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Na semana passada, a cotação do dólar passou dos R$ 5, a maior alta desde o mês de março deste ano. A moeda americana apresentava uma leve queda, e muitos se perguntam o que aconteceu para essa subida inesperada. Segundo a economista e professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich, a alta foi impulsionada por uma combinação de fatores, tanto externos quanto internos.
No cenário externo, os investidores estão preocupados com a possibilidade de uma recessão global, o que levou a uma busca por ativos seguros, como o dólar. A guerra na Ucrânia, a inflação em alta e os aumentos das taxas de juros pelo Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, estão contribuindo para esse cenário.
Além disso, os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, divulgados no dia 3 de outubro, mostraram que a economia americana está mais forte do que o esperado, o que reforçou as apostas de que o FED continuará a elevar os juros em um ritmo agressivo
“No cenário interno brasileiro, a alta do dólar foi alimentada pela incerteza política e econômica. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está enfrentando uma série de desafios, incluindo a inflação que está tendo um pico sazonal, devido ao cenário externo e o aumento da dívida pública”, afirma a docente.
A especialista afirma que a alta do dólar também pode ser vista como um sinal de que os investidores estão perdendo confiança no governo brasileiro, preocupados com a capacidade do governo de controlar a inflação e a dívida pública.
“Isso pode ser um problema para o governo, pois dificulta o acesso a financiamento externo e pode levar a uma fuga de capital”, acrescenta Nadja.
A professora da FECAP lembra de recentes declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: a inflação brasileira está benigna, mas a questão fiscal é um ponto de atenção. Segundo Campos Neto, o nível de gastos do governo brasileiro está mais alto do que o de outros países emergentes e desenvolvidos, e isso é um fator de preocupação para os investidores. O presidente do BC também afirmou que o mercado acredita que os números fiscais do governo serão piores do que o esperado, o que pode pressionar a inflação.
“No que diz respeito à Bolsa de Valores, houve uma queda de 1,42%, a alta do dólar influenciou principalmente a queda das ações de empresas varejistas que já não vêm apresentando um bom desempenho. Essas empresas, que são altamente alavancadas e dependem de crédito externo, são mais sensíveis a mudanças na taxa de juros e no câmbio”, pontua Nadja.
ENTENDA O SOBE E DESCE DO DÓLAR
O preço do dólar é expresso por meio da taxa de câmbio, que nada mais é do que a taxa de troca entre duas moedas diferentes. Quem oferta a moeda estrangeira são as instituições que trazem o dinheiro para o País. Pode ser o investidor, o turista, ou o exportador brasileiro que vendeu lá fora e está recebendo em dólar: todos os atores econômicos que têm recebimentos no exterior e trazem a moeda para cá.
Segundo a professora Nadja Heiderich, nós usamos o dólar como principal moeda para transações com o exterior. O mercado cambial é um mercado como outro qualquer, onde há a oferta e a demanda. Pela união entre oferta e demanda, a gente tem o valor dessa moeda, que é expresso pela taxa de câmbio.
“Eles estão vindo para o Brasil e precisam trocar essa moeda estrangeira. Quem demanda dólar são todas as pessoas que têm obrigações no exterior que precisam trocar reais por dólar para tirar o recurso daqui: uma pessoa que precisa pagar um empréstimo, o importador que precisa pagar em moeda estrangeira, ou o investidor que vai tirar recursos do País”.
E é pelo movimento entre oferta e demanda que temos o valor da moeda. Quanto mais pessoas precisam de moeda estrangeira e sai uma notícia (como medidas econômicas ou crises) que faz os investidores tirarem dinheiro do Brasil por medo do risco de perder investimentos, naturalmente a taxa de câmbio sobe. Por outro lado, se há fluxo mais constante de entrada de dólar no País, a taxa de câmbio baixa.
O valor da moeda americana tem impacto diretamente sobre produtos importados. Outro aspecto é que o dólar aumenta o custo de serviços e da produção de empresas que dependem de insumos importados, afetando toda a cadeia econômica.
Por outro lado, exportadores se beneficiam de taxa de câmbio ao vender seus produtos lá fora. No momento da conversão em reais, recebem mais pela produção. O produto nacional fica mais barato e competitivo lá fora, beneficiando certos setores exportadores aqui dentro.
O ‘brasileiro comum’ vai se sentir afetado por conta de produtos importados que serão mais caros. Itens importados pelo Brasil, como a gasolina, também afetam vários preços. Pode haver repique da inflação, conforme o quanto esses itens representam no consumo dos brasileiros.
Quando há um movimento de brusca elevação, o Banco Central age por meio de swaps cambiais, vendendo a moeda estrangeira para tentar conter a elevação dos preços.
“O regime cambial brasileiro é de flutuação suja, onde a taxa de câmbio é definida pelo mercado, mas o Banco Central interfere para evitar valorização ou desvalorização excessiva. Mas é claro que ele precisa fazer isso com cautela, porque, se sinaliza ao mercado que em qualquer elevação ele vai injetar dólar, os especulares podem articular um movimento chamado de ‘ataque especulativo’ para fazer com que o BC queime as reservas internacionais. Não é sempre que o BC entra no circuito, mas busca fazer isso em momentos críticos”, pontua.
A especialista: Nadja Heiderich é Doutora em Ciências (Economia Aplicada) na Universidade de São Paulo. Possui mestrado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo (2012). Graduada em Ciências Econômicas pela FECAP (2008). É professora no Centro Universitário FECAP. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, modelagem matemática, logística, agronegócio.
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