O mundo de investimentos está sempre em transformação, mas nossa impressão é que nos últimas 10 anos as mudanças foram muito mais relevantes, e impuseram dificuldades significativas para investidores profissionais, e obviamente para os amadores também.
O fato é que o mundo em si mudou muito. Temos hoje uma demografia muito pior, com estimativas da população crescer bem menos e ficar mais velha rapidamente. O crescimento econômico global tende a ser mais baixo. Este aspecto é um fato novo que muitas gerações de investidores não viram acontecer, e poucos dão a devida importância.
Desde o pós-guerra (1945), o mundo como um todo teve forte crescimento populacional e de PIB. Num ambiente como este, obviamente existem riscos e é possível perder dinheiro. Mas, de maneira geral, é um ambiente mais fácil de ganhar algo ou perder pouco quando se está comprado em ações com visão de longo prazo.
Olhando para o que passou e analisando o presente – juntamente com as questões demográficas –, tivemos uma impressionante mudança do lado macroeconômica, A atuação dos Bancos Centrais e o tamanho do balanço destes cria distorções nunca antes vistas. A saída de crises, por exemplo, será muito diferente do que no passado. O ponto de partida é muito diferente de décadas anteriores, o que faz com que a projeção para o futuro dificilmente possa ser análoga a outros momentos históricos.
Cabe ao gestor e investidor a capacidade de interpretar o momento atual, o ponto de partida, e tentar projetar como as variáveis vão se comportar para frente. Para nós parece um trabalho mais complexo, meio que entrando num mundo desconhecido ainda.
Junto a isto, temos visto muitas gestoras e investidores “competindo” pelos mesmos ativos. E um mundo com pessoas cada vez mais imediatistas. O número de investidores dedicando-se ao mercado acionário, assim como o número de gestoras, cresceu exponencialmente, a uma taxa muito maior do que o crescimento da economia e de empresas disponíveis para serem “investidas”. Isto naturalmente gera uma competição maior pelos mesmos ativos, o que dificulta o trabalho de se encontrar boas assimetrias de valor ajustadas ao risco.
Outro ponto é: a impressionante expansão do balanço dos bancos centrais ao redor do mundo, e a manutenção por períodos relativamente longos de taxas de juros próximas a zero, empurraram cada vez mais os investidores para posições de maior risco. Investidores individuais se aventuram com mais relevância no investimento direto em ações. E gestores profissionais recebem grandes volumes de recursos, e acabam sendo quase que obrigados a comprar algo, mesmo porque o seu cliente está “contratando” ele para tomar risco e tentar gerar ganhos positivos.
Grande liquidez disponível e informações muito mais detalhadas sobre empresas e setores tornam o ciclo de negócio das empresas nas quais investimos mais desafiador. A concorrência para estas “chega” mais rápido e mais agressiva em negócios que começam a se destacar. É mais difícil construir e manter diferenciais competitivos relevantes.
Para ilustrar um pouco o que mudou, muitas vezes escutamos investidores falando sobre “a empresa que compraria para 10 anos”. Para nós não dá mais para investir com este tipo de racional. Não é que seja impossível comprar uma ação e ter resultados muito bons ao longo de 10 anos. Mas, sim, que é necessária muito mais atenção e reavaliação da decisão de continuar investido muito mais frequente. E o número de empresas que vai ser possível ficar investido com sucesso ao longo de um período tão longo é menor que no passado.
Atualmente a informação é mais acessível para todos. Muito conteúdo que antes era disponível apenas a investidores profissionais e o acesso ao direto management das empresas, agora estão à disposição de um espectro bem mais amplo de pessoas. A democratização da informação é sempre um fator positivo, mas também tem suas consequências negativas. Mais gente competindo e com mais acesso à informação também torna difícil encontrar assimetrias atraentes de risco/retorno.
As mídias sociais, como parte do fluxo de informações, ilustram bem isso. Management de empresas muito focados no curto prazo, muito influenciados pelas redes sociais ou pela tela do Bloomberg, e em fazer o que o mercado pede. Para o investidor individual, com histórico ainda limitado das empresas e de mercado de maneira geral, fica difícil diferenciar aspectos como este.
Todos estes fatores juntos na nossa leitura tornam o trabalho de investir hoje em dia mais complexo. Obviamente não estamos advogando para uma volta no contexto anterior, onde a informação estava na mão de um grupo menor de pessoas, e o universo de investidores era mais restrito. Mas, ao elencar os pontos acima, o nosso único objetivo é alertar para o tamanho do desafio para o investimento como um todo, mas principalmente em ações num mercado mais restrito como o brasileiro. E tentar chamar a atenção para os cuidados necessários, que de maneira geral valem tanto para investidores individuais como gestores profissionais.
Por Tomás Awad é sócio-fundador da 3R Investimentos