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Chegamos ao fim de uma das campanhas mais polarizadas da história de nosso país, onde radicalização e raiva se tornaram elementos centrais. O povo brasileiro respaldou essa narrativa votando em massa nos candidatos proporcionais e majoritários alinhados com esta realidade. Longe de discutir soluções para o país, o eleitor votou com o fígado, carregando a rejeição como elemento norteador de sua decisão.
A boa política passou ao largo deste pleito e todo aquele que preferiu discutir temas relevantes na agenda nacional foi rejeitado pelo eleitor, que optou pela discussão vazia e carregada de ódio. O preço a ser cobrado será alto.
Fato é que estamos diante de dois modelos, em tese, antagônicos, mas que fizeram a mesma opção por uma política de cunho populista no governo. Com Lula, de maneira mais tímida, com a adoção do Bolsa Família como instrumento eleitoral, e Bolsonaro de forma escancarada com o orçamento secreto e o Auxílio Brasil. Ambos descobriram, à sua maneira, que o atalho para os votos no Brasil dialoga com o assistencialismo popular e o clientelismo parlamentar.
Bolsonaro foi além. Encaixou um discurso de conservadorismo tropical voltado para os evangélicos de cunho neopentecostal. Algo que tenta ressignificaro conservadorismo pelo caminho do populismo, mesmo que ambos tenham, em sua essência, conceitos distintos, inclusive antagônicos. Conservadorismo significa políticas perenes, prudência, cautela e governantes moderados e ponderados. Nada que dialogue de forma direta com o bolsonarismo, um modelo oposto, que opta pela ruptura e a política do conflito.
Curiosamente o jogo de Bolsonaro acabou abrindo espaço para Lula pelo centro, lugar desconfortável para quem sempre jogou pelas pontas. Para ele sobrou apenas os campos da moderação, ponderação e da prudência. Isso explica sua dificuldade neste tabuleiro eleitoral, pois mesmo tendo recebido apoios do centro político, transita em território desconhecido, uma vez que Bolsonaro ocupou parte de seu campo de jogo. Sua chance de vitória passa pela memória dos mais pobres, das famílias vítimas da covid-19 e dos apoios recebidos pelo centro.
Seja Bolsonaro ou Lula, o próximo Presidente terá apoio no Congresso Nacional. O Brasil possui um parlamento que se move ao sabor do governo de plantão e saberá, por intermédio do centrão, tornar-se aliado estratégico daquele que estiver ocupando o Planalto. Infelizmente, no Brasil, a conveniência fala mais alto do que as ideologias e da mesma forma que o centrão se moveu da base de Lula para Bolsonaro, em caso de vitória da oposição, o caminho trilhado será o inverso.
Enfim, terminamos uma campanha onde perdeu-se a oportunidade de discutir que modelos de políticas públicas são mais adequados para o país, que caminhos o Brasil precisa adotar em termos de saúde, educação e segurança, as reformas necessárias para ajustar a nação para rumos melhores. Infelizmente, uma oportunidade perdida. Aquele que sentar na cadeira de Presidente terá enormes desafios e o primeiro deles será a pacificação de um país rachado e radicalizado, deixando a eleição para trás. Apesar do eleitor ter rejeitado a moderação, este é o único caminho viável para o Brasil.
Por Márcio Coimbra, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.
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