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- Cerca de 35% dos potenciais estudantes deixaram de ingressar no ensino superior em 2024 devido aos gastos com apostas on-line
- O desvio de renda para jogos de azar prejudica o consumo, principalmente no setor de varejo, onde o impacto negativo é mais evidente
- A falta de regulamentação eficiente no Brasil permitiu a proliferação de sites de apostas, com novas medidas sendo planejadas para conter o problema
O crescimento das apostas on-line tem impactado diretamente o acesso ao ensino superior no Brasil. Dessa forma, com um número crescente de potenciais estudantes desistindo de cursar uma graduação devido ao comprometimento de suas rendas com jogos de azar. De acordo com uma pesquisa encomendada por instituições privadas de ensino, cerca de 35% das pessoas que planejavam iniciar um curso superior em 2024 e não o fizeram. Assim, redirecionando seus recursos para plataformas de apostas virtuais, como bets e cassinos on-line, incluindo o popular “jogo do tigrinho“. A pesquisa, conduzida pela Educa Insights, aponta que esse fenômeno afeta aproximadamente 1,4 milhão de pessoas.
“Os grupos educacionais agora têm as bets como um novo concorrente”, afirma.
O impacto, portanto, é ainda mais acentuado entre as famílias de baixa renda. Para aquelas com renda per capita de até R$ 2,4 mil, a taxa de desistência chega a 39%. E, entre as famílias com renda de até R$ 1 mil per capita, o percentual salta para 41%. A pesquisa entrevistou 10,8 mil pessoas de diversas classes sociais e regiões do país, todas interessadas em ingressar no ensino superior privado.
Preocupação das instituições brasileiras de ensino superior
As instituições de ensino superior têm demonstrado grande preocupação com essa tendência. A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) decidiu investigar mais a fundo a questão, o que resultou na contratação do levantamento. Já havia uma suspeita, discutida entre acionistas do setor, de que os jogos de azar poderiam estar interferindo nos resultados de captação de alunos. A confirmação dessa hipótese abre um novo desafio para o setor educacional privado.
“O setor sempre trabalha em prol do seu crescimento, nunca contra outras formas de investimento. Mas, nesse caso, vamos discutir uma entrada no debate da regulamentação”, antecipa Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
Magnho José, presidente do Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR), destacou que o Brasil enfrenta um “hiato regulatório” no setor de apostas. O que favoreceu a proliferação de sites de jogos que operam sem qualquer controle sobre os apostadores. Ele ressaltou que novas regras serão implementadas, incluindo limites diários de gastos, reconhecimento facial para cadastro de usuários e o registro oficial de empresas autorizadas a operar no país. Essas medidas, contudo, visam conter o impacto do jogo excessivo, mas os cassinos on-line, amplamente criticados por estimular o vício, continuarão em funcionamento.
“Eles estão fazendo um verdadeiro estrago nesse mercado, mas essa operação selvagem vai acabar no dia 1º de janeiro de 2025”, aponta.
A magnitude do mercado de apostas no Brasil é expressiva. Segundo um estudo da PwC, o setor movimentou cerca de R$ 100 bilhões em 2023, o que equivale a aproximadamente 1% do PIB nacional. Nas famílias de baixa renda, os gastos com apostas representam 76% das despesas com lazer e cultura, além de consumirem 5% do orçamento destinado à alimentação. Diversos setores da economia, especialmente o varejo, têm observado o impacto negativo no consumo causado por esse desvio de recursos.
Novo cenário e nova concorrência
Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central e cotado para assumir a presidência da autarquia, mencionou recentemente que o aumento da renda no país não tem se refletido em maior consumo ou poupança das famílias, e que um possível fator para isso são os gastos com jogos on-line.
O IBGE também reportou uma diferença significativa entre os rendimentos de trabalhadores com e sem ensino superior. Em junho de 2023, a média salarial de quem possuía graduação era de R$ 7 mil, quase três vezes superior aos R$ 2,4 mil recebidos por aqueles sem diploma universitário.
Diante desse cenário, as instituições de ensino superior se veem desafiadas a combater esse novo obstáculo. A prioridade agora é encontrar maneiras de reconquistar os estudantes que estão sendo atraídos pelas apostas, a fim de garantir que o ensino superior continue acessível e valorizado em um país onde a educação é chave para a mobilidade social.
“Cursar o ensino superior não é uma aposta, é certeza. Educação e trabalho duro são os únicos caminhos para o sucesso. Esses apostadores estão muitas vezes alimentados pela ilusão e vício. Por isso, é preciso regulamentação e campanhas de conscientização”, defende Niskier.
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