Sempre tive um olhar e uma atitude muito bullish em relação ao Bitcoin e às criptomoedas. Especialmente em relação ao Bitcoin. Mas, nunca vi um cenário que reforçasse tanto essa convicção quanto o que tivemos em 2024, com oportunidades e expectativas estrondosas e uma variedade de eventos interligados que – finalmente – terminaram de processar essa mudança global na maneira como as pessoas, as empresas e os estados olham para sua economia, suas finanças e seu dinheiro.
Bem-vindo ao futuro: este ano o sonho de Satoshi Nakamoto foi confirmado o de ter uma forma de dinheiro eletrônico global, massivo, sem restrições ou intermediários centrais. E isso lançou as bases para projetarmos um 2025 impressionante para o mercado, que poderia assumir um volume e uma força nunca vistos antes. O Bitcoin existe desde 2009 e vem registrando ganhos ano a ano, mas, em 2024, registrou um crescimento de quase 146%, atingindo um recorde histórico de mais de US$ 108.260, superando quase todos os principais ativos e metais preciosos do mundo.
Independentemente de onde seu preço se estabilizará nos próximos meses, o fato de ter ultrapassado a barreira psicológica dos US$ 100.000 e chegado a seis dígitos, marca uma mudança definitiva de época. Era inevitável, mas para que isso acontecesse, vários fatores tiveram que ser concretizados.
Um contexto favorável
A combinação é bastante complexa, mas, sem nos aprofundarmos muito, podemos dizer que estamos começando a ver as consequências do halving que, em 19 de abril, reduziu a recompensa de mineração de 6,25 BTC por bloco minerado para 3,125 BTC. Isso causou uma crise de oferta, porque novos Bitcoins estão sendo minerados na metade da velocidade que estavam antes desse quarto halving. Enquanto isso, devido ao seu projeto de fornecimento limitado, há cada vez menos Bitcoins para serem minerados: pouco mais de 1,2 milhão, de um máximo de 21. Em resumo, o Bitcoin está ficando cada vez mais difícil de ser minerado, e há cada vez menos para passar por esse processo.
Por outro lado, a demanda explodiu, entre a adoção institucional acelerada pela aprovação dos fundos negociados em bolsa à vista (ETFs) de Bitcoin; o efeito de contágio da vitória eleitoral de Donald Trump, um futuro presidente pró-cripto para os Estados Unidos (juntamente com o caso de El Salvador que se mostrou bem-sucedido); e o novo boom do varejo de cripto, que entendo derivar não apenas do aumento de preço do próprio mercado cripto, mas também do fato de que está se tornando cada vez mais fácil usar criptomoedas, bem como por seus benefícios, já que é cada vez mais conveniente usá-las para fazer pagamentos, economizar ou como investimento.
O triunfo de Trump como líder do principal país e mercado do Ocidente promete inaugurar políticas favoráveis às criptos, com regulamentação mais flexível e a possível criação de uma reserva estratégica em Bitcoins para o Tesouro dos EUA. Além disso, há mudanças em grande escala anunciadas para a SEC, incluindo a saída de Gary Gensler, que será substituído por um titular mais favorável às criptos. O setor de desenvolvimento de tecnologia, incluindo as fintechs, também poderia ser outro grande beneficiário do tipo de governo que o republicano promete. E, neste ponto, gostaria de resgatar uma frase que me parece histórica: a do presidente do Federal Reserve (FED) dos EUA, Jerome Powell, apresentando o Bitcoin como “ouro virtual e digital”, já que, devido ao seu uso e volatilidade, “não compete tanto com o dólar quanto compete com o ouro”.
Mas, esse futuro promissor não é visível apenas em países “disciplinados”. Até mesmo os conflitos geopolíticos mais intensos (Rússia-Ucrânia, Oriente Médio) e as tensões comerciais globais (EUA vs. China, principalmente) fornecem uma estrutura para o desenvolvimento da adoção, do comércio e do uso de criptomoedas, tanto como uma forma de independência financeira, quanto como um porto seguro. Com a inflação se tornando uma preocupação global e a dificuldade de acesso a moedas estrangeiras em grande parte do mundo, o Bitcoin e outras criptomoedas (especialmente as stablecoins) aparecem como uma forma de se proteger contra a desvalorização e continuar a participar dos mercados globais, independentemente do que aconteça no país de origem.
Sabemos bem disso na América Latina, uma região em que vimos, em primeira mão, o aumento, não apenas da adoção, mas também da criação em ambientes de blockchain. O nível e a riqueza de talentos que os latino-americanos têm a oferecer nesse setor são inesgotáveis e aumentam nossa capacidade de resolver problemas.
Na Argentina, o primeiro ano do governo de Javier Milei também mostrou sinais muito promissores. Os mais específicos foram a inclusão de criptomoedas no blanqueo de capitais (processo que permite que as pessoas declarem às autoridades fiscais ativos anteriormente não registrados, para que esses possam ser usados legalmente no futuro, em troca do pagamento de um imposto reduzido) e a recente aprovação do ETF Cedears de Bitcoin à vista, que oferece exposição local a essas novas ferramentas financeiras vinculadas ao preço à vista do Bitcoin. Além disso, em uma visão mais geral, o foco do governo Milei em questões macroeconômicas foi fundamental, conseguindo estabilizar o preço do peso argentino, equilibrar os mercados de câmbio paralelos com o oficial e reduzir a inflação mensal, evitando o espectro de uma hiperinflação. Além disso, o governo está trabalhando em uma sandbox em desenvolvimento para a tokenização de ativos financeiros e Real World Assets. Isso poderia ter um impacto econômico notável e impulsionar o mercado de capitais argentino, que historicamente não teve grande relevância global.
O bull market já chegou
É hora de falar sobre o “elefante na sala”. Vamos falar sobre preços, porque esta será a primeira vez que começaremos um ano com o preço do Bitcoin acima de US$ 100.000, uma marca muito esperada que teve pouco tempo para ser comemorada, porque o BTC continuou e continua a estabelecer novos recordes. Em 17 de dezembro, ele estabeleceu outro novo ATH, como fez durante quase todo ano. Nesse caso, foi de US$ 108.268 – o pico até agora.
O início de 2024 já havia sido espetacular, com a aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista, toda a recuperação pré-halving e o pico de 74.000 em 14 de março, nove meses atrás. Após o quarto halving, em abril, o Bitcoin passou meses lateralizando, até que a vitória de Trump desbloqueou o mercado. Depois disso, já tivemos mais de 45 dias de novas altas, uma após a outra. Ainda faltam algumas semanas e acho que esse número pode continuar a aumentar este ano, especialmente depois do Natal. Embora já esteja nesse nível, a partir dos US$ 44.000 em que abriu o ano, a revalorização do BTC é de mais de 146% em 2024, e 156%, se contarmos exatamente 365 dias. Nesse período, o ouro subiu 30%, a prata 28% e o S&P 500 28%.
E volto ao Natal, porque, no final do ano, muitas pessoas em todo o mundo recebem bônus ou pagamentos extras que, desde a pandemia, têm sido cada vez mais usados para a compra de cripto. Além disso, muitas empresas estão se aproximando de seus fechamentos anuais e, aquelas que chegam com alguma liquidez, estão cada vez mais decidindo fazer algum tipo de investimento em cripto ou stablecoins.
O restante dos mercados
Entre os dez principais ativos com a maior capitalização de mercado, incluindo ouro e prata, o Bitcoin superou todos, exceto as ações da Nvidia, que subiram +174%. Seu desempenho foi melhor do que o da Apple (+25%), Microsoft (+20%), Amazon (+51%), Alphabet/Google (+53%), Saudi Aramco (-13%) e Meta/Facebook (+85%). Eis um fato interessante: se o Bitcoin tiver metade do desempenho em 2025 do que teve em 2024, ele se tornará o terceiro – ou, com um pouco mais de impulso, o segundo – ativo global por capitalização de mercado, atrás apenas do ouro e da Apple.
Quanto às principais altcoins, a Ethereum teve um aumento no seu preço de 77% e a Solana em espetaculares 204%, com rendimentos fabulosos também para a Tron (180%) e a Chainlink (104%). Entre as memecoins que já existiam em 1º de janeiro, temos DOGE (Dogecoin, 7º no mercado) com aumento de 335%, SHIB (Shiba Inu, 13º) com 189%, PEPE (21º) com mais de 1.700% e WIF (dogwifhat, 54º) com mais de 1.600%, ambas com rendimento impressionante. Em seguida, temos BONK (56º, +56%) e FLOKI (63º, +540%), para fechar o top 100 com MOG (Mog Coin, 100º) e seu aumento de mais de 8.900% em relação ao ano anterior. Também vimos quantas novas memecoins que surgiram este ano cresceram diretamente para alcançar o top 200 do mercado sem maiores problemas, como BRETT, PNUT, GOAT, NEIRO, GIGA ou BOME.
Paralelamente à tendência das memecoins, houve outro grande subsistema de tokens que marcou o ano: relacionados a projetos de inteligência artificial e os chamados agentes de IA, que usam machine learning e modelagem de IA para analisar informações e tomar decisões de mercado (como aixbt, Zerebro ou Divine/Chaos e disorder). E, ao longo do ano, também vimos o crescimento exponencial de redes de camada 1, como Sui (SUI, +175%), Stellar (XLM, +230%), Fantom (FTM, +223%) ou Algorand (ALGO, +102%). Além disso, no final do ano, o token HYPER, da novíssima rede Hyperliquid, apresentou um crescimento de mais de 700%.
O que 2025 reserva para nós
Os dados mostram que as quatro grandes narrativas, os quatro cavaleiros deste retorno cripto, foram o Bitcoin, as outras redes de camada 1 (incluindo Ethereum e Solana), memecoins e tokens relacionados à IA. Estou convencido de que esses mesmos vencedores de 2024 continuarão a se desenvolver ao longo de 2025, quando também veremos um novo boom na tokenização de ativos do mundo real (por isso que espero o crescimento do ecossistema de tokens relacionados à RWA), em redes físicas descentralizadas (DePIN) e em um campo que estava revivendo durante 2024 e está pronto para dar o salto: criptogaming.
Quanto ao Bitcoin, um dos gestos mais significativos na avaliação dos tempos em que estamos vivendo é que, de repente, a projeção de US$ 150.000 por Bitcoin até 2025 parece conservadora. Isso parecia tão distante no início de 2024, quando o Bitcoin precisava aumentar em mais de 240%. Já, em meados do ano, há projeções para 2025 entre US$ 250.000 e US$ 400.000 por Bitcoin. Hoje, essas metas podem parecer bastante altas, mas, se o comportamento do preço dos últimos doze meses se repetir, o Bitcoin atingiria consistentemente o nível de 250.000.
Acho que um preço entre US$ 150.000 e US$ 250.000 por Bitcoin é o mais provável para o pico deste ciclo. Mas, se a principal criptomoeda do mercado continuar nesse ritmo, acho que, em breve, terei de revisar minhas projeções. Ao passo que, com base nas especulações futuras, podemos pensar em Ethereum com aumentos significativos para US$ 5.000 ou US$ 7.000 por ETH, ou Solana em algum lugar entre US$ 700 e US$ 1.000 por SOL.
Se 2025 acabar sendo um ano marcante para a temporada de altcoin e o Bitcoin começar a se lateralizar por um longo período, o crescimento que se avizinha para o ecossistema cripto é espetacular. Porque os rendimentos que o Bitcoin já está proporcionando são espetaculares, e grande parte desse dinheiro começa a fluir pelo mercado, para as principais redes L1 e para os tokens de utilidade da DeFi, e depois para as altcoins de menor capitalização. As oportunidades estão acontecendo o tempo todo no contexto de um bull market.
Por outro lado, a proliferação de mais ETFs à vista de Ethereum, Solana e, eventualmente, de outras criptos também levará a uma aceleração na adoção corporativa, com mais empresas e instituições financeiras usando criptomoedas como investimento ou até mesmo em suas folhas de pagamento. Nesse contexto, não devemos ignorar as stablecoins, que, embora não tenham a volatilidade necessária para garantir lucros, oferecem previsibilidade como meio de pagamento e também proporcionam rendimentos passivos.
O bull market sempre leva a um boom nas tecnologias e possibilidades oferecidas por blockchains e redes descentralizadas. O aumento no uso e no comércio de tokens inevitavelmente leva à necessidade de melhorar a escalabilidade e a eficiência das redes, o que, ao mesmo tempo, leva não apenas a atualizações constantes nas principais redes, mas também ao surgimento de novas redes, protocolos e serviços com foco em algum tipo de solução para o “trilema” entre custo, velocidade e segurança.
Nesse sentido, também espero um grande ano para as redes de infraestrutura física descentralizada (DePin), com a evolução da Internet das coisas, a hiperconectividade e a interoperabilidade como carros-chefe. O boom da tokenização e da inteligência artificial, sem dúvida, impulsionará todo esse setor. De fato, a crescente integração entre IA e cripto pode gerar grandes saltos no ecossistema. Acredito que a outra grande área desse ciclo será a de ativos do mundo real tokenizados, uma nova forma de ferramentas financeiras que trazem liquidez, divisibilidade e escalabilidade para ativos reais, como imóveis, ações de uma empresa tradicional, uma mina de metal precioso ou uma colheita em escala.
Também não devemos negligenciar dois espaços clássicos do ecossistema, DeFi e NFTs. Os protocolos financeiros descentralizados são cruciais, tanto no bear, quanto no bull market. Especialmente quando são desencadeadas as alt seasons e os usuários e investidores começam a aumentar seu volume de negociações, swaps, remessas, depósitos de staking ou contribuições para pools de liquidez. Quanto às NFTs, vimos surgir coleções bem-sucedidas, especialmente em Solana, talvez a principal rede do novo paradigma no último ano e meio, com suas memecoins e séries NFT.
Agora, toda essa situação no mercado exerce pressão fora do ecossistema. Pessoas físicas e empresas fizeram sua escolha pelo Bitcoin e pelas criptomoedas. Os governos e as empresas também estão começando a fazer o mesmo. E isso leva à necessidade de um marco regulatório global mais claro, que possa proteger os usuários individuais e corporativos, mas que não sufoque os desenvolvedores e inovadores, empresas que prestam serviços e oferecem produtos de forma legal e segura. Os Estados Unidos certamente estarão na vanguarda disso, mas não devemos negligenciar o que pode acontecer na Argentina e em vários países das Américas e da Europa, com a implementação completa da regulamentação ainda pendente dos mercados de criptoativos.
O melhor ainda está por vir
No entanto, a tecnologia tem falado por si mesma há 15 anos, oferecendo uma alternativa concreta para os principais problemas financeiros de indivíduos e instituições. E, em 2024, o mercado voltou a falar, desta vez em alto e bom som. Desde a pandemia, nos acostumamos com o fato de que as criptos, além de terem sua própria lógica, também saem de tempos em tempos para precificar a realidade, para colocar um preço em determinadas notícias ou eventos, como guerras, eleições. Como um índice de informações, as criptomoedas também são cada vez mais levadas em consideração.
Todo esse contexto me leva a acelerar o sentimento de bullish de que falei no início. Os sinais estão explodindo em todos os lugares: máximas históricas de preços e de hash rate, uma inovação sem precedentes na história da humanidade, um contexto em que as criptos aparecem como uma alternativa cada vez mais necessária, em meio à inflação global e ao isolamento devido a conflitos geopolíticos. De fato, os relatórios mais recentes da Chainalysis mostram uma adoção recorde e, dentro desse contexto global de crescimento, temos a Argentina classificada como o 15º país em adoção, acima do Canadá, Tailândia ou China, por exemplo. Além disso, três outros países da América Latina, como Brasil, Venezuela e México, fazem parte desse Top 15.
Uma realidade que confirma os sonhos de Satoshi Nakamoto e de todos nós que nos juntamos a essa aventura há muitos anos. Sem ir mais longe, a Ripio já passou por três halvings de Bitcoin e está no setor há mais de 11 anos, oferecendo todos os tipos de produtos e serviços para pessoas e empresas, com foco em segurança e inovação constante. Desde um método de pagamento repleto de benefícios, como o Ripio Card, até a tokenização da folha de pagamento para empresas, passando por transações OTC e serviços corporativos da Ripio Business. Como uma empresa líder, a Ripio também está liderando a implementação de Crypto as a Service na região, oferecendo todos os tipos de integrações e implementações para que as empresas incorporem cripto em suas operações, seja por meio de APIs ou widgets para compra e venda e transferência de tokens, ou de rampas fiat para empresas que desejam oferecer cripto com pagamentos em moeda local.
Desde que fundamos a Ripio em 2013, passamos por todos os tipos de momentos, mas nenhum como este final de 2024, que deixou uma enorme quantidade de combustível no mercado, para um 2025 explosivo. Como sempre em cripto, o melhor ainda está por vir.