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É hora de a vida imitar a arte

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Apesar de avanços relevantes nos 200 anos da Independência, que transcorrem em 2022, em especial na construção do sistema de proteção social mais abrangente dentre os países emergentes com grandes populações, o Brasil segue apresentando problemas crônicos, que limitam seu crescimento e impedem sua ascensão ao patamar de economia de renda alta.

Os obstáculos são conhecidos, como um Estado maior do que o suportável para a Nação, insegurança jurídica, excesso de impostos, burocracia e outros fatores que cerceiam nossa competitividade e aumentos de produtividade. Urge, portanto, estruturarmos um plano eficaz de desenvolvimento de médio e de longo prazo.

Teremos um ano politicamente ruidoso, devido às eleições de outubro, para deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República.

Entretanto, o grau de polarização e, sobretudo, de incontinência verbal do embate partidário e ideológico não deve transcender ao saudável e necessário debate de ideias, que é uma das principais virtudes da democracia.

Para esta, que representa o melhor regime encontrado pela humanidade para estabelecer a governabilidade das nações, a postura republicana é fundamental.

Precisamos cuidar para que o tom exacerbado das discussões não crie ruídos intransponíveis e impeça a visão clara sobre alguns consensos prioritários, como a necessidade de o setor público ter as contas equilibradas, gastos e investimentos muito bem dirigidos, para atender às necessidades prioritárias da sociedade.

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Estado e iniciativa privada devem manter-se sinérgicos na busca do desenvolvimento, sendo que o primeiro deveria trabalhar com grande empenho pelo estabelecimento do melhor ambiente de negócios possível, com o máximo de previsibilidade e segurança jurídica.

Afinal, os investimentos e iniciativas dos empreendedores são muito atrelados à realidade presente e futura. Regras mais estáveis são imprescindíveis, inclusive para o enfrentamento do inesperado, como a pandemia.

O Brasil vem perdendo sistematicamente o bonde da história. Nossa indústria caiu do 10º para o 14º lugar no mundo. A década 2011-2020 foi praticamente perdida e regredimos em termos de renda per capita.

É preciso agir e reagir, num ano em que as eleições abrem a oportunidade da apresentação e debate democrático de boas propostas, marcado pelo instigante transcurso do Bicentenário da Independência.

Trata-se de um momento muito propício para projetarmos o Brasil de, pelo menos, vinte anos à frente, com um planejamento eficaz, com as devidas revisões exigidas pela dinâmica nacional e global.

Os pilares fundamentais desse processo passam por educação, saúde, segurança, ciência, tecnologia, sustentabilidade ambiental e redução das desigualdades sociais, que são históricas, mas se exacerbaram nesses dois anos da crise da Covid-19.

Para o êxito nessas metas, é decisivo o resgate da indústria. O Brasil não pode ser apenas o país da agropecuária, que tem enormes méritos, mas não conseguirá sustentar sozinha nossa economia. Sem a manufatura, não teremos crescimento do PIB e criação de emprego nos níveis necessários para a inclusão massiva.

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Estamos entrando em um novo ano, mas tudo continuará igual se não nos dispusermos a promover verdadeiramente os avanços necessários, com uma postura individual e coletiva mais proativa, objetiva e focada na solução prática dos problemas.

O bicentenário também será apenas um marco histórico se não aproveitarmos para fazer um balanço e estabelecermos propostas concretas. É isto que se espera dos candidatos à eleição e reeleição em 2022, em especial dos postulantes à presidência da República e governos estaduais, que devem apresentar planos bem elaborados, exequíveis e consistentes.

São necessárias propostas capazes de sensibilizar os representantes das cerca de 30 legendas representadas na Câmara dos Deputados e Senado.

Quanto mais complexo e numeroso for o ecossistema partidário, mais substantivas, viáveis e, portanto, convincentes devem ser as plataformas administrativas. Mesmo com as novas cláusulas de barreira para a representatividade de uma agremiação no Parlamento, continuaremos com número elevado de agremiações nas duas casas.

Prefeitos, governadores, presidente da República e parlamentares precisarão, mais do que nunca, ter uma visão clara do futuro e se comunicar muito bem com a sociedade, para levar adiante os projetos prioritários.

Duzentos anos depois do Grito do Ipiranga, precisamos converter a Independência em desenvolvimento sustentável e sustentado, com crescimento mínimo anual de 3% a 4% ao ano, mudando nossa realidade continental, sintetizada no índice Competitividade 4.0, criado pelo Fórum Econômico Mundial.

Trata-se de um indicador com 12 pilares, como solidez de instituições, infraestrutura, situação da tecnologia de informação e comunicação, estabilidade macroeconômica, educação e capacidade de inovação.

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O ranking tem 142 nações e, mesmo antes da pandemia, só duas da América Latina estavam entre as 70 melhores: Chile (33º) e México (48º). Todas as demais, incluindo o Brasil, encontravam-se entre as 72 piores.

Muitos são céticos, diante das turbulências intermitentes de nossa história de dois séculos como povo livre, quanto à possibilidade de nosso país promover mudanças concretas.

Contudo, outro marco histórico de 2022 — o Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 — demonstra que somos muito capazes. Afinal, o disruptivo movimento promoveu transformações profundas na cultura, na estética e no pensamento dos brasileiros.

Já passou da hora de acreditarmos no que dizia o poeta, escritor e dramaturgo irlandês Oscar Wilde: “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Podemos sim!

*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).


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