stuhlberger, ressaltando a dificuldade do governo em fazer mudanças fiscais diante da forte pressão desses setores.
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