Havia muita expectativa no universo cripto acerca da eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina. Considerado um libertário, o político declarou em diversas oportunidades a sua admiração pelo mercado de criptomoedas, o que, evidentemente, despertou a esperança de que o Estado Argentino se tornasse um grande incentivador do setor e um agente importante no aumento da adoção do uso de criptoativos. Após um ano de gestão, o cenário não se concretizou exatamente da forma como era esperado, porém há muita expectativa de que as próximas etapas do atual governo reservem medidas mais dedicadas para o mundo cripto.
Durante esse primeiro momento, o governo de Milei se manteve bastante focado em questões macroeconômicas. A administração conseguiu estabilizar o preço da moeda local – o peso argentino – o que impactou indiretamente o mercado cripto. Esse indicativo econômico foi importante para reduzir a pressão da população pela dolarização da economia argentina e diminuir a necessidade do povo comprar dólares americanos. É importante também ressaltar que, além de equilibrar a relação entre o mercado paralelo de moedas e o mercado oficial, a gestão Milei também conseguiu evitar que houvesse uma situação de hiperinflação ao longo do ano, um mal que já afetou a população argentina muitas vezes ao longo da história, e, inclusive, conseguiu reduzir a inflação mensal de 13% para cerca de 3%. Para efeito de comparação, em Dezembro de 2023, a inflação atingiu os 25,5% e uma soma de 254% nos doze meses anteriores.
Outro fator extremamente relevante quando analisamos o mercado cripto na Argentina é o uso de stablecoins. Segundo dados da Chainalysis, a atividade com stablecoins na Argentina é 17% maior do que a média global e a participação desses ativos nas transações do país foi de 61,8% entre julho de 2023 e junho de 2024. Durante esse mesmo período, os fluxos em moedas digitais no país vizinho somaram US$ 91,1 bilhões, ante US$ 90,3 bilhões no Brasil. O histórico argentino de instabilidade econômica fez com que muitas pessoas adotassem essas criptomoedas como forma de se proteger da inflação e desvalorização do peso, além de ter uma reserva de capital atrelada ao valor do dólar americano. Na Ripio, especificamente na Argentina, registramos um crescimento de cerca de 150% no uso de stablecoins, ao comparar o período do primeiro governo de Milei (dezembro de 2023 até a data de hoje), com o período anterior, compreendido entre 10 de dezembro de 2022 e 09 de dezembro de 2023.
Em relação às criptos, apesar do presidente ainda não ter colocado em prática nenhuma política dedicada diretamente à indústria, o governo realizou um ‘blanqueo’ – processo que permite que as pessoas declarem às autoridades fiscais ativos anteriormente não registrados, para que esses possam ser usados legalmente no futuro, em troca do pagamento de um imposto reduzido. Mesmo essa sendo uma medida que já foi aplicada em outro períodos históricos, essa foi a primeira vez que foi possível incluir criptoativos, graças a uma decisão do governo atual. Na Ripio, inclusive, vimos os usuários realizando o ‘blanqueo’ de criptomoedas em nossa plataforma. Na mesma linha, a aprovação do Cedears de ETFs de criptomoedas na Argentina foi uma ótima notícia no final do ano. Para o setor e a comunidade de cripto, isso representa um novo estímulo (assim como o “blanqueo”) que mostra que a força desse ecossistema não pode mais ser ignorada. Outro aspecto inovador que surgiu neste primeiro ano de governo foi a possibilidade de firmar contratos de aluguel em criptomoedas, um fenômeno que decorre do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) que revogou a Lei do Aluguel. Por exemplo, o primeiro contrato de Bitcoin foi assinado para o aluguel de um apartamento em Rosário (ARG), com pagamentos mensais equivalentes a US$ 100. Essa modalidade permite transações imediatas, seguras e flexíveis, usando criptomoedas como BTC ou stablecoins, como USDT. Esse tipo de transação se posiciona como uma alternativa atraente para um mercado de aluguel em constante mudança, reforçando o potencial das criptos na vida cotidiana dos argentinos.
É importante também destacar que, mesmo ainda sendo apenas um projeto em fase de desenvolvimento, o governo de Javier Milei está trabalhando em um ‘Sandbox’ para ‘Real World Assets’ e tokenização de ativos. Isso pode gerar um grande impacto econômico e fazer crescer o mercado de capitais argentino, que, historicamente, nunca teve muita relevância. A criação de uma bolsa de valores em blockchain daria a diversas empresas acesso a financiamentos, o que impulsionaria o crescimento econômico do país como um todo.
Pensando no futuro, entendo que a decisão mais importante que o governo de Javier Milei deveria tomar seria alterar as limitações que foram impostas para o setor cripto pelo governo anterior. Ainda há restrições impostas pelo Banco Central para, por exemplo, que os bancos não possam negociar criptos. O mesmo ocorre com os processadores de pagamentos. Com isso, podemos concluir que alterar esse cenário seria uma grande demonstração de apoio ao ecossistema cripto.
Com relação à perspectiva específica da Argentina, a expectativa é de que a população passe a cobrar um real crescimento da economia do país, após esse primeiro ano de maior estabilidade. Baseado no que pudemos observar ao longo deste primeiro ano de mandato, estou otimista de que Milei será capaz de demonstrar que suas políticas podem produzir um crescimento econômico significativo para sua nação, incluindo também as criptos. Acredito que 2025 será um ano muito importante para esse mercado de ativos, pois os números atuais, e tudo o que vimos acontecer ao longo de 2024, fazem com que tenhamos uma perspectiva muito positiva para a indústria.
Como contexto global, a vitória de Trump indica que não há nada melhor do que políticas mais positivas para a regulação das criptomoedas. Após as eleições nos EUA, as criptomoedas atingiram fluxos impressionantes que levaram o Bitcoin a superar o último ATH de US$ 73.700 alcançado em março, rompendo a barreira dos US$ 100 mil e alcançando a máxima de US$ 104.000, algo que há apenas alguns meses, parecia ainda distante.
Outro acontecimento recente que também impactou em toda essa movimentação foi a declaração do chefe do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, que literalmente chamou o Bitcoin de equivalente ao ouro, “só que é virtual, é digital”, e que, devido sua volatilidade e ao uso que está sendo feito, “não é tanto um concorrente do dólar como é do ouro”.
Vemos movimentações importantes, não só em relação à Argentina, mas ao mercado cripto global, incluindo o interesse, não apenas de indivíduos, como de investidores institucionais e grandes empresas. Com isso, há um grande potencial de crescimento e me mantenho muito otimista em relação ao futuro.