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Os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia

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Especialista fala o que motivou a invasão russa e como ela pode afeta a economia global

Após duas semanas do início do confronto entre Rússia e Ucrânia, o mundo se manteve atento às consequências que a ação poderia trazer para a economia mundial. Além da repercussão internacional, muitos outros efeitos poderão ser percebidos nos indicadores russos com as diversas sanções de instituições e nações ocidentais ao país.

Este cenário faz muitos pensarem: o que motivou um conflito que está gerando tantos prejuízos para ambos os lados?

O problema, que era apenas diplomático, se tornou uma verdadeira guerra entre Rússia e Ucrânia. Como explica o presidente da Fundação da Liberdade Econômica (FLE), Márcio Coimbra, “a raiz de tudo está em uma antiga adversidade local. Muitas eram as regiões que clamavam por independência”, disse ele.

Em contrapartida, Coimbra esclarece que a intervenção militar foi mascarada por uma ação de ajuda.

“A interferência russa surgiu como um apoio de paz, mas se mostrou, na realidade, como início de uma invasão militar”.

Completou.

Para além da visão estadunidense sobre o conflito, há uma toda uma história de desentendimentos entre os países ao longo de muitos anos. Como elucida o economista e mestre em Ciência Política, Ricardo Caldas, para o #38 episódio do podcast Liberdade em Foco, disponível no Spotify e no site da FLE.

“Houve uma ‘russificação’ das nações que fazem fronteira com o país – e não somente da Ucrânia. Nestas localidades, um contingente expressivo da população fala somente a língua russa e não a língua de seu país de origem”

Comenta o expert da fundação.

A barreira linguística gerou consequências políticas e econômicas já que o governo ucraniano tem promovido o idioma nacional. O que, segundo Caldas, fez com que os cidadãos de origem russa se sentissem aleijados de todos os processos sociais.

Mudanças no xadrez internacional

É um consenso entre os especialistas que os efeitos diplomáticos e econômicos do conflito serão sentidos em todo o mundo. Além de trazer à tona um problema histórico, o confronto também revela outros aspectos da relação atual entre o maior país do mundo e as outras economias globais.

O que é observado por Coimbra, “a invasão russa destaca uma nova ordem mundial onde os principais atores são os Estados Unidos, a Rússia e a China. Retirando da jogada as tradicionais nações europeias”, afirmou ele.

Desde o início da intervenção militar, pôde ser percebido, de acordo com o cientista político, um antigo preconceito estadunidense que vem desde o fim da Era Obama. A visão norte-americana ainda considera a Rússia apenas como uma potência local, ignorando a influência do kremlin pelo globo.

A suposição dos EUA foi comprada por outros países e os frutos desta concepção ficaram evidentes com a abstenção pública dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de socorro à Ucrânia. Fato este que deixou o governo Rússio livre para agir.

Apesar das sanções decretadas ao kremlin, a ação militar continua e o exército russo está avançando cada vez mais sobre o território ucraniano. A posição pode ser justificada, segundo o especialista, pelo desejo russo de manter seguras as suas fronteiras.

Como exemplifica Caldas, “a Rússia prefere o poder militar ao Direito Internacional”. A possibilidade de ingresso da Ucrânia na OTAN aumentou as tensões entre os países.

No entanto, não é de hoje que o posicionamento da Rússia se apresenta desta forma.

“Desde os antigos kremlins, o governo busca manter estados neutros em suas redondezas para que não apresentem uma ameaça à soberania russa”

Reiterou o cientista político.

Caldas aponta que as soluções para o problema de complicado histórico não devem apenas se basear em limitações à economia russa. Para ele, é preciso que ambas as nações cheguem a um ponto de equilíbrio entre suas relações já que o possível apoio militar dos países ocidentais à Ucrânia pode ser compreendido como um desequilíbrio neste relacionamento.

Efeitos na economia global

O atual cenário não só precede impactos futuros, como confirma situações que estavam acontecendo há algum tempo. O especialista comenta que, independente da situação entre Rússia e Ucrânia, têm se concretizado, nos últimos anos, um deslocamento da economia mundial do Atlântico para o Pacífico.

“A China já é a principal potência mercantil mundial e não os Estados Unidos. As importações e exportações chinesas já superam o comércio internacional estadunidense. Fora o crescimento de países como o Japão e a Coreia do Sul”

Assegurou ele.

Além disso, as nações asiáticas são dependentes de matérias primas e a Rússia é uma grande exportadora de commodities, como o petróleo e o gás. Com a crescente inflação russa, o custo dos combustíveis pode subir em todo o mundo.

No Brasil, os resultados também serão sentidos no bolso do consumidor. Com o aumento do preço global do petróleo, a Petrobrás, nossa principal empresa no ramo, pode seguir a tendência mundial, visto que ela utiliza os indicadores internacionais para precificar a produção brasileira.

“A estatal pode transferir este aumento para o preço dos combustíveis”

Reitera Caldas.

“Isso vai criar uma reação em cascata na economia nacional, em que os preços de todos os demais produtos adquiridos pelo consumidor brasileiro podem aumentar num contexto em que o nosso comércio nacional ainda é muito dependente do transporte rodoviário”

Analisa ele.

Fora isso, a inflação também será um grande problema para 2022. O engodo, que não foi resolvido pelo governo brasileiro em 2021, corre o risco de continuar ao longo deste ano. Fato que pode se repetir não somente no Brasil, mas na economia global. Fazendo deste um ano marcado pela recessão.

“A médio prazo, o conflito, na minha opinião, pode afetar o comércio internacional, tanto do ponto de vista das exportações, quanto das importações de bens e refrear o crescimento da economia mundial”

Expôs Coimbra.

A invasão russa à Ucrânia desestabiliza as suposições para a conjuntura econômica em todo o mundo.

“Qualquer previsão feita pela Organização Mundial do Comércio (OMC) no início do ano, precisa ser revista em função do conflito que certamente afeta as cadeias logísticas de commodities em todo o mundo”

Conclui Caldas.

Sobre a FLE

A Fundação da Liberdade Econômica (FLE) é um centro de pensamento, produção de conhecimento e formação de lideranças políticas. É baseada nos pilares da defesa do liberalismo econômico e do conservadorismo como forma de gestão. Criada em 2018, a entidade defende fomentar o crescimento econômico, dando oportunidades a todos. Nesse sentido, investe em programas para a formação acadêmica, como centro de pensamento e desenvolvimento de ideias. Ao mesmo tempo, atua como instituição de treinamento para capacitar brasileiros ao debate e à disputa política.