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Dinheiro x Brasil: O buraco no bolso causado pela analfabetização financeira

carteira vazia
carteira vazia

Com o advento das redes sociais e a ampliação do acesso à internet, o número de influenciadores, educadores e gurus falando sobre finanças cresceu exponencialmente. Nada mais justo, uma vez que esse é um mercado acessível para quem quer se aventurar, além de fresco, sem dogmas e com um público cada vez mais interessado.

Segundo a B3, o número de investidores pessoa física em investimentos de renda fixa, em especial em investimentos com base na SELIC, aumentou 9,6 milhões para 12,6 milhões no período entre 2021 e 2022. O número de investidores em renda variável também subiu, de 3,3 milhões para 4,6 milhões no mesmo período. Podemos afirmar sem medo de errar que esses números refletem o aumento e a facilidade de informações sobre investimentos divulgados nas redes sociais. Contudo, ainda que o brasileiro esteja aos poucos entrando no mundo dos juros compostos, a maior parte ainda sofre com o mesmo…

O indicador da Boa Vista registrou que o número de inadimplentes em 2022 aumentou em 20%. O índice, que já apresentou alta entre 2020 e 2021, é responsável por medir a quantidade de famílias que tem algum tipo de dívida registradas juntos ao Banco Central.

Em 2022, o Serasa apontou que 67,9 milhões de CPFs têm algum tipo de dívida registrada. O número representa um pouco mais de 1/4 da população. Pesquisas apontam que o termo “crédito para negativado” cresceram exponencialmente no último ano, e o número de empresas que oferecem o tipo de serviço vêm crescendo na mesma proporção. Ou seja, ainda que negativado, sofrendo com os altos juros de suas dívidas, o brasileiro ainda procura por empréstimos para arcar com compromissos ou para consumo, criando uma enorme bola de neve.

O quão diferente seria o cenário se tivéssemos a cultura de instruir os jovens a lidar com o dinheiro ainda na escola? Acredito que seria, no mínimo, mais animador. A maioria dessas pessoas caíram em algum papo de gerente de banco, escorregaram em alguns nomes que soam como dinheiro fácil e sem complicação, como “cheque especial” ou, ainda, algum tipo de título especial com “taxas que são a sua cara”.

Se somos ainda enganados por essas armadilhas, somos uma nação de analfabetos financeiros. É preciso encarar o fato de que, o brasileiro médio, ou o afegão médio, tem sérias dificuldades, dúvidas, ou simplesmente não sabe lidar com o próprio dinheiro e tudo com que isso envolve. Isso extrapola o nível individual, escoando para campos que nos afetam coletivamente, como na política. Uma vez que o indivíduo herda dos pais essa “analfabetização financeira”, ele recria o ciclo e o passará adiante, fenômeno que eu carinhosamente apelidei de “pobreza crônica“.

Os números citados são constantemente usados em campanhas políticas, como uma medida que as economia vai mal, porque as pessoas estão sendo obrigadas a se endividar. Não podemos descartar essa possibilidade, mas dizer que a causa é somente essa, ou dizer que é o maior dos causos é, no mínimo, ignorância.

O novo governo Lula vem trabalhando em um projeto de renegociação de dívidas, que por enquanto chama-se “Desenrola“. Ainda não há informações de como irá funcionar, nem quem será apto a usufruir. Mas, é importante bater nessa tecla o tanto quanto possível, não podemos remediar o efeito e ignorar a causa. Não podemos repetir o erro geração após geração, ficando nas mãos de governos populistas, banqueiros e golpistas que, se aproveitando da analfabetização financeira do povo, ganham boas recompensas.